A insónia meteu-me os buracos negros na cabeça, o problema foi esse. Não podem ver nada que comem tudo, os buracos negros.
(perguntaste-me de que tenho medo, não foi?)
Puxei o verão para mim, dei-lhe carícias a sossegá-lo, a sossegar-me, mas vejo os buracos negros outra vez, engolem tudo, limpam o espaço, derramam o vazio.
(não quis fugir à resposta, espera)
Concentrei-me só num, isolei-o, observei-o de frente, primeiro sem me aproximar. Um buraco negro pode comer-me a mim também, se lhe apetecer. Comer-me a mim também é uma maneira de falar e nem é muito bonita, por acaso, esta maneira de falar. Mas hoje não há palavras bonitas.
(quando alguém diz que não quer fugir à resposta está a dizer que quer fugir à resposta)
A insónia estava instalada e portanto tive tempo.
(é o que preciso de ganhar para te responder, tempo, que fugindo ganho, e engano-me, e engano-te)
Tempo que me deixou ver que este buraco negro, afinal, não cresce. Devagar, então, aproximei-me.
(enganas-te: eu não tenho medo)
E de perto, de mais perto, a insónia a vigiar, comi-o eu, ao buraco negro. Está dentro de mim. Estás dentro de mim.
(engano-me: tenho medo de ti, medo de te amar assim)
Estás a comer-me o coração.
Sem comentários:
Enviar um comentário