Certa vez, enquanto limpava o pó, ouvi na rádio a Rita
Blanco dizer que ser mãe a fez sentir-se mais pessoa. Nada a ver com o
Fernando, entenda-se (a propósito, a feira do livro de Lisboa está aí, é tomar
nota, arranca dia 1 de junho), mas limpava então o pó quando oiço a Rita Blanco
dizer aquilo. Foi há mais de muito tempo, eram as minhas próprias filhas tão
pequeninas que com certeza dormiam a sesta para andar eu na faxina, caso contrário
mãe isto e mãe aquilo, não dava. A Rita Blanco era já, ao momento em que fui
buscar o pano do pó ao armário pensando vou limpar o pó, era já, dizia, pessoa do meu
agrado desde as noites da má língua, que eu nesse
tempo via um nadinha de televisão. Mesmo com a voz estridente da Júlia
Pinheiro, eu via. Por causa da Rita Blanco e dos outros, era o Rui Zink, e o Manuel Serrão, parece que estou a vê-lo, há que anos que foi, e ainda o Miguel Esteves
Cardoso, de quem eu só gostava às vezes, ele era demasiado disruptivo para mim só que na altura não se sabia desta palavra disruptivo. Mas
parei. O pano do pó não me caiu da mão, eu é que fiquei ali a ouvir o resto da
conversa que vinha do rádio muito quietinha. Sintonizei-me, portanto, ainda mais com a Rita
Blanco, ela nem sonha, sabe lá que eu existo (nem eu às vezes tenho a certeza de
existir). Tornei a vê-la muito depois no maravilhoso filme denominado “A
Gaiola Dourada” que levou a minha caçula, aí já a deitar corpinho crescido, a comentar à saída do cinema “Mãe, tu
choravas que nem uma Margarida”. É Madalena, corrigi, mas então a rir.
Isto tudo porque me deu logo hoje para pensar ah e porque
não um cineminha quando acabar o trabalho? Fui ver que tal de exibições e encontrei
de novo a Rita Blanco anunciada num trailer, ora deixa cá ver, é Fátima. Fátima. Em 2017, maio a
querer chegar lá o mais cedo possível, mas que maio tão cheio vai ser este
nosso. Vi as salas, os horários disponíveis, variedade não falta e depois a
data de estreia. Estreou há dois dias o Fátima. Pá... pensando bem, neste quase maio
cem anos depois, não. As salas vão estar cheias de pipocas. Fechei a janela do
computador onde consultava a informação, sacudi a ideia da cabeça, tornei
ao trabalho e depois mais nada para dizer. Tirando isto: lá para o final do ano, maio passado, Fátima devolvida ao seu sossego, já de novo
esquecida, e o filme em exibição numa sala perto de mim. Tipo a minha. É completamente
pipocas-free.