01/04/2018

Água mole em pedra dura

Deu-me a época pascal um motivo para é hoje, vou ligar à dona Esmeralda. Se bem o disse melhor o fiz (em criança tive dificuldade em entender esta expressão, perdia-me na interpretação, mas depois lá foi; e também aquela que a minha mãe dizia muito “gato escaldado da água fria tem medo” – eu achava que o gato devia ter medo era da água quente, mas depois também lá foi). Só que ela não atendeu. Ora eu fiando-me na tecnologia, pensei que mais tarde ou mais cedo o registo da minha tentativa iria fazer-se notar. E foi mesmo: hoje ligou-me de volta. Assim que me ouviu deu uma gargalhada – primeiro – e depois: foi você que me ligou ontem?
- Fui sim, dona Esmeralda. – outra gargalhada (dela).
- Bem me parecia. É que eu e o telemóvel não vamos lá muito um com outro, sabe?
Começa.
- Ah, sim?…
- Escute, é que eu ponho-o a carregar no quarto depois vou para a cozinha, quando vou para o quarto já ficou ele na cozinha, a gente não se entende, eu e ele.
Que saudades (acho que suspirei).
- Dona Esmeralda, como está? – foi a minha deixa.
- Eu estou bem, menina! Sabe lá, perdi muito peso, estou bem melhor, agora gosto de me ver ao espelho! E pinto o cabelo e faço a minha ginástica, olhe estou muito bem, pronto! E consigo, está tudo bem?
Sim, está, e…
- Olhe lá, quando tomamos um cafezinho? Gostava de conversar consigo, podíamos encontrar-nos depois do meu trabalho, ia ter comigo ali perto…
(ena!)
- Só não pode ser à segunda e à quinta que são os dias da minha ginástica e eu já agora, está a ver a menina, já agora não faltava à ginástica!
Estou a ver, estou, dona Esmeralda. Marcámos o dia e a hora, desliguei a chamada. Depois entrei neste blogue e pesquisei pesquisei até encontrar este post. Num papelinho, fiz a lista dos livros sugeridos pelos queridos leitores na preciosa caixa de comentários, levantei-me, vesti o casaco e fui à livraria. Como não tinham lá nenhum dos que pedi (quem não tem cão caça com gato - esta era fácil), escolhi um substituto que deve fazer boas vezes (mas guardei a lista na carteira, que isto há mais marés que marinheiros).
- É para oferta?
O livro para a dona Esmeralda foi embrulhado num papel às florinhas vermelhas e azuis enfeitado com um lacinho dourado de um brilho mate mesmo lindo.


(a dona Esmeralda é a senhora que serve os almoços na cantina do meu anterior trabalho e também foi musa inspiradora deste blogue nesse tempo já ido; não a vejo vai para dois anos)

4 comentários:

  1. a tua escrita sabe-me a chocolate quente em dias frios :)

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    1. bela flor, muito obrigada pela alegria que me dás com essas palavras. :-)

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  2. Depois do que li, eu toda num estado Macrossuave (pode ser?):

    Também voltei à tasca cujo regresso um candidato a genro inspirou, depois passei para um jogo de palavras reunidas em Microssuavidade e por letras que têm de ser adivinhadas ou intuídas por não estarem claramente pintadas, e é bem capaz de ter sido um "sobrinho todo moreno e bonito" a dar assim origem à proposta de tradução. Por último, notícias para as saudades da dona Esmeralda, que diz estar bem e parece mesmo que está, e também ficar a saber que, nós leitores, somos "queridos leitores", (que bom! Aquilo de estar farta e assim não é culpa nossa!).

    Sabes, as palavras que se seguem a determinadas leituras também são mesmo um fluido.

    Um abraço feito de amêndoas da Páscoa, Susana. Ah! E também um :-)

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    1. Macrossuave (se pode).
      Aliás deve. Ou que outro nome podemos dar a este comentário tão macrossortido em estado fluido de matar a sede a quem vier aqui parar a ler-te, Cláudia, hein?
      :-) (obrigada, eu adoro amêndoas)


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