Quando me
ensinaram a dinâmica dos fluidos gostei muito dela apesar de o professor estar
constantemente a dizer digamos. Os fluidos são muito úteis como
meios de transporte de calor. Ou de força, uma espécie de energia: muitas coisas se podem fazer com os fluidos, especialmente se não estiverem em
repouso (dinâmica, daí o nome). Na altura, com certeza eu teria uns vinte anos de idade, não me teria
espantado de forma nenhuma se naquelas leis próprias dos fluidos a música tivesse sido invocada, explicada. A música é um
fluido. E, se o professor o tivesse feito numa das aulas sobre os fluidos em andamento, digamos, a música é um fluido, eu ter-me-ia endireitado
na cadeira, teria esticado o pescoço e aberto mais os olhos com muita atenção. E talvez essa aula tivesse mudado a minha vida, tanto que, mais tarde, ao
chegar a casa, teria procurado sem parar a minha solução para esta nova equação - qual música tem a melhor viscosidade para fluir do meu ouvido para o coração ou então para a alma (ainda não saberia). Em vez disso, fui
fazer outra coisa qualquer nessa tarde depois da aula que não mudou a minha vida.
Só hoje - já o
tempo me dobrou a idade uma vez vírgula tal - descobri isto de a música ser um fluido. Aconteceu de repente ao sentir-lhe a viscosidade perfeita, as notas, como que derretidas, escorreram em uníssono para dentro de mim cavando o silêncio absoluto da harmonia pura (é na alma), dando-me a doce vertigem de ser, mostrando-me a solução. Fechei os olhos e respirei fundo para abrir o caminho em forma de calor: entra, fluido.
Foi Rachmaninoff quem fez isto. Concerto para piano número dois, se faz favor, e agora com licença, não falar comigo.
Foi Rachmaninoff quem fez isto. Concerto para piano número dois, se faz favor, e agora com licença, não falar comigo.
Pronto, saio já!
ResponderEliminarBeijos, Susana. :)
Não, Maria, fica fica!
EliminarNão era preciso sair, era mesmo só fazer silêncio...
:-)
Beijos, Euzinha.
Vamos lá então ouvir esse fluido!
ResponderEliminar:)
E então, Cuca? Sentiste-lhe a fluidez?
Eliminar:-)
Susana, como não sou bem mandada, falo contigo.
ResponderEliminarAfinal o professor teve um papel importante nesta tua associação da dinâmica dos fluídos e a música. O que parece é que ele não foi muito explícito e obrigou-te a um esforço maior com um intervalo de tempo que parece grande. Só parece porque há sempre um tempo certo para as coisas nos acontecerem.
Bom fim-de-semana.
Beijos
Ó Isabel, mas tu tens sempre uma pequena dissertação acertada na ponta da língua? :-)
EliminarAquele professor parecia saído de um livro de banda desenhada, em que ele seria um detective que só queria comer hambúrgueres e não conseguia abotoar o casaco de gordo que estava, mas no fim descobria a chave do mistério e fazia um brilharete sem ninguém esperar. :-)
(também dissertei)
Beijos, Bailarina.
(não ouso perturbar)
ResponderEliminar(nem eu)
Eliminar:-)
Querida Susana,
ResponderEliminarA tua escrita é sempre música para os meus ouvidos: dás mesmo "as voltas certas ao texto". Comento neste post mas poderia fazê-lo noutro qualquer: gosto de todos.. e agora apeteceu-me diz-te isto! 😉 Beijinhos.
Querida Carla, música para os meus ouvidos são as tuas palavras. Muito obrigada por mas ofereceres. Beijinhos de volta.
EliminarFui calçar umas pantufas de propósito para não fazer barulho. Silenciosamente, deixo-te aqui, em cima do piano, este bilhetinho “Gosto de Rachmaninoff e gosto de ti”. Desculpa os estalidos vindos dos meus joelhos.
ResponderEliminarUm beijinho, querida Susana :)
Miss Smile, nós aqui todos no silêncio e eu estrago tudo com a gargalhada que o teu comentário me arrancou. :-)
EliminarTambém eu gosto de ti.
Outro beijinho, querida Miss Smile.
eu, como cheguei atrasada, e nem sempre deixo aqui registo, apesar das vindas, hoje, que devia entrar e sair sem dar nas vistas, é que me dá para matraquear nas teclas. Mas, atenção: faço-o antes de iniciar a audição que, espero fluída, sem interrupções, "digamos", deste trecho.
ResponderEliminarBom fim de semana,
Mia
Querida Mia, claro que não chegaste atrasada, a fluidez da música está sempre fresca para encantar quem a queira sentir. :-)
EliminarBom domingo. :-)
Tantas coisas nos passam ao lado quando temos 20 anos!
ResponderEliminar"Digamos"
:)
Digamos que, se tudo nos entrasse no coração e na vida logo aos 20 anos, então o resto que nos faltaria viver seria talvez um pouco... vazio.
EliminarOlá mz :-)
Em silencio te digo que adoro ouvir Rachmaninoff, sem duvida há coisas que só fluem com a idade.
ResponderEliminarBeijo e boa semana
Olá Cristina, bem-vinda :-)
EliminarAos vinte anos não ouvia Rachmaninoff, de facto. Mas Mozart, Verdi, Beethoven, Ravel e J. Strauss ouvia, ajudavam-me imenso a estudar.
Outro beijo e um bom resto de semana.
Que bom. Vim, na dúvida, do post lá em cima, isolado, mas aqui ainda consigo assistir ao concerto. :)
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