Encontro na lista o número de telefone que procuro e ligo. Estou empenhada em ser uma mãe completa e está na altura de assinar uma publicação mensal em nome da minha filha de seis anos e em nome do incentivo à leitura. Estamos no ano de dois mil e três.
- Abril Controljornal, boa tarde, em que posso ajudar?
- Boa tarde, gostaria de assinar uma publicação vossa, por favor.
- Com certeza, minha senhora. Já é nossa cliente?
- Não.
- Então preciso do seu nome, número de contribuinte, morada...
E eu dei o meu nome, número de contribuinte, morada...
- Vejo aqui que já é nossa cliente, mas tenho outra morada, ora confirme lá, por favor.
- Essa é a minha morada antiga, diz que já fui cliente?...
- Foi, sim, tenho os seus dados, vou actualizar a morada, ora repita se faz favor.
Repito o meu endereço e de repente lembro-me.
Lembro-me da compilação de artigos histéricos que me incentivavam a ser a líder de que a minha empresa precisava em textos ilustrados com fotos de escadas a subir em direcção ao céu, a ser a vencedora em qualquer conflito, a nem sequer viver conflitos, uma profissional que respira sucesso, transpira inteligência, veste autoconfiança, ou coisa parecida, um ser praticamente extra terrestre, agora lembro-me. Assinei a publicação que esperava me oferecesse os conhecimentos de gestão que queria acrescentar à minha formação técnica, sabedoria credenciada e debitada por sumidades em muitas matérias, aquilo prometia, tudo traduzido em português e resumido, com um nome que não envergonhava ninguém. Eu tinha, em tempos, assinado a "Executive Digest". E depois de alguns meses de lavagens cerebrais que me deixaram na mesma, felizmente, um insucesso a ensinar-me o sucesso, cancelei a assinatura e deitei aquela porcaria toda fora.
- Sim, tem razão, já fui vossa cliente.
- E sabe que publicação assinava?
- Sei. A "Executive Digest".
- A "Executive Digest"! Parabéns, uma excelente publicação! E porque desistiu?
- Não gostei. Os artigos diziam sempre o mesmo, a querer convencer toda a gente de que pode ser líder, irreal.
- Hum... Mas temos outras publicações, temos a "Exame", a "Exame Informática", temos...
- Obrigada, não é nenhuma dessas que quero.
- E que publicação pretende então assinar, minha senhora?
- A revista da "Barbie".
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