tag:blogger.com,1999:blog-79287628290142603142024-03-13T10:03:32.772+00:00a voz a soltaSusana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.comBlogger974125tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-73152311802262713522024-03-08T19:55:00.001+00:002024-03-08T19:55:40.114+00:00CoisinhaNão sei mas <div>Se eu disser<div>Ao meu lado vai um preto lindo</div><div>Estou a ser racista</div><div>Se eu disser</div><div>Ao meu lado vai um homem lindo</div><div>Estou a ser sexista</div><div>Se eu disser </div><div>Ao meu lado vai uma pessoa linda </div><div>Estou a ser pessoista</div><div>Se eu disser</div><div>Ao meu lado vai algo lindo </div><div>Estou finalmente a ser (quase) inclusiva</div><div>Só fica de fora o nada e eu</div><div>Estou a ser </div><div>nada.</div><div>Quer dizer, </div><div>que linda estou a ser.</div></div>Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-26175266070446891062024-03-08T06:47:00.002+00:002024-03-08T18:05:52.016+00:00E está calorzinho com o aquecimento ligadoTenho um gato quase todo preto e enrolado no colo, tenho um livro novinho a ler com a lombada pintada em azul, tenho o cabelo pintado mas não de azul (como devia), e sim castanhinho.<div>Tenho o estômago a guinchar de fome, tenho oito quilos a mais, tenho um trabalho do espaço dois mil e vinte e quatro para entregar às onze horas, toma lá onze horas. </div><div>Tenho medo do vizinho novo que põe ameaças nas caixas do correio, tenho duas filhas com olhos grandes e todas grandes, são duas ou muitas, também tenho amor pelas flores e pelo veado que na segunda-feira pela manhã comia erva do chão que eu quase pisava e tenho</div><div>o livro de coutos do mia conto para entregar na Biblioteca. </div><div>(penso que ele não se importa) </div>Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-16747692543033317872024-02-18T08:50:00.007+00:002024-02-18T08:50:59.923+00:00Então e hoje?<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgg76oxSY-utqsMMuCg8hvsLXdz7cvUtHeimCxLw6Gz4Iz1n7Y4cME4o61pT8WF1uhi5qV3HVWOJMmNWKWOvpqq2bNccOLNBRK4X9tP3o0zTbD9hKypPO_6wvNqsP4QKNRFhAk_xK9zqT9gCbYRV6EB0U5E_dLqpVuEY32r-q2xtQBdiMuVyKTPtDlZKac/s1664/IMG_20240218_074643_40.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1664" data-original-width="1248" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgg76oxSY-utqsMMuCg8hvsLXdz7cvUtHeimCxLw6Gz4Iz1n7Y4cME4o61pT8WF1uhi5qV3HVWOJMmNWKWOvpqq2bNccOLNBRK4X9tP3o0zTbD9hKypPO_6wvNqsP4QKNRFhAk_xK9zqT9gCbYRV6EB0U5E_dLqpVuEY32r-q2xtQBdiMuVyKTPtDlZKac/w300-h400/IMG_20240218_074643_40.jpg" width="300" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">Saudades da câmara melhorzinha (que foi roubada e já não se fabrica daquelas). É que os telemóveis sinceramente. É assim muito ao longe, bem mauzinho. Mas enfim, pelo menos percebe-se que não se trata de gatinhos.</div><p></p>Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-80173124651652062922024-02-17T17:20:00.003+00:002024-02-18T08:36:04.601+00:00Da velhinha série o que vês da tua janela e assim<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNK05STrsRitJBk0nKA5RyOoGsjzV16duUamMnndHqnEiDVAJne2DYYzRMWkNpaMtv13N2GOPJB0QoCVmYUh0m8bBqwtmnnKtprrwBUfLg8mpmQrf5BJDGHzlkfQQslRS7oeiccR9cYM63szfe_MmLO5HweJZQDhNbBgTICNPDEFo9bELPwJe6qC9qTY0/s1664/IMG_20240217_171222_40.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1664" data-original-width="1248" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNK05STrsRitJBk0nKA5RyOoGsjzV16duUamMnndHqnEiDVAJne2DYYzRMWkNpaMtv13N2GOPJB0QoCVmYUh0m8bBqwtmnnKtprrwBUfLg8mpmQrf5BJDGHzlkfQQslRS7oeiccR9cYM63szfe_MmLO5HweJZQDhNbBgTICNPDEFo9bELPwJe6qC9qTY0/w300-h400/IMG_20240217_171222_40.jpg" width="300" /></a></div><br /><div>Mas não se compreende o prémio: uma pessoa entra e sente-se no balcão do talho ou no bloco operatório. E depois a pessoa senta-se, pronto. </div>Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-91183201522123485012024-02-15T07:27:00.008+00:002024-02-15T21:51:55.754+00:00António ArnautComecei a ler Ken Follet depois de Domingos Amaral. Com um desconhecido Mia Couto pelo entremeio. Que é uma espécie de tempero, dar um tonzinho, puxar ao surreal.<div>Entrei no ano a optar por isto assim muito novo: dispensar a posse de livros, porém lendo-os. Então pus-me, num húmido sábado de janeiro, a caminho da pequena biblioteca municipal. Ela recebeu-me com as portas envidraçadas do estilo braços abertos, amplos, envolvendo-me logo naquele tanto silêncio. Ao balcão eu disse o nome e a idade, mostrei identificação. Daí sorriram-me e deram-me <i>sins</i> e <i>podes</i>. Também um cartão de papel grosso, um número lá manuscrito e o meu nome. Próprio.</div><div>Percorri o espaço pontuado de alusões ao conterrâneo que, em tempos, fez obra digna de conferir nome à pequena biblioteca. Ali como que a cuidar dos livros, do seu repouso entre leituras. Reparei que a linha de saramagos tem os exemplares muito manuseados, embora não tanto como os da linha de josés rodrigues dos santos. Esses mal se teriam de pé não fosse ampararem-se uns aos outros.</div><div>E então descobri o que não esperava: a liberdade de trazer todos os livros que eu quisesse (num máximo de seis... de cada vez), autores que nunca comprei mas queria experimentar. Todas as possibilidades, quer dizer, os tais <i>sins,</i> os <i>podes</i>, sem amarras com, um, orçamento disponível e, dois, espaço nas prateleiras. Estou completamente radiante! Trouxe apenas três porque sei da minha lentidão. Portanto agora passeio os "meus" livros etiquetados de códigos cifrados, identificativos de prateleiras, secções, como se orgulhosos do seu lugar, entre Lisboa e Coimbra, dos arredores de uma para os arrabaldes da outra. Estes livros não enjoam no tal do flixbus nem se assustam com as travagens e as pressas, conhecem o chilrear de todos os pássaros de lá naturais, o cheiro das lareiras no inverno e, acredito, o florir das acácias mimosas que, este ano, veio mesmo no seu tempo.</div>Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-32414180623801524562024-01-21T04:54:00.004+00:002024-01-21T05:02:26.634+00:00Os apitos da dona eletrónicaAmadurecida há que tempos na insónia orientada a sul, desejei encharcar-me numa belíssima laranja de mesa (a explicação colhida em Que pressa é essa, João Vaz de Carvalho). O inverno, ao invés, aconchegando-se em parte na escuridão, entrega os silêncios gelados entre as zero e as sete.<div>Sem saber, tínhamos a comida estragada por uma trovoada à deriva, talvez nomeada, também capaz de agitar o eucaliptal muito senhor em projeto de pasta e de papel assinado. <br /><div>O meu problema não é a saudinha, ou sequer o dinheiro. O meu problema é pequenininho. </div></div>Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-67928309105617736632024-01-19T07:47:00.002+00:002024-01-19T07:49:25.253+00:00CírculosUm dia ficarei só para os livros. Abandonarei o horário, e portanto os atrasos de vida, deixarei de ouvir o sino da igreja (que foi entretanto reparado). E de circular pela chuva ou almoçar mais cedo. Um dia serei essencialmente simples. Talvez escreva antes ou depois de jantar, não pretendendo resolver os problemas do prédio.<div>Mas por enquanto são sete e meia e, ao fundo da rua onde trabalho, há um café. Dentro, o ecrã televisivo ocupa uma grande parede e passa, em círculos, insufladas, as notícias mais chocantes dos últimos dias. À saída, com a boca morna do café quente, antes de enfiar a cabeça na chuvinha que se ouve cair na rua, podemos tornar a esfregar os sapatos no capacho exausto. </div>Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-16796574020382792412024-01-03T21:40:00.004+00:002024-01-04T07:36:26.674+00:00Nossa! os três pastorinhosEm Fátima, na rua onde circula este autocarro, há iluminações de Natal que brilham contra o negro da noite de janeiro. Têm a forma de um ondulado substancialmente vertical, encimado por uma estrela e acolhendo nas suas concavidades três bolas que, lentamente, mudam de cor. Olhando-as por entre os bocejos que me saem do sono, ponho-me a adivinhar o caderno de encargos emitido pelos serviços da câmara municipal e que o <i>designer</i> cumpriu lindamente: algo assim alusivo ao lugar, compreende?<div><br /></div><div>(e fotografei um caso que passava por lilás, passava, passava)</div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEi9NDFG6-Sy6VHo0zlQMSSsgVvOdY41IjYaJT8l_V-CYK-uQ1Rq4CfDdYGlxtoUO_hlACtvLtamAx1_MR8KquvFGujFT9DKl_R7boqONcWvcetwBcBcW7OUtcUSqVHhHT-c2v7RzvKbnrVHdwNxz4fZYkjxGAova-SAbfHIMFSy6Vau_fEsB7dLKRSxctA" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEi9NDFG6-Sy6VHo0zlQMSSsgVvOdY41IjYaJT8l_V-CYK-uQ1Rq4CfDdYGlxtoUO_hlACtvLtamAx1_MR8KquvFGujFT9DKl_R7boqONcWvcetwBcBcW7OUtcUSqVHhHT-c2v7RzvKbnrVHdwNxz4fZYkjxGAova-SAbfHIMFSy6Vau_fEsB7dLKRSxctA" width="400" />
</a>
</div><br /></div>Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-26064762549392918932023-12-02T10:15:00.007+00:002023-12-03T08:35:11.272+00:00Valeu a esperaDevia com certeza ter chegado um voo de Luanda. Os passageiros com aspeto angolano, cuidado com o que vais dizer, saíam pela abertura no átrio das chegadas, em grupos numerosos, empurrando carros com malas empilhadas até ao ponto imediatamente anterior ao desmoronamento. O natal aproximando-se a alta velocidade e os feriados de dezembro, por junto, são talvez incentivo bastante para que, em Lisboa, aterrem aviões mais cheinhos.<div>O voo da Saminhas já aterrou há mais de meia hora, mas ela ainda não surgiu. Circulei pela única loja de <i>souvenirs</i>, passando os olhos pelos livros (quase comprei mais uma revista LER, que depois nunca leio até ao fim). Pelo caminho, reparei que, num topo de escaparate, as prateleiras se enchem em exclusivo de Fernando Pessoa. Comprei um mini pacote de bolachas e um sumo e fui instalar - me na beira da rampa a observar os viajantes recém aterrados. O dispositivo inteligente vibra dentro do bolso do meu casaco. São mensagens da minha filha com informação atualizada sobre o seu demoradíssimo desembarque. </div><div>Na enxurrada de gente, vem um português na casa dos trinta a descer a rampa de mochila às costas. Tem ar de informático. De repente, do lado oposto, dispara a correr ao seu encontro, um menino dos seus quatro anos: paaaaaaiiiiiiiiii!!!!! O informático baixa-se para apanhar o gaiato, encaixa-o no tronco, de lado, aperta-o contra si. O garoto envolve com os braços o pescoço do pai, enquanto a mulher que completa o quadro mal consegue cumprimentar o informático. Ao passarem por mim, no meio de beijos energicamente depositados no seu pai, o menino esfrega o pequeno rosto, afastando qualquer coisa ali intrometida que pareceu surpreendê-lo, e eu oiço.</div><div>- Então?! - diz o informático a sorrir ao miúdo - estás a chorar?</div><div><br /></div><div>Observar o reencontro das famílias à beira das chegadas no aeroporto de Lisboa sossega-me o espírito. O amor continua a ser, ali, o maestro principal.</div>Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-16634230641304226962023-12-02T06:45:00.003+00:002023-12-02T08:30:49.646+00:00Bombas de águaMáquinas resfolegantes animam canais em edifícios que dormem em banda, cinco de cada vez. Bombeiam toda a noite o líquido desinfetado de bichos mínimos a caminho de misturadoras ou mesmo torneiras.<div>No silêncio da madrugada, num arredor intenso da capital, estes ruídos metálicos, verticais, são, àquela hora, a minha companhia.</div><div>Mas não é para a ilha que quero voltar. </div>Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-16851998732609186612023-11-13T21:15:00.008+00:002023-11-14T06:46:20.761+00:00E tu, que encontras assim de tão giro no teu caminho? Quase tropeçava na pegada ecológica de um exemplar de javali. Abrandando a marcha, aproximei até o próprio nariz para ver melhor. E sim senhor, confirmou-se por todos os lados. Depois tirei uma fotografia ao chão de propósito por causa da beleza. <div><br /><div>É que não preciso de black fridays, descontos em cartão, ou de dar a minha opinião. Não pinto as unhas, já agora. Hotéis de luxo, mansões muito modernas onde alma nenhuma entra no sono, passo completamente. A Netflix e isso, também.</div><div><br /></div><div>Tenho só um bocado de pena de enjoar desta maneira no Flixbus (por falar em flix). É demasiado ondulatória, a rota. </div><div><br /></div><div>Mas quase tropeçar na pegada ecológica de um exemplar de javali de manhãzinha cedo com o nevoeiro ali todo, é bastante raro e muito giro. </div><div><br /></div><div>Vou mostrar com qualidade:</div></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgfziK8yQNrvirAmmwgmQ_hC_YYPy8gYHzVw6Nv0VN_U6a6I6J1jL74eUaFbgmozjT7u-3tvdHPRukIQNMBL4fQTw2r43iiW9Q3SRzIbsWZYLWDLy6PVuqKahlvb6tyOs7-VWEcmmDoaAlbcrupO2PmeevsyfYSGfAPAY6MCvDKwlydjXr4h4_SMtY9eBY" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgfziK8yQNrvirAmmwgmQ_hC_YYPy8gYHzVw6Nv0VN_U6a6I6J1jL74eUaFbgmozjT7u-3tvdHPRukIQNMBL4fQTw2r43iiW9Q3SRzIbsWZYLWDLy6PVuqKahlvb6tyOs7-VWEcmmDoaAlbcrupO2PmeevsyfYSGfAPAY6MCvDKwlydjXr4h4_SMtY9eBY" width="400" />
</a>
</div><br /></div>Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-75748843684748534732023-10-25T07:27:00.003+01:002023-10-25T07:41:52.205+01:00Então bom diaAtravés da frincha da janela, chega o canto de dois ou três melros. Lá fora, o asfalto da estrada guardada pelo arvoredo onde as aves despertam, está molhado. Não preciso de o ver. Os primeiros habitantes do bairro já saíram de casa para dentro da noite, que ainda dorme, e as suas viaturas rodam sobre a chuva caída.<div>Mais ao longe, um cão ladra um bocadinho. É mesmo só um bocadinho que ele ladra, por exemplo, não é muito: as coisas são como são. </div><div>Entretanto um autocarro passa vagaroso. </div><div><br /></div><div>Ser assim, toda arrancada à cama por uma cólica inesperada e metidinha, tem algumas vantagens. Como aliás quase tudo aquilo que vem e depois vai. </div><div>Então troquei o café por chá e também arranquei mas foi o dia na cozinha.</div>Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-65790604746790440932023-10-12T23:34:00.004+01:002023-10-13T04:22:14.191+01:00Mas bom diaLisboa ajustava-se finalmente com força moderada sobre a placa tectónica num tremor de terra da escala de cinquenta euros. Meti-me debaixo de uma mesa do laboratório de ensaios enquanto em redor caíam algumas coisas indistintas. Procurei o dinheiro nos bolsos e sobrevivi mesmo antes de acordar. Lá fora ainda estava escuro. Alcancei os óculos e desci as escadas, liguei o computador. Preparei um café forte e, enquanto a máquina processava a operação com jorros de vapor a subir aos armários da cozinha, retomei o relatório prometido para o dia anterior.<div><br /></div><div>De repente, lembrei-me do nome do autor do livro com o título na placa em azulejo da casa que está para venda. Casa do pó. Mas nunca li o livro e agora está esgotado. </div><div><br /></div><div>O telemóvel esperto faz-me cada vez mais infeliz. Apago noventa por cento da informação; já o mundo fora dele é completamente maior. </div><div><br /></div><div>Estou a ponderar comprar os livros todos do João Aguiar e ir outra vez ver os Fatias de Cá. Não sei onde ando com esta cabeça. </div>Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-35718497283046248312023-09-27T07:54:00.012+01:002023-09-27T20:29:36.755+01:00Sempre o mesmo post<p><span style="font-family: inherit;">A esta hora da manhã, com o despertar dos
elementos, devia estar a fazer a caminhada. O céu tinge-se
devagarinho de azul claro e os últimos veados recolhem-se para os
escuros mais escondidos da floresta de eucaliptos e alguns carvalhos,
castanheiros e por vezes pinheiros. Quando, após rodar a chave na porta muito devagar
para que o estalido do mecanismo não espantasse a caça, saí para o terraço, ainda
vislumbrei três ou quatro a dissiparem-se na frescura com as suas pernas finas,
muito elegantes, a correr. A caça mas apenas com os olhos e o espanto que
sempre me sobe à cabeça de cada vez que vejo um animal daqueles. Os javalis
também têm dado à costa em grandes quantidades, deixando o terreno aqui ao lado
completamente revolvido. Ontem à noite, e anteontem, era toda uma família mesmo junto à casa. Punham-se em aflição quando nos aproximávamos e corriam doidos,
ali muito, a fugir para vários lados ao mesmo tempo. Os javalis são um bocado desorganizados. Adoro isto imenso, mas por outro lado, a coragem para ir caminhar no
escorvar do dia e da luz no meio da bicharada vai-me faltando. Portanto
fico em casa a engordar mais um bocado.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span lang="PT" style="font-family: inherit; line-height: 110%;">Tenho então o projeto de comprar uma
passadeira para ir passando o inverno (passo o termo) a fazer caminhadas sem
sair do mesmo sítio e sem me rodear de barulhos no meio da vegetação,
acompanhados de <i>roncs</i> completamente sugestivos mesmo ao pé de mim. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: inherit;"><span face="Corbel, sans-serif">Mas ainda não percebi se gosto do livro
que ando a ler muito depressa. É de uma autora islandesa cujo nome começa com Yrsa
e o resto é uma espécie de Dvttoril£oredi§tºr. No entanto, foi exatamente por
ser islandesa que me deu para isto, tenho curiosidade. Acho que a Islândia é um
lugar onde nunca quererei ir, está cheio de mistérios cavernosos, tristeza,
escuridão, frio e morte (talvez não devesse ter lido o Desumanização do querido Valter). O livro é supostamente do meu estilo </span><i>despreferido</i><span face="Corbel, sans-serif">: </span><i>thriller</i><span face="Corbel, sans-serif">.
Por isso não sei se gosto ou se no fim chorarei os vinte e tal euros gastos na
obra, comprada na Bertrand do Vasco da Gama, numa tarde de fraqueza.</span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Corbel",sans-serif" lang="PT" style="line-height: 110%;"><span style="font-family: inherit;">E agora vou teletrabalhar, que o dia já nasceu todo.</span><o:p style="font-size: 10pt;"></o:p></span></p>Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-54269489215289380312023-08-13T07:04:00.002+01:002023-08-13T11:25:27.431+01:00CaputhQuando, nas casas de banho dos quartos de hotel, os secadores de cabelo já não precisarem de ter o seu cabo enfiado pela parede adentro, à prova de roubo por hóspedes com falta de secadores de cabelo na sua pobrezinha vida, o mundo será possivelmente justo.<div><br></div><div>O empregado do restaurante do hotel, jovem imigrante original da Indonésia, explicou - nos que, no seu país, as rezas do dia começam às cinco horas da manhã por uma questão de disciplina. (e depois, respondendo à minha pergunta, disse que preferia esse seu país para viver mas é este lugar onde estamos, nas imediações de Berlim, que lhe permite ter uma vida decente, um trabalho, um salário)</div><div><br></div><div>Na casa de verão de Einstein, em Caputh, a sala onde ele trabalhava e onde eu me sentei à secretária para escrever no livro de visitas, é aquela que fica mais distante da cozinha, a zona então mais barulhenta da casa.</div><div><br></div>Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-66227098339361200912023-08-12T18:18:00.004+01:002023-08-13T06:05:39.549+01:00Estação de serviço Era uma família de quatro: pai, mãe, e duas crianças. Comiam o seu almoço debaixo de um chapéu de sol cujo cabo atravessava o centro geométrico da mesa de plástico na zona exterior da estação de serviço. Não pude entender uma palavra do seu alemão, claro, mas que estavam alegres era evidente. A três metros de distância, o nosso carro carregava a bateria enquanto nós descansávamos da viagem. Tangente ao recinto passa a autoestrada onde as filas de automóveis escorriam vagarosamente, interrompidas por numerosos veículos pesados, estes quase todos de matrícula polaca, apesar de ser sábado. A chuva intensa havia finalmente cessado dando lugar a uma tarde quente e húmida. O almoço da família de quatro está servido em caixas de cartão impregnado de gordura. Salsichas de comprimento grandinho e diâmetro também, envoltas numa espessa camada de molho de tomate escorrendo por todos os lados e pelos dedos dos meninos, tudo muito acompanhado de animadas doses de batatas fritas também elas relativamente gordinhas.Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-44631008435140837522023-08-10T07:57:00.002+01:002023-08-10T07:58:05.658+01:00BisandoAinda com o café ao lado, pego no livro da Filipa Leal e abro-o de alto a baixo. Muito devagar, reviro-lhe quatro ou cinco entranhas contíguas, diz ela que projetos políticos. Com c, creio, projectos políticos.<div>Mesmo assim, apesar do calor das minhas mãos, apesar da minha avidez, as páginas sentem-se estrangeiras, como se tivessem muito frio. O livro fecha-se então de um lado e do outro. E eu, transversal à manhãzinha de verão, continuo a beber o café completamente. </div>Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-32135894091336456982023-07-15T10:31:00.004+01:002023-07-15T10:47:26.659+01:00Café e leituraLembrei-me ontem, no decorrer da tarde e do concerto para piano número dois de Rachmaninoff, de lançar um desafio em redor: expliquem lá, meus queridos, uma situação vibrante durante meia horinha sem utilizarem a muito palavra imagina. <div><br /></div><div>Entretanto corri aos correios para levantar os dois livros de Direito que contrapesam um garrafão cheinho de litros de água e que surpreendentemente anseio por ler. Desconfio que adicionalmente serão capazes de engrandecer o meu pobrezito músculo de braços.</div><div><br /></div><div>Com a chuva que por fim cai em cheio sobre o vale após toda uma noite de ameaças, a manhã claro que já vai plena só em café e leitura.</div><div><br /></div><div>(mas ainda não percebi a cena medonha dos concertos de piano em palco pejadinho de velas acesas - a ideia não seria ouvir música em paz?)</div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjI6Bh852R_eYiNRImBRrVx6St8Xs2IcsNJmDW7jL97vAEFPAz3a-DDM4omlVbh-zDK1FS3fOuA4KnpU8vumMN7sPi2C2vzokdExmHLJcePCorHNNWALks8keEWbP1vXV6e_RN04iXNn6k0uym9C2jIkbyWK3jFK_I6gDhAoudWGd2UMgFHaGzZbhGnEco" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjI6Bh852R_eYiNRImBRrVx6St8Xs2IcsNJmDW7jL97vAEFPAz3a-DDM4omlVbh-zDK1FS3fOuA4KnpU8vumMN7sPi2C2vzokdExmHLJcePCorHNNWALks8keEWbP1vXV6e_RN04iXNn6k0uym9C2jIkbyWK3jFK_I6gDhAoudWGd2UMgFHaGzZbhGnEco" width="400" />
</a>
</div>(Figueiró dos Vinhos ou Figueirinho dos Vós, as you wish - reprodução de uma obra de José Malhoa, 1915, por Julio Anaya Cabanding)</div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg89VJzAuO-AYBHiBMgWLhokyuV6YyLrHGlHziufq24damot6jF7GuT-jXvMwoq-OGcRNiCiaxc4Zuv3goTDYM6ck9p5fhPlczx4sSngdc186E6agDPmPZGzGAp0lVFUzQ_WBrccSIx5Nqco7PaEtRN-QEMd5kqP28adU0jZvgKY7e0qJil28XhidU2C1c" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg89VJzAuO-AYBHiBMgWLhokyuV6YyLrHGlHziufq24damot6jF7GuT-jXvMwoq-OGcRNiCiaxc4Zuv3goTDYM6ck9p5fhPlczx4sSngdc186E6agDPmPZGzGAp0lVFUzQ_WBrccSIx5Nqco7PaEtRN-QEMd5kqP28adU0jZvgKY7e0qJil28XhidU2C1c" width="400" />
</a>
</div>(pronto, pronto) </div>Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-80214923117563214442023-07-08T09:37:00.005+01:002023-07-08T09:38:46.201+01:00Dois pedaços bicudos da sua própria tablete<p><span style="font-family: inherit;">No fim, para a sobremesa, disse ao empregado que
queria algo de chocolate mas maneirinho, nada enorme como é costume naquele
restaurante de estrada para camionistas de veículos muito pesados passando
velozes com inscrições do género “o seu parceiro na zzzzzzzzz” a última
parte, aquela em que iríamos saber em que ramo da tecnologia o veículo de
grande porte é nosso parceiro, não se consegue ler, porque o camiãozão entretanto
já desapareceu da nossa vista cansada, mas dizia eu que revelei os meus apetites
por algo de chocolate mas de tamanho adequado à minha envergadura, ao que o
empregado fez que sim com a cabeça e afastou-se com ar de quem sabe
perfeitamente qual a sobremesa ideal para mim. Surgiu com dois pedaços bicudos de chocolate amargo com caramelo e pepitas de sal tirados da sua própria tablete (e não incluídos na conta). </span><span style="font-family: inherit;">As coisas que acontecem em Penela, dois.</span></p>Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-20468256063742870132023-07-08T09:29:00.002+01:002023-07-08T09:29:21.246+01:00Nem sempre valem pela comidinha<p>Um<span style="font-family: inherit;"> casal de meia idade com ar de não-penelenses, ela
de cabelo louro pintado e ele de cabelo branco farto, muito penteado, ambos bronzeados
e bem apessoados, sentou-se na mesa atrás de nós. Encomendaram de véspera o famoso
bacalhau à Pastor segundo informação veiculada pelo empregado, prato que consiste numa posta do tamanho de um tabuleiro de xadrez mas com
o triplo da espessura do mesmo, o bacalhau soterrado por uma camada de maionese da ordem dos
centímetros. O empregado informou-nos ainda, enquanto pagávamos a conta, que o casal é italiano. Vieram recentemente viver para cá e trouxeram os seus, atenção, estais sentados? Sim? Então
vamos lá: os seus dezassete (17) cães e oito (8) gatos de Itália. Diz ainda o nosso informador que alugaram um táxi italiano daqueles assim (e faz uns gestos com os braços que parecem indicar um táxi muito
comprido) para trazer a canzarrada toda e presumo que a gataria também - os gatos
devem ter adorado a viagem – até aqui. As coisas que acontecem em Penela.</span></p>Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-16134597237317413862023-06-19T00:00:00.004+01:002023-06-19T00:17:22.953+01:00BibióAs férias de verão da nossa adolescência eram passadas junto às escarpas que se estendiam entre a estrada para as Azenhas do Mar e a maré revolta e salgada lá em baixo a bater nas rochas. O sol da tarde baixava desse lado e, ao contrário das praias do Algarve, presenteava-nos o espírito, os olhos, as bicicletas, as gaivotas e os nossos sonhos de miúdas, com o espetáculo de se pôr no mar. Víamo-lo da janela da sala de jantar. O nosso avô habitualmente não jantava. Suponho que não lhe apetecia sopa, bifes com arroz ou peixe se calhar frito ou cozidinho. Preferia pegar no carro depois do nosso jantar e ir ao café comer uma tosta mista sempre, mas sempre, sem manteiga.<div>Às vezes as minhas irmãs e eu íamos com ele, uma, duas de nós, ou mesmo todas. Sentavamo-nos a uma mesa do café que ficava nas arcadas das lojas da Praia das Maçãs. O avô pedia a sua tosta mista sem manteiga e eu sentia-me sempre muito feliz. Depois perguntava o que nós queríamos tomar. Normalmente, eu queria uma Coca-Cola. Não me lembro o que pediam as minhas irmãs. Só me lembro da intensa felicidade que sentia nesses momentos. E então respondia ao meu avô, voltando-me para o empregado: era uma Coca-Cola sem manteiga, se faz favor. A gracinha intensificava aquela sensação muito boa mas talvez alguma das manas dissesse 'parva' e revirasse os olhos um bocadinho, a fingir-se farta de mim. (que tempos!) </div><div><br /></div><div>Há dias, no almoço com os meus colegas, a propósito de qualquer coisa que ali surgiu, contei-lhes esta pequena história da Coca-Cola sem manteiga, omitindo a parte da felicidade (essa fica entre nós). É que não era alegria nem boa-disposição o que eu sentia, era mesmo uma felicidade intensa.</div><div>Parecida com aquela que me vem misteriosamente, instala-se toda e depois fica a latejar com certa doçura imenso tempo, sempre que escrevo neste blogue que continua vivo embora um bocado ferrugento.</div>Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-90280296053677312492023-06-05T22:48:00.008+01:002023-06-05T22:52:43.772+01:00Um garfo!<p class="MsoNormal" style="text-align: left; text-justify: inter-ideograph;"><span lang="PT" style="line-height: 110%;"><span style="font-family: inherit;">Quando
saí do cliente já passava um bocadinho das seis horas. Abri a
porta do carro ao sol de junho, que aqueceu ali todo o ambiente por fora e por
dentro, especialmente por dentro. O casaco foi despejado sobre o banco de trás
o mais depressa possível, as mangas arregaçadas e as mãos metidas ao volante,
claro, mas só depois de espetar o dedo no botão com o AC inscrito. Senti um
alívio suave e estaladiço com pepitas de chocalhos de alegria pelo caminho de
regresso. Não tanto pelo refrescar da envolvente como pelo sossegar de uma
breve missão cumprida e alguns feriados no horizonte. Assaltou-me, ali ao
quilómetro vinte e dois, uma vontade aguda de beber uma cerveja deliciosa agarrada a um livro acabadinho de comprar na feira. Mas musiquei o habitáculo com
qualquer coisa nova respeitante a portas giratórias, uma oferta da Antena 1.<o:p></o:p></span></span></p>
<p><span style="font-family: inherit;">À noite
virei-me para a televisão numa de já-que-aqui-chegámos e para encher com
chouriços a paz habitual. Foi o suficiente para bater os olhos num
anúncio de comida para gatos exibindo um prato com pedaços suculentos, cozinhados
lentamente (disseram), em molho, e um garfo disposto ao lado do referido prato.
Com certeza isto é capaz de serem </span>se calhar <span style="font-family: inherit;">ideias completamente espetaculares da inteligência artificial.</span></p>Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-11422554213278776022023-06-03T11:42:00.001+01:002023-06-03T11:42:24.083+01:00Mais um topo de telhado (atirado ao rio)<p style="text-align: left;"><span style="font-family: inherit;"><span style="text-align: justify;">Foi u</span><span style="text-align: justify;">ma
noite abençoada. Dormida até às 9h50 de acordo com a eletrónica de que me faço
munir durante a noite. Nove e cinquenta, para o caso de os algarismos impressos
não conseguirem fazer </span><i style="text-align: justify;">solos</i><span style="text-align: justify;"> com o efeito pretendido. É que ontem escarafunchei
os pés dentro de um par de elegantes sapatos de doze andares e por
isso terrivelmente difíceis de domar, seja na calçada portuguesa seja lá para onde
eles me levem. E isto mesmo com o uber a deixar-me ali a roçar os degraus da
entrada do lugar doido que começa numas escadas estafadíssimas pelo tempo mas
dispostas a levar-nos até ao – adivinhar em coro – sim: topo de telhado!! Portanto
havia que dormir imenso para que os pezinhos, (não na areia, porém) aborrecidíssimos
com o efeito dos sapatos verticalmente caprichosos dançando Tina Turner (</span><i style="text-align: justify;">you really were
simply the best</i><span style="text-align: justify;">) à vez na noite muito a cair para cima do Tejo, pudessem
recuperar praticamente toda a sua forma já que hoje terão de dar o seu
melhorzinho na belísisma festa da minha também abençoada irmã.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span lang="PT" style="font-family: "Corbel",sans-serif; font-size: 10.0pt; line-height: 110%;"><o:p></o:p></span></p>Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-81416748430481983552023-05-13T12:00:00.002+01:002023-05-13T12:00:56.268+01:00Ou a ideia é transformar quem leia qualquer coisinha futura em atrasadinhos totais?<p><span style="font-family: inherit;">A cada notícia a urgência intensifica-se. Há que comprar o maior número possível de livros o quanto antes. Livros que ainda trazem os adjetivos inteiros, as possíveis ofensas, as cenas maradas, livros completos, autênticos. Não submetidos aos atuais critérios de censura, frutos de uma surpreendente ausência de cérebros capazes de pensar. Poucas coisas me entristecem tanto como a amputação dos livros que parece querer anunciar-se no horizonte.</span></p><p><span style="font-family: inherit;">Um bocadinho mais de inteligência, por favor. A sério, vá lá.</span></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6wC1DOGt8LZEb6JYY8gGGTsVg84_Szs9y98w-9OIEkfx8PcEZnow28msAQwnKxRpBaMusAjrulB_Jf4njZr4SlXI85lu33qIdcuBtJlz3VJbUNdoMNc4CNTU2LCw03ZS-xFpl5y61ajAW-Fs_8zj_Mq24cMQhPOw1LATn9CDdvTt4S_wWdXC5CWAt/s3264/IMG_20200820_125804.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3264" data-original-width="1836" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6wC1DOGt8LZEb6JYY8gGGTsVg84_Szs9y98w-9OIEkfx8PcEZnow28msAQwnKxRpBaMusAjrulB_Jf4njZr4SlXI85lu33qIdcuBtJlz3VJbUNdoMNc4CNTU2LCw03ZS-xFpl5y61ajAW-Fs_8zj_Mq24cMQhPOw1LATn9CDdvTt4S_wWdXC5CWAt/w225-h400/IMG_20200820_125804.jpg" width="225" /></a></div><br /><span style="font-family: inherit;"><br /></span><p></p>Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-7928762829014260314.post-90272536066537304022023-05-06T19:23:00.003+01:002023-05-06T21:15:08.908+01:00Verde pistachioDe cabelo grisalho, ténis, meias e saia curta, a mulher sentada sozinha a uma mesa escrevia num caderno. À sua frente não se vê um jantar, apenas um copo de vinho tinto. A caneta com que escreve, de um verde pistachio, lembra a lapiseira de modelo famoso da Caran d'Ache. Esteve o tempo todo a escrever, só ficava suspensa, em pausa, quando o fadista cantava.<div>Tive muita curiosidade ali, toda a noite, na mesa ao lado, mas em vez de lhe fazer perguntas perturbando a sua escrita, fiquei somente a ouvir as intensas canções de Coimbra, todas tão bonitas.</div>Susana Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/10869347836266567841noreply@blogger.com2