22/08/2014

Todas as estrelas

Tenho tanta vontade de te escrever, que comprei uma dúzia de postais todos iguais. Não escolhi o desenho que lhes foi impresso; se é uma fotografia antiga não sei, se é imagem que encerra mil palavras não encerrará todas as que tenho para ti e eu estou a transbordar, como sabes - saberás?

Escrevi em todos, um após outro, tentei dar-lhes ordem mas este fervor também me está nas mãos, este ardor no meu peito que continua a fabricar flores para ti.

Saí então à rua para colher um pedaço da vida que corre serena, firmar-me no espaço, tentar libertar-me da febre que me queima a pele assim, deves sentir, sentes?

Reparei que o sol ainda vai alto, as cores nos seus tons vibrantes cantam o refrão do ritmo do tempo; mesmo do avesso, olha como o verde é lindo.


Regressei, sentei-me à mesa e vi que ficou tudo mal, os postais. Desorientação em pedaços, manta de retalhos de um amor sem tempo, uma história que não se põe em capítulos assim, mas eu não podia esperar mais e tu compreendes isto, tu compreendes tudo.

Tentei arrumá-los como tu saberias fazer, dar ordem ao pôr do sol deste dia que ainda não acabou. Torci o tempo a ver se recupero o norte, meti-lhe curvas, virei-o para trás, iluminei-o com velocidades diferentes, pedi ajuda às teorias possíveis, nada resultou, só doeu, a desordem ficou. Depois soltei-o, deixei-o ir como quer e o tempo foi.

Quando voltou trouxe-me velha, vi-me ao teu lado, mãos engelhadas entrelaçadas nas tuas, deitados numa cama de onde se podem ver todas as estrelas e o sorriso que nos cintila na alma reflectido no firmamento.

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