Conduzo o meu carro pela avenida dos mares, ou o que é, ali na zona da expo, junto ao rio Tejo e quase a chegar à ponte Vasco da Gama, janela do carro aberta, que o outono está lindo e é a minha estação preferida, quando me apercebo de que há algo na rua que me importuna a paz, era isto ontem pela hora do almoço.
O que é, o que é, raios parta, que dia tão lindo e que coisa esta, a minha janela quero-a aberta, em comunhão com o outono, o outono e eu.
Volto a cabeça à direita e vejo um homem envergando um colete verde fluorescente. Vejo um tubo de diâmetro de respeito, de plástico preto, que numa ponta sopra ar e na outra está agarrado a um motor que este homem de colete verde segura como se de um bebé se tratasse. O motor chora baba e ranho, alto e bom som, ou péssimo som, é isto que me irrita a tranquilidade, deve ter fome ou tem a fralda suja.
Mas então paro o carro e concentro-me na pesquisa da pertinência do trabalho deste homem, a minha curiosidade tem certas necessidades. O serviço consiste, observo, em soprar com a barulheira infernal do estupor deste motor que se passeia ao colo, mais valia mil bebés aos gritos, em soprar, repito, folhas outonais, estaladiças, de um castanho torrado, caídas no passeio das vivendas geminadas, a conferir-lhe cor, a contar às vivendas que sim, que o outono já chegou, alegremos os nossos corações, mas não. As folhas estão a ser sopradas para o alcatrão da estrada, todas.
A mim a cena soprou-me para fora dali, que isto é coisas que eu não gosto de ver. Nem de ouvir.
Isto e os saltos altos da vizinha do andar de cima.
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