Comecei a ler Ken Follet depois de Domingos Amaral. Com um desconhecido Mia Couto pelo entremeio. Que é uma espécie de tempero, dar um tonzinho, puxar ao surreal.
Entrei no ano a optar por isto assim muito novo: dispensar a posse de livros, porém lendo-os. Então pus-me, num húmido sábado de janeiro, a caminho da pequena biblioteca municipal. Ela recebeu-me com as portas envidraçadas do estilo braços abertos, amplos, envolvendo-me logo naquele tanto silêncio. Ao balcão eu disse o nome e a idade, mostrei identificação. Daí sorriram-me e deram-me sins e podes. Também um cartão de papel grosso, um número lá manuscrito e o meu nome. Próprio.
Percorri o espaço pontuado de alusões ao conterrâneo que, em tempos, fez obra digna de conferir nome à pequena biblioteca. Ali como que a cuidar dos livros, do seu repouso entre leituras. Reparei que a linha de saramagos tem os exemplares muito manuseados, embora não tanto como os da linha de josés rodrigues dos santos. Esses mal se teriam de pé não fosse ampararem-se uns aos outros.
E então descobri o que não esperava: a liberdade de trazer todos os livros que eu quisesse (num máximo de seis... de cada vez), autores que nunca comprei mas queria experimentar. Todas as possibilidades, quer dizer, os tais sins, os podes, sem amarras com, um, orçamento disponível e, dois, espaço nas prateleiras. Estou completamente radiante! Trouxe apenas três porque sei da minha lentidão. Portanto agora passeio os "meus" livros etiquetados de códigos cifrados, identificativos de prateleiras, secções, como se orgulhosos do seu lugar, entre Lisboa e Coimbra, dos arredores de uma para os arrabaldes da outra. Estes livros não enjoam no tal do flixbus nem se assustam com as travagens e as pressas, conhecem o chilrear de todos os pássaros de lá naturais, o cheiro das lareiras no inverno e, acredito, o florir das acácias mimosas que, este ano, veio mesmo no seu tempo.