Não pegava no computador há
muitos dias. A dor que hoje à tarde me chegou ao ombro direito não é daí, por
conseguinte. Atribuí a sua chegada ao muito que aspirei ou que esfreguei. Sobre armários, dentro de armários, gavetas, frigorífico.
Sou relativamente eficiente nas limpezas, mas custa-me começar (não é a tarefa
que mais adoro). Adio: escrevo uma mensagem no grupo do Whatsapp que a minha mãe inventou e que partilho com as minhas
irmãs também. Vou à casa-de-banho. A seguir olho pela janela, procuro um
pássaro. Despeço-me do jardim da casa. E depois então começo a limpar. Uso
luvas de borracha. As amarelas para a cozinha, as cor-de-rosa para as casas de
banho. Erik, meu marido, foi para debaixo da casa reparar qualquer coisa no isolamento
do chão. É um trabalho que tem de fazer a rastejar. A altura do espaço não
permite mais. Quando de lá saiu vinha cansado e bastante sujo, disse que
aquele não é o trabalho mais agradável que se pode fazer. Eu nem sequer
conseguiria ali entrar, quanto mais fazer a reparação do chão, por baixo, e
trazer as armadilhas para os ratos, por usar, felizmente (uma fechou-se com um
estalo que me fez dar um salto). Mas ele quer vender a casa no melhor estado
possível e faltava ir lá reparar o isolamento do chão. Aspirei os quatro pisos,
dentro dos armários e os três lances de escadas. Não é fácil acomodar o
aspirador nos degraus: ou aquele é demasiado largo ou são estes muito estreitos.
Uma vez - a propósito - caí numa das escadas com o tabuleiro do café. Nenhuma chávena se
partiu e eu fiquei inteira sei lá como. Creio que por a escada ser de madeira,
acho mesmo que foi isso que nos salvou, a mim e às chávenas, que a desceram
alegremente, inteirinhas até ao fim, logo seguidas pelo tabuleiro, este tendo perdido a
corrida. Mas deitei fora, nesse mesmo dia, os sapatos que me fizeram escorregar
num dos degraus. Resultou a medida: não voltei a cair. Nem sequer com o aspirador
às costas, e o cano, e o tubo, tudo, como hoje.
Mas depois do jantar estendi-me no
sofá a ler o meu livro. Comprei-o em Lisboa numa hora feliz na Feira deste ano.
Hora feliz é a minha tradução para a happy hour que eles têm lá, uma hora com descontos
valentes, porém não estou certa de que na Feira a designem assim. Que é uma
hora feliz para mim, é.
Ora cá vai então, diretamente da
página 81:
“Estamos, contudo, como povo, preocupados
com a efemeridade; há imensos frigoríficos.”
Saul Bellow, “Na corda bamba”,
Quetzal
Está a ir muito bem este meu primeiro
livro de Saul Bellow.
Bellow é excelência. Tens de ir por aí fora com a obra do shôr Saul, amiga. :)
ResponderEliminarViagem recomendada!
E tenho mesmo, amigo Diogo. :-)
EliminarÉ um prazer encontrar um novo autor de que se gosta assim, logo, tanto. E estou "apenas" no primeiro livro que ele escreveu.
Obrigada pelo teu reforço :-)