16/06/2018

"Burgueses somos nós todos ou ainda menos"

Estamos na Feira do Livro. Estamos eu e um mar de gente. Entro num dos expositores de um grande espaço comum e oiço um menino mesmo junto de mim (estávamos todos juntos uns dos outros):
- Ó mãe, disseste que não vínhamos ver livros!!
Eh lá. Mas também se vem à Feira sem ser para ver livros?! penso cá comigo eu. O menino, sem obter resposta da mãe, também ela bem juntinha a mim, concentrada com um livro na mão, responde-me sem saber:
- Ó mãe, vá lá, disseste que vínhamos só comer!!

Saio do expositor e deixo-me ir levada para cima e depois para baixo, num embalar uno, esta massa de gente, enquanto aproveito o arrasto para decidir, vou ou não vou. Está, no espaço central a dar autógrafos, Mário de Carvalho. Não é pelo autógrafo, é, antes, para trocar uma ou duas palavras com ele, ver como é de perto um senhor cuja forma de escrever me tem encantado, a sua história de vida, a simplicidade que lhe brota de dentro tantas vezes em forma de candura, o sentido de humor, luminoso. Mas vou ou não vou? Não, não o incomodarei, ainda para mais já levei desta Feira, há dias, um livro dele que está em casa à espera de mim, não vou levar outro e... ou vou?... Desde que incomodei a Clara Ferreira Alves há duas Feiras atrás quando lá fui com o livro dela pedir o autógrafo que o placard dizia ela estar a dar, e no placard não esclarecia nada sobre ela estar a dar mas sem querer, sem querer aturar os leitores, xô leitores!, a andar!, afinal ela tem mais que fazer e está ocupadíssima a conversar com amigos, mudei. Nesse aspeto, mudei. Mas agora, olhando daqui ele não parece estar a despachar os leitores, ele sorri e conversa, talvez Mário de Carvalho esteja mesmo a dar autógrafos por querer. Vou. Tiro um livro da pilha, "Burgueses somos nós todos ou ainda menos", e ponho-me na fila.

- E Susana com Z ou com S?
- Com S, se faz favor.
Escreve com três dedos de um lado da caneta e o polegar do outro, já tenho visto quem escreva com dois dedos de um lado, mas com três nunca. Eu queria dizer-lhe que o admiro, que gosto do que escreve. E disse, devagarinho disse. Ele agradece, olha para mim, sorri. É uma pessoa doce, impossível não simpatizar com ele. Diz-me que espera que eu também goste de "Burgueses somos nós todos ou ainda menos". Levanto-me, dou-lhe dois beijinhos, agradeço, desejo-lhe felicidades e depois, ai, depois vem o inesperado.
- Se quiser escrever-me para o facebook, terei todo o gosto...
- Oh... mas eu não tenho facebook... - e desta vez custou um bocadinho.

Quanto ao livro autografado, vai quase no fim. Ele tinha razão e talvez eu lho diga na próxima Feira, se o lá encontrar. Que eu facebook é que não, isso ainda não.

16 comentários:

  1. Vamos ao que interessa: e o Pedro Mexia, estava lá? :)

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  2. Se o Mexia me dissesse que lhe podia escrever para o facebook, desmaiava.

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    1. Olha que ainda vim para casa a pensar, e se eu, de repente, fizesse um facebook?... Mas nem assim.

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    2. Eh pá, mas alguma alminha me diz quem raio é esse homem, o Mexia ou lá que é?!

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    3. Querida LK, a esta hora já deves saber quem é o misterioso cavaleiro que encanta a nossa Cuca e que dá pelo nome de Pedro Mexia. Não sei se isto ajuda ou desajuda, mas li recentemente que o Professor Marcelo não dispensa consultar o mesmo famoso Pedro Mexia lá para as decisões dele e também por isso ele, Pedro Mexia, se retirou um pouco das lides mais mundanas (concluo eu: blogue).
      (há um outro Mexia, esse António, que é um boss da EDP, mas esse deves já ter visto por aí) :-) ajudei?

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  3. isso lá do escrever com três dedos...jeito estranho esse.
    acho que escrevo com dedo e meio mais o polegar...

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    1. Mesmo estranho, mas engraçado. A caneta até ficava com um ângulo mais deitado. No entanto, a caligrafia é linda, posso afiançar. :-)

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  4. A Clara há muito perdeu a graça, nem devia comprar-lhe livros:)
    O Mário de Carvalho é um senhor...mas não o imaginava no Facebook.
    Não posso ir à feira do livro, não tenho onde colocar um livro mais...
    Resto de bom domingo Susana.
    ~CC~

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    1. Ai, isso do espaço é um problema, é... ou se adere aos e-books ou se muda de casa... :-)
      Uma boa semana, querida CC.

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  5. Olá. Não, Susana. Tenho os clássicos dele. :)

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    1. Muito bem :-)
      (não sei porquê não te fazia a gostar de Mário de Carvalho)

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  6. Olha!
    Eu tenho e já li o livro, mas o meu não está enriquecido com um autógrafo, nem com um convite para dar a minha opinião sobre ele por um dos meios que tornam isso possível, não está, não.
    Tal como tu, não tenho Facebook, e é sem ainda, sei que não irei ter, que sou teimosa nisso, mas, se fosse escritora, provavelmente teria, como mais uma ferramenta de trabalho, como uma forma de estar mais próxima de quem gostasse de ler-me e quisesse dizer-me coisas sobre isso, e, tendo em conta a quantidade de utilizadores, parte-se do principio que praticamente toda a gente, que tem acesso à net, tem Facebook, portanto, a opção Facebook, acaba por ser uma forma de facilitar o acesso para a comunicação. Pois, acredito que, desta vez, te tenha custado não ter, acredito :-)

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    1. Já houve outras vezes em que me custou um bocado, grupos em que me vi inserida e toda a gente comunicava via FB menos eu, etc. Mas nenhuma foi suficientemente forte para me fazer construir um mural de fotos minhas... (acho que o FB se baseia principalmente em fotos). Não tenho a menor vontade. Com tanto livro para ler.

      De qualquer modo prefiro não dizer desta água não beberei, acho mais seguro. :-)

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