Como
queria pegar ao trabalho o mais cedo possível, fui caminhar ainda o relógio andava pelas seis e tal, quase sete. Já fora da aldeia, onde a manhã se encheria de quietude não fosse a primaveril sinfonia dos pássaros, num tímido ramal de terra e
muita erva fresca a estender-se a partir do caminho principal na direção do vale, está uma corça macho de porte bastante jeitoso e galhardas hastes, ali toda a
olhar para mim como se eu fosse um bicho. Parei a apreciar-lhe a beleza natural quase sem respirar,
mas o bicho, ele sim, achou melhor dar meia volta e correr para dentro do
bosque de eucaliptos o mais depressa possível, não fosse eu trazer algumas ideias maléficas. Talvez tenha ido chamar reforços, porque muitos minutos depois, quando eu
já venho no regresso, estão três exemplares estacionados no meio do tal caminho
principal, utilizado pelo carro do padeiro inclusive, ali como se em amena corçaqueira,
que é a cavaqueira das corças. De novo parei para observar o espetáculo que me
estava sendo dado pela segunda vez na mesma manhã e agora em triplicado, mas os
atores optaram por abandonar o teatro das operações e correram outra vez o mais
depressa possível para dentro do bosque de eucaliptos onde um ou outro carvalho
ainda marca presença no meio da paisagem.
(benditos aqueles que, após os cervídeos terem sido extintos pelos caçadores no final do século passado, introduziram uma centena destes animais na serra da Lousã e agora são aos milhares e encantam-me muito - não sei a quem devo agradecer, mas gostava muito)