Há alguns nascidos de situações capazes de me tatuar a alma, a bem ou a mal.
Há outros que
nascem nas cubas rectangulares que mantêm quentes os almoços lá na cantina, antes de a dona Esmeralda os dispor nos pratos. Nunca faltam, os almoços.
Há ainda aqueles que posso confeccionar na minha cozinha ou trazer do supermercado, normalmente aromatizados ou então coloridos.
Há também os que
me servem de mergulho vingado da ciência que não me quis, amor não correspondido que me dói muitas vezes mas me mantém os neurónios em deslumbre permanente, tanta é a beleza.
E depois há os das sementes colhidas nas pessoas. Nas pessoas que amo ou – já tem
acontecido – nas pessoas que se não amo talvez para lá caminhe, afinal
quantos tipos de amor somos capazes de sentir?, sementes que se colhem muito
facilmente por exemplo no olhar sério do meu sobrinho mais pequeno que continua
a querer apanhar a lua com munta fôxa ou num dos
bloggers que me inspiram.
Para hoje havia um novo, um post novo. Era um recém nascido. Ainda não sabia andar sozinho e chorava muito. Tentei dar-lhe colo, a minha voz, palavras organizadas, coerentes,
assentes em raízes firmes, tentei dar-lhe forma e estrutura, fazê-lo crescer e
fortalecer-se para que ele – o post novo - se desse ao mundo, vivo e são. Viesse aqui dizer o que esta minha alma traz de novo, uma indignação que também é tristeza, e que tem sido alimentada todos os dias ao
ouvir pessoas, algumas à minha frente, pessoas que comem todos os dias e dormem em casa delas e têm filhos saudáveis, pessoas que vão ao supermercado e podem cozinhar e que têm um carro, ou dois, ao ouvir pessoas que, enquanto mastigam o almoço, dizem que têm problemas que cheguem, não é, temos problemas que cheguem e que por isso refugiados não, pessoas que não sabem o que é a guerra. Tal como eu não sei.
Por isso o meu post novo, recém nascido, não sobreviveu, não o pude conceber, enterrei-o nesta indignação que também é tristeza. Mas procurei e encontrei outro que faço meu, com ele cubro o meu silêncio.
É este e é de alguém com uma voz capaz. Obrigada, Helena.
Termina com uma outra voz, a de Mia Couto, assim: “Só há um modo de escapar de um lugar: é sairmos de nós. Só há um modo de sairmos de nós: é amarmos alguém”
Por isso o meu post novo, recém nascido, não sobreviveu, não o pude conceber, enterrei-o nesta indignação que também é tristeza. Mas procurei e encontrei outro que faço meu, com ele cubro o meu silêncio.
É este e é de alguém com uma voz capaz. Obrigada, Helena.
Termina com uma outra voz, a de Mia Couto, assim: “Só há um modo de escapar de um lugar: é sairmos de nós. Só há um modo de sairmos de nós: é amarmos alguém”
Já lá vão muitos anos quando, uma vez de férias na Gran Canária e outra no sul de Itália, vi chegar vários barcos de refugiados. Ainda este problema não tinha atingido tais proporções e pouco se falava sobre o assunto.
ResponderEliminarTenho uma imagem fotográfica muito nítida desses momentos que, de algum modo, me ajuda a "disciplinar" a mente.
Obrigada pela partilha, Susana.
Obrigada eu pela tua partilha, Isabel.
EliminarQuem sabe estes migrantes sírios que se vierem instalar ao nosso lado nos tragam algo precioso que nós nem sonhamos ainda que vamos receber. A vida dá tantas voltas.
Um beijo, Isabel.
Querida Susaninha, somos feitos de pessoas que conhecemos e que não conhecemos. Somos feitos das mesma dores do mundo, porque estamos todos no mesmo barco.
ResponderEliminarUma das minhas melhores amigas na Alemanha era uma refugiada do Irão. Foi para ela que escrevi um dos últimos posts. E eu tenho tantas saudades dela!
Uma boa noite, querida Susana :)
Querida Miss Smile, muito obrigada por ter partilhado este pedaço de si, tão bonito como os outros que vamos lendo. É uma dor muito grande perder quem amamos. Espero que essa sua amiga tenha encontrado uma vida feliz na Alemanha. Pelo menos encontrou-a a si, e isso foi de certeza muito bom para ela.
EliminarUm beijinho, desta vez ainda mais sentido.
Venho confessar-te uma coisa: de vez em quando passo à tua "porta", espreito e com a "vergonha" não falo, tal como tu quando eras mais miúda :)
ResponderEliminarDesta vez não quis parecer mal educada e vim trazer-te um beijinho. Ah, e dizer-te que gosto da tua forma peculiar de escrever.
Beijinhos de viva voz
(^^)
P.S. ainda não descobri qual a foto da tua participação AQUI... mas não vou desistir! :))
Olá Afrodite, sejas muito bem-vinda!! Gosto muito de te ver aqui e por favor nunca te inibas de entrar e conversar comigo. As pessoas que me lêem, mesmo sem saberem, fazem-me bem. Por isso são muito bem vindas, comentem ou não. E obrigada pelas tuas valiosas palavras.
EliminarOlha, eu estava a fazer uma lista dos nomes dos "fotógrafos" lá na Tété, mas estou farta de coçar a cabeça porque não conheço o "jeito" da maioria das pessoas. Mesmo assim, vou tentar. :-)
Beijinhos de viva voz de volta! (sabes que eu não sei o que significa esse teu símbolo?)
Que símbolo?? Este? (^^)
EliminarÉ um sorriso com o olhar.
Esse mesmo!
EliminarEsses sorrisos são os melhores, Afrodite, de facto.
:-)
(o meu ainda tem nariz, é out of fashion, como eu)
O teu post está vivo. Muito vivo.
ResponderEliminarTenho lido e ouvido tanta barbaridade saída de pessoas como as que descreves, essas que mastigam o almoço e não conseguem entender o que é a fome.
Tristes tempos que vivemos nesta Europa que parece não encontrar mais o rumo certo.
Eu mesmo assim tenho esperança que se consiga encontrar uma solução e depois, num futuro próximo, todos possamos sentir que foi uma boa solução e que salvámos vidas sem ter de entregar as nossas.
EliminarUm beijo, Luisa, e obrigada.
Quando li este teu post tive vontade de dizer uma coisa e simultaneamente guardar o que me apeteceu dizer para mais tarde, vai ser agora:
ResponderEliminarE se à partida, amássemos (mais) toda a gente? (não no sentido romântico do termo claro :)). Tenho para mim, que vais entender perfeitamente esta alteração à pergunta inicial e nem sequer vais achar coisa completamente descabida. Cá por coisas :)
(e o Tempo Contado voltou, yuuupiiiiiii!!!!)
Beijinhos, Susana e um excelente fim de semana.
Acertaste, Cláudia, entendo perfeitamente o que queres dizer e não acho nada descabido. Acho até que podia ser bem melhor para todos. Mas na verdade, se pensarmos bem, há aqui pessoas que já fazem isso. :-)
EliminarBeijinhos, minha querida Cláudia. Bom fim de semana.