27/03/2018

Amorzinho

Sabes-te desviada da rota. A cada minuto, mais um metro ao lado. Amortecido, o pulsar desse mundo que não te quer afunda-se num futuro paralelo. Levantas os olhos enquanto cumpres a espera e vês o miúdo robusto tentando trepar o vidro convexo, polido, do balcão dos bolos. Ignora as recomendações da mãe para ter cuidados com a senhora, amorzinho. O amorzinho de sua mãe. Demoras um tempo denso, lateral, a compreender que a senhora és tu, modo metálico de te constatares visível. Sem sorrir, preconizas ali um homem forte, fisicamente forte, em formação. Um homem que pertence.
De manhã, as obras do telhado contíguo invadem o fluido branco e espesso para onde aquele pulsar do mundo de que sobras te empurrou. E tu acreditas que, em princípio, está certo assim.