Já uso lentes de contacto há quê, trinta anos, quase trinta anos. E fiz uma coisa muito engraçada com elas, uma coisa que nunca tinha feito. Uma de cada vez, pus as duas lentes de contacto no mesmo olho e deixei o outro olho à míngua que é o mesmo que dizer à miopia. Ao pestanejar para acomodar as minhas lentes de contacto, como faço sempre desde há tanto tempo assim, vi logo que não via nada de jeito: uma mistura de vejo mal com vejo ainda pior. Perguntei mas qu'é isto agora? querem lá ver (que eu não consigo)?, e foi o arranhar do olho sobrecorrigido na pálpebra que me deu a resposta. Removi pois a lente encavalitada e devolvi-a ao olho de direito, o direito. Isto ontem.
E hoje? Hoje decidi experimentar a rua depois de estar em casa há uma semana sem parar e de ter bem distribuído as lentes de contacto à primeira, que é a esquerda, e à segunda, a direita. Devagar e em princípio sem coxear, saí de casa. A rua estava boa. Na calçada uma água cheirando a lava-tudo-floral revelou que tinha ali havido banho pela mão da porteira do prédio ao lado. Mas fui à padaria. Lá comprei o meu pão favorito e fatiado e bebi um café na continuação do balcão, onde deixa de ser padaria e passa a ser café, Ó Carla um café para esta senhora, já está pago!, diz a voz da padaria para os ouvidos do café, a senhora sou eu, digo à Carla ao aproximar-me com o pão já todo meu e obrigada, açúcar não é preciso, também lhe digo. Mas eu demoro imenso tempo a tomar um café para não me queimar. Portanto a Carla fez torradas e arranjou galões, serviu mais dois cafés e um sumo de laranja, preparou um pão de leite com queijo e sem manteiga, tudo assim até eu ficar pronta do café. Tornei então à rua para continuar a experimentá-la, mas ao atravessar a estrada fui interpelada pelo grasnarzinho familiar do papagaio do quiosque das flores, que informa o bairro todos os dias menos ao domingo da mesma situação: tjalp tjalp teren tjalp, e estive quase para ir lá embirrar com o papagaio, dobrar-lhe as penas, fazer-lhe olhos de má para lhe meter medo, no entanto sou muito boazinha e deixo-o estar no seu poleiro a coçar a barriga com o bico num momento raro de silêncio, optando por continuar a experimentar a rua que está tão boa.
Só falta amanhã, não é? Amanhã, sou pessoa para lá ir visitar o papagaio como quem não quer a coisa ao quiosque das flores e depois roubar-lhe uma pena verde, que ele das verdes tem muitas. A pena é para fazer de marcador dos livros exóticos que eu estiver a ler à janela ao som das variações do seu grasnarzinho que são nenhumas (outra pena).
(os papagaios não costumam grasnar, mas este completamente)
As minhas lentes de contato já andaram desaparecidas dentro de um olho durante três dias. Depois, uma manhã, a lente tinha voltado com ar de quem fez umas más férias...
ResponderEliminarJesus, três dias com as lentes à deriva nos teus (grandes, certamente, e belos) olhos?! E conseguiste adormecer e tudo?! fu, tu tens fibra!
Eliminar(eu teria desmaiado ao cabo de uma hora a escarafunchar os olhos, que eu a pirata, querida Cuca, nunca chegarei - mas dou bem para governanta do navio, por exemplo, se servir)
A lente ficou presa na parte de trás do olho e eu vivi tão bem com o facto que até pensei que a tivesse perdido sem dar conta!!!! Parece que aquilo lá para trás é tipo cofre de pirata... Cabe tudo!
EliminarDeixei de usar lentes de contacto há mais de vinte e cinco anos (Céus... como estou velha !)para me tornar definitivamente uma caixa de óculos.
ResponderEliminarJá quanto a café, sou também bastante demorada na sua toma e primeiro tenho que o "almarear" bem com a colher e algum açúcar, que eu ainda não sou abstémica. :)
isso do açúcar do café, é assim: um dia tomas um café sem açúcar, detestas. arrepias-te, sacodes a cabeça, fazes brrebreeebree. no dia seguinte tomas outro café sem açúcar e já não reages o programa tomo, ficas pelo arrepiar. à terceira vez achas bom. a partir daí nunca mais açúcar.
Eliminarcomigo foi assim, pelo menos. :-) tão fácil.
Acredito, sim. Se calhar é só começar. Como na ginástica, vá... :)
Eliminaró luisa, experimenta lá. tomavas aí uns 4 cafés sem açúcar, a ver se ao quarto já vais adorar. e depois vinhas cá contar à gente e já tínhamos uma estatisticazinha. :-)
Eliminarraios me partam se isto não a mais pura das verdades: não tinha ainda terminado a leitura do texto e já conhecia o destino da pena do papagaio... :)
ResponderEliminar______
eu sempre disse que nunca ninguém leu policiais suficientes (fala uma devoradora da colecção Vampiro)
mas ó alexandra, para que serve uma pena de papagaio senão para marcar um livro, nos casos em que as donas - nós, vá - não têm chapéus para enfeitar? (mas é verdade qu eeu sou um bocado previsível :-))
Eliminarah! e vampiras então somos duas, li todinhos os que apanhei na minha juventude. mas nunca - nunquinha - consegui acertar no criminoso nos da Agatha Christie, bah.
caraças, então estamos 1 a 0 :)
ResponderEliminarmas ganhas-me nas ciências, a minha paixão mais do que perfeita, de tanta dúvida conter :)
perdi! (oops :))
(se eu conseguir roubar duas penas ao macaco do papagaio, ofereço-te uma)
Eliminaro mal das ciências é que quanto mais sabemos mais dúvidas temos, tal como nunca viverei para ler os livros todos que gostaria de ler, também não viverei a tempo de ver uma ou duas dúvidas respondidas, é tão apaixonante como irritante.
:-)