Vai a tarde de trabalho a meio e dou
conta de que estou mergulhada numa vontade indomável de comer chocolate, isso e
sair para a rua em maio, numa proporção de um para um. Contamos dois zero, por conseguinte levanto-me à minha vontade.
Não levo o carro, uma vez
que em dez minutos pequenos (do holandês kleine
tien minutentjes ou coisa assim, gosto muito de traduções), em dez minutos
pequenos, portanto, chego ao supermercado mais próximo, do outro lado da
avenida, todo remodelado, vou a pé, planos ecológicos e saudáveis próprios da
minha pessoa, quem me dera não ter medo de ser atropelada por doidos ao volante, caso em que traria a bicicleta todos os dias comigo ao colo.
Atravesso o pátio e olho
o meu carro de lado, ficas aí, endireito as costas como manda a
professora de dança sempre que olha para mim, e sigo pelo túnel que dá acesso à
avenida, um túnel de vento, daqueles bons para testar tubos de pitot, que são uns tubos muito adequados para
os aviões, viajam espetados do lado de fora do avião, a medir a
velocidade com olhos atentos, um frio dos diabos, é o que é. Adiante.
Isso queria eu, mas do
lado de lá do túnel o vento está mesmo desalmado e o meu casaco ficou dentro do
gabinete, afinal isto é novembro ou é o maio que se zangou, ó maio olha aí.
Abrando o passo e tomo a decisão que me leva de volta precisamente ao meu
veículo estacionado e entro no habitáculo protegido e fecho a porta e arrumo o
cabelo devolvendo-o ao sítio e estremeço e ponho o cinto e a ordem pode não ter sido esta.
Dois também pequenos
minutos depois, estou a estacionar frente ao edifício todo remodelado da grande
superfície onde um dia tive um problema solúvel em revolta resignada com uma família de
ciganos gordos, digo gordíssimos, e oleosos, sujos, todos os extras incluídos, até
posso dizer asquerosos, não adoro ciganos que me oferecem tareias no supermercado, e noto então que
já chove como na rua, portanto a minha decisão de poluir a atmosfera para fazer
duzentos metros cobre-se de razão e trago seis chocolates mas cinco
são pequenos, aliás pequeníssimos, uma embalagem de caramelos com capacidade para fazer crescer água na boca, em qualquer uma, de não se poder parar de comer, nem de esticar este parágrafo, ai jesus, outra de lencinhos húmidos para o
rosto do seu bebé, testados dermatologicamente, nunca se sabe, e por fim a cereja
no topo do bolo que se traduz num pacote verdadeiramente promissor de cereais do
tipo muito magros e cheios de fibra, vulgo muesli, isto para compor a minha imagem,
não vá a televisão andar por aí a fazer reportagens sobre os hábitos saudáveis
dos portugueses em maio e agora sim, podemos respirar.
(quinze minutos
depois...)
- Dona
Esmeralda, deu-me lulas com arroz ao almoço, eu dou-lhe um chocolate, tem aqui, para o caminho – o meu sorriso revela, estou certa, a simpatia que não posso negar
nutrir por esta mulher trabalhadora que se levanta às cinco da manhã para
apanhar o barco e canta coisas desconhecidas mas muito bem entoadas a meio da
tarde enquanto varre o chão da cantina.
-
Tão
pequenino?!
E isso é lá coisa que se dê? Hein? Um chocolate PEQUENINO!!! Ora essa! :P
ResponderEliminarBeijocas, Susana. :)
É que o único grande que comprei comi-o eu.
ResponderEliminarGosto tanto da sinceridade dela, é demais, aquela senhora.
Beijocas de volta, Maria :-)
:)
ResponderEliminarLuísa, este fim de semana tirei fotografias tão boas, que me apetecia oferecer-te uma... ou duas. Onde as poderia deixar?
Eliminar:-)
Querida Susana,
ResponderEliminarUm dia destes, se para aí estiver virada, ensine-lhe a conhecida e nem sempre bem entoada "quem aceita não escolhe".
Boa noite,
Outro Ente.
PS - Alpiste?
Querido Ente, "conhecida"?! de quem? (glup...)
EliminarAlpiste... hum... mas ela vai torcer o nariz, estou em crer, vai vai.
Esta gente é tão chata que já cheguei ao ponto de ter vergonha de revelar os meus hábitos alimentares em público.
ResponderEliminarVivemos num mundo tão cheio de teorias do que é certo, que acho que todos desenvolvemos vergonhas interiores desse tipo. :-) (eu também tenho as minhas)
EliminarAcho que confundiste o chocolate com os minutos, por isso é que te saiu um pequenino. (;
ResponderEliminarCom certeza foi isso. Ou então a vã glória de não engordar (mais). :-)
EliminarO chocolate é um problema.
É reduzir a dose numa próxima, por exemplo para um quadradinho de chocolate.
ResponderEliminarJá se sabe que muitas vezes a generosidade carece de um comparativo ;)
Mak, é um prazer ter-te por aqui. Bem-vindo!
EliminarUm quadradinho e dos tipo micro, sim. É o que vai ser para aquela gulosa, vai vai. :-)