Nos intervalos das visitas que a cortina me foi fazendo à cara, dispus de liberdade suficiente para fazer o que me apeteceu, portanto escrevi um texto para o meu blogue. As viagens de comboio são muito boas para o blogue, que pena tenho de fazer poucas, pode dizer-se pouquíssimas.
Levanto a cabeça para me concentrar na história que me sai dos dedos ao embalar do pouca terra, procurar paisagem a perder de vista para dar mais corpo às palavras, coisa tão rica, e do lado de fora
da janela vejo passar, lentamente, a cidade de Vila Franca de Xira; aliás vai a cidade cada vez mais depressa, que o comboio acelera a marcha, muita terra.
A cidade de Vila Franca de Xira não se apresenta em toda a sua potencial geometria à minha vista devido à cortina plissada-dura-como-pau-de-cor-alface-verde, a ordem dos adjectivos é indiferente, porque quem inventou uma cortina destas nunca andou de comboio como deve ser, ou seja, nunca escreveu para um blogue coisa nenhuma (isto é uma ideia). Mesmo descortinando apenas uma parte da cidade - repare-se na aplicação feliz da palavra descortinando... já está? - vemos, os que estiverem a olhar pela janela, que a cidade poderia ser mais feia, mas muito dificilmente. Repito muito. Repito dificilmente.
Tenho esta tristeza que me oferecem as edificações lusas na sua generalidade: a de constituírem verdadeiros hinos à fealdade em expoente máximo; arquitectos, por favor.
Mas não foi isto que me trouxe aqui. Foi outra coisa da qual ando a fugir, daí os rodeios.
Lembrei-me há dias dela, aliás dele. Ia a dirigir-me ao carro que tinha deixado estacionado perto do supermercado (como se chama o tipo de estacionamento que não é em espinha e pelo qual não dá jeito nenhum optar?), eu e mais quatro sacos de plástico carregadinhos à farta, dois em cada mão, a fazerem dos meus dedos uma quase-sopa que tanto me doíam e reparei, numa olhada rápida, que se tinha metido uma largura considerável de piso alcatroado entre o meu automóvel e o passeio, situação que fazia o meu destoar um bocado dos restantes.
E foi aí que me lembrei do colega de faculdade que era muito engraçadinho. Chegava tarde às aulas e, ao entrar, voltava-se na minha direcção e dizia em voz alta a frase que muitos já conheciam: estive quase para arrumar o meu
carro entre o teu e o passeio, mas depois não cabia.
Aquilo era muito bom para despertar as mentes mais dormentes porque fazia explodir uma gargalhada geral, ele ficava feliz de ser engraçadinho, eu encolhia os ombros e formou-se muito boa gente assim.
Não creio que isto seja um problema de todas as mulheres e isto aviso já não vá alguém querer manter o cavalinho à chuva. Estou certa de se tratar de tema sobre o qual detenho exclusividade, caso contrário as outras viaturas à porta do supermercado não estariam todas tão bem alinhadas junto ao passeio, isto não havia de ser para aqui chamado e agora bolas, que Coimbra está a chegar e eu vou ter de fechar o texto, sim isto demora, pois demora.
O comboio inspira pensamentos longos. :)
ResponderEliminarEspaço entre o passeio e o carro? Ora, já tive momentos de espraiar as pernas nesse espaço extra.
Beijo, Susana. :)
O espaço entre o passeio e o carro dá um jeitão, dá (eu só não sabia exactamente para quê; obrigada, Maria).
EliminarBeijo e bom fim de semana.
Não conduzo, automóveis.
ResponderEliminarOs Comboios têm a vantagem de não termos que os estacionar...
Coimbra às vezes também me tarda, nos regressos
O comboio é o melhor meio de transporte que há, pois é.
EliminarVir assim a Coimbra e nem um olá com cheirinho a café! Não se faz, menina Susana!
ResponderEliminar:)
Ah, bolas, mas isso é fácil de resolver! Vou a Coimbra com alguma frequência, eu é que não sabia que Coimbra era a tua hometown.
EliminarHavemos de tratar desse café, Carla, com ou sem cheirinho. :-)