04/10/2016

Depois de um hiato

Há dias no jantar dos trinta anos do curso maior que já fiz, sentámo-nos quase todos, em modo comovido, aquilo foi tremendo porque muitos de nós chegaram ali depois de um hiato de vinte e cinco anos sem avistar os demais e isso bolas, é muito, e sentámo-nos, dizia, em redor de um único centro, depois do jantar, cadeiras dispostas como (alguém lembrou) nos alcoólicos anónimos, e até fizemos duas investigações, uma, quantos de nós estão no facebook, duas, quantos de nós têm uma ou mais tatuagens. É preciso notar que a recolha de participantes para o grande evento foi feita sem recurso a redes sociais, o que é evidentemente notável (por isso estamos a notar). Tatuagens foi nenhuma, ninguém - demos garantias, para a estatística. Facebook pouco, dizem uns, nada, outros. Uma boa parte de nós ficou na universidade, ora investigando, ora ensinando.

Mas velhos não estamos. A Isabel recorda-se de tudo em detalhe “lembram-se daquela vez?, não, conta”, o Zé continua caladinho e magrinho, o Jonas parece o cientista que na verdade é, a Ana tem três filhos mas a Ana parece ela nossa filha, a Elisa fez não sei quantos brindes, o Filipe discursou, o Mário estava radiante, adora juntar pessoas, eu tive de dizer como vão as minhas irmãs, a Manuela julgava que o Pedro e a Paula tinham mesmo casado, casaram, mas não um com o outro, o Fernando ficou a trabalhar no mesmo sítio que o João, o Carlos continua a parecer um miúdo reguila, portanto velho só podemos dizer do carro do Rui, que foi para aqui chamado, era o Tobias e era este.

4 comentários:

  1. Depois de um hiato, quase como se não o tivesse havido. Nestes reencontros de amigos há sempre tanto para contar uns aos outros. Tanto que até parece que as conversas são só a continuação de outras que tivemos ainda ontem... Eu, pelo menos já senti a coisa assim. :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Precisamente, luísa. É como se não tivesse havido o hiato.
      Acho que todos sentimos assim.
      :-)

      Eliminar
  2. Nunca estive assim num grupo com tal interregno. Mas os reencontros com pessoas de quem gostamos genuinamente sabem sempre a um eclipse da distancia temporal, são no dia a seguir ao ontem de há décadas. O que é extraordinário. E até perigoso.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu também nunca tinha estado. Extraordinário foi. Perigoso é que acho que não. :-)

      Eliminar