Openlucht museum, Arnhem, Holanda
Não foi Jan Vermeer quem pintou esta obra, isto nem é uma obra, mas foi com o azul da palete dele na ideia que ontem tirei a foto.
Se a luz pode fazer isto, entrar, deixar-se cair na cadeira e lamber a parede às tiras a testar o sabor do azul, se pode fazer ricochete nas alvuras que encontra pelo caminho, se torna este castanho quente como o outono, se esta é a cor que me prende os olhos e me enterra no infinito das sombras que oferece, se isto pode ser assim, Vermeer fez o que tinha de ser feito.
No museu ao ar livre os exemplares de casas holandesas, trazidos de cada canto deste pequeno mas rico país e aqui reconstruídas, estão vivas. Dentro desta está uma mulher vestida ao rigor daqueles tempos, em cima das socas que o mundo inteiro conhece. Tem o cabelo ruivo apanhado num carrapito à toa que deixa pender madeixas em caracol desalinhado, a saia rodada é preta e quase toca nas socas, a camisa branca com rendas e folhos. Explica aos visitantes como se vivia aqui há cem anos.
Animais e pessoas no mesmo espaço, o ambiente ficava assim mais quente ainda que mal cheiroso, a mulher aperta o nariz a completar a ilustração que ela própria encarna. E havia as moscas, claro, os animais era isto, mau cheiro e moscas. Os piores, os porcos, não tinham lugar cá dentro, ninguém os aguentava à mesa da sala, quando ainda não no prato, mesmo em tempos de muito frio os porcos é fora que estão.
- E o azul, este azul nas paredes? - pergunto eu, a querer ouvir Vermeer, Jan Vermeer e uma história de amor.
- O azul, diz ela a sorrir, o azul tinha de ser este. Era usado em todas as casas para afastar as moscas.
As moscas. Com moscas não sei ouvir uma história de amor.
Mesmo assim, sentei-me. Fechei os olhos à luz para que ela poisasse no meu brinco de pérola e aí ficasse até a noite cair.
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