10/07/2013

O tempo voa

No caminho que faço de manhã para o trabalho, o meu novo trabalho, passo por um cavalo marinho enfeitado numa rotunda e um par de dinossauros em luta suspensa.

Isto por acaso agrada-me.

O cavalo marinho está virado para o lado da rotunda de onde eu venho. Portanto, ele vê-me surgir da curva que me tira do IC19. Digo isto porque o cavalo marinho é muito alto.

Deve ser uma espécie já extinta, visto conseguir manter-se fora de água tanto tempo e não perder o aspecto de frescura esverdeada que ostenta. Também mantém os enfeites, o vaidoso. Vê-se mesmo que para ele o tempo é muito, tanto que já não conta.

Mais à frente, empoleirados no telhado tipo terraço de um espaço comercial, estão os dinossauros. Parecem prestes a desatar à bulha.

Talvez saia o primeiro soco daqui a uns três milhões de anos. São criaturas que vivem numa escala de tempo a anos-luz da nossa. É por isso que não têm pressa nenhuma.

Já comigo não é assim. Tenho pressa de chegar ao trabalho. Onde nada está extinto. Tudo vibra em urgências de desenvolvimento, a tecnologia não espera, o mercado exige, vamos lá.

Acho que não sabe de dinossauros, a tecnologia. Nem de cavalos marinhos sem tempo.

O que sabe é correr em ânsias de chegar à frente. É por isso que no meu trabalho novo o tempo voa.


A garrafa de vinho branco que ando a beber por causa dos 35ºC que me esperam em casa ao final do dia, está a acabar.

Amanhã paro no espaço comercial dos dinossauros e vou lá comprar outra. Enquanto não começa a luta, que o tempo voa.

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