Reparo que na
página de escrutínio onde consta o meu nome de eleitora que sou, já toda a
gente, companheiros de folha no caderno eleitoral, tinha ido votar. Tola, ocorre-me que se isto fosse amostra
representativa do universo, abstenção nem vê-la, um grande zero é o que é, ou quase, como
no livro em que Saramago ensaiou sobre a lucidez, e parvamente sorri.
Duas horas na
autoestrada a caminho da urna olhando os loendros do separador central, que
ainda estão em flor, e faço a lista de razões mentalmente. O que levará um cidadão a
optar por não votar, ora deixa lá ver. Reflexão no modo o melhor que sou capaz e são três as razões que me restam como válidas:
depressão profunda, incapacidade física para o efeito, ausência do país por
motivo de força maior. Mais não me ocorre em tantos quilómetros de loendros.
Sobrou ainda tempo, é verdade, para conferir que me mantenho indecisa quanto à
cor da flor que lhes prefiro, se branca se rosa (se isto parecer piada política, não é, nem isso nem eu indecisa).
E depois vem
aquilo da página onde os dedos escrutinadores que procuravam o meu nome por
inteiro pararam e em voz alta alguém confirmar que eu sou eu, estou aqui
(aperto sempre a mão do presidente da mesa, porque na verdade gosto à brava
de votar, de estar ali, haja o que houver), e depois veio aquilo de esta vou-dizer-minha página estar
cheiinha de vistos nos quadrados em frente dos outros nomes, ah vizinhos!, veio aquilo de eu sorrir e sonhar
em me orgulhar absurdamente por fazer parte de um povo que se recusa a ficar indiferente e faz valer a sua voz, veio aquilo de ter a mania que é agora que a coisa vai.
Acho vergonhoso o tamanho da nossa abstenção.
Pois também o oceano é feito de gotas de água. Muitas e muitas, mas todas e cada uma contam.
Somos um povo com pouca cultura democrática, é o que é...
ResponderEliminarBeijos, Susaninha. :)
Será disso, Maria?...
EliminarBeijos democráticos, pronto. :-)
Eu também penso assim, Susaninha. Mesmo que estejamos descrentes, dececionados - e estamos todos um pouco -, ainda assim, não podemos descurar este nosso dever cívico que é, ao mesmo tempo, um direito conquistado, que importa preservar.
ResponderEliminarUm beijinho :)
Ou talvez haja quem queira dessa forma passar uma mensagem e não estejam todos os quarenta e muitos por cento a renegar o seu direito. Talvez.
EliminarUm beijinho, querida Miss Smile.
2 horas de autoestrada?!
ResponderEliminarMas tu votas no outro extremo de Portugal??
:D bricadeiraaaaaa
Olha eu estava a ver que não votava.
De manhã com catequese e missa não deu. À tarde lá vou eu... como sou muito esquecida resolvi enviar uma msg para o RE a solicitar informação sobre a minha mesa de voto ( disseram-me que tinham mudado)..
Veio a resposta e eu só li o fim. Edifício da Câmara Municipal - Galeria - Secção 1. E lá vou eu!
Chego e dou o papel de eleitor e o CC. Resposta não é aqui! É nas piscinas! Respondo eu mas a msg dizia que era aqui. Sabe, eles também se enganam....
Pronto (o telemóvel ficou em casa sem bateria!!!) lá vou eu para as piscinas...
Chego às piscina e repete-se... entrego o papel de eleitor e o CC. Resposta não é aqui! Esta letra não é nesta freguesia! O quê?! - pergunto eu.... Se não é aqui não voto. Espere um pouco lá fora que vamos já resolver isso - diz-me a menina.
Saiu da sala com o meu filho atrás que quis ver como era esta coisa de eleições...
E espero... 5 minutos.... 10 minutos.... 15 minutos.... 20 minutos....
Vamos embora para casa!!!
Mas que coisa... penso eu no caminho de casa.
Chego e corro para o telemóvel. Alguma coisa tinha de estar mal!!
Pois estava. Diz que se deve ler a informação toda... É verdade!
Eu li apenas o final....
Voltei a sair e dirigi-me novamente ao Edifício da Câmara Municipal - Galeria - Secção 1.
Pergunta: Ainda não votaste?!
Ao que respondo: Convém ler a msg toda - e mostro a msg no telemóvel - o meu numero de eleitor mudou e eu não reparei. Sempre voto aqui!!
A menina conferiu. O meu nome estava lá.
E pronto, Dever cívico cumprido!! Vou para casa mais descansada... até ver os resultados....
Beijinhos Susana
Mas que aventura, Mafy! Espero que o teu filho não se tenha assustado. Obrigada por a teres partilhado aqui, já me fizeste rir... desculpa. :-)
EliminarBeijinhos, Mafy.
Rir é bom :)
EliminarO rapaz não ficou muito bem impercionado.... mas a culpa foi da mãe... enfim.. nas próximas... com cautelas... levo-o novamente!
Beijinhos
Ainda mais do que envergonhada, fico indignada, para não dizer mesmo irritada, com a abstenção.
ResponderEliminarNão aperto a mão ao presidente da mesa, mas toda eu sou sorrisos, mesmo de verdade, de orelha a orelha, daqueles que dizem logo que esta pessoa também gosta "à brava de votar" :). Mesmo que nos queixemos quanto às alternativas, bolas, o direito de voto foi uma conquista muito importante, resultante do empenhamento, da luta de outros antes de nós, para agora ser tratado por tantos com descaso, com indiferença.
Beijinhos, Susana :)
Eu não gosto igualmente, entristece-me, a resposta geral que oiço à segunda feira quando pergunto se o fim de semana foi bom: "passou-se", com um encolher de ombros. Acho que é uma espécie de descaso da vida, que é tão curta.
EliminarBeijinhos, Cláudia :-)
"A linha consta de um número infinito de pontos; o plano, de um número infinito de linhas; o volume, de um número infinito de planos; o hipervolume, de um número infinito de volumes...Não, decididamente não é este, "more geometrico", o melhor modo de dar início à minha narrativa. Afirmar-se verídica é agora uma convenção de qualquer narrativa fantástica; a minha, no entanto, "é" verídica."
ResponderEliminarAo ler o início de O livro da Areia, de Borges, lembrei-me de grãos de água, e de gotas de areia, e de sermos isso mesmo, "nano partículas" de um grande volume.
Que pena virarmos-lhe as costas...
Um beijinho, Susana.
Ainda ontem vi no blogue da Cuca uma alusão a esse bendito livro (que eu desconheço) e ao infinito, até comentei. Obrigada por teres trazido aqui mais essa pérola, Teresa, é o tipo de engrenamento de ideias que me faz... como direi? entusiasmar, pronto. Ah, adorei!
EliminarOutro beijinho.