Levou-me o embate a sentar, quebrada, num banco da cidade ao
sol. Viste-me nascer, disse-lhe por dentro. A cidade não respondeu de um modo personalizado. Continuou oferecendo
o seu pulsar costumado, desenvolvido no ror de automóveis aos arrancos, obedecendo ao alternado das cores dos semáforos, nas bicicletas agora todas da
comunidade, as tão giras, a contornar pela direita com regras, e ainda se pode dizer nas
sombras das árvores primaveris que eu tinha observado da janela do terceiro
andar pouco antes. Um homem muito gordo e sujo veio perguntar-me algo que não
entendi. Enxotei-o. Pediu-me desculpa e afastou-se, foi abordar outros que
passavam pendurados em telefones retangulares de vidro. Fui egoísta e má. E a
sombra, toda lenta e silenciosa, vinha aproximando-se por trás com certeza. Primeiro
atingiu-me na nuca, cobrindo-me depois a cabeça com o seu véu frio, hoje ventoso, e
a seguir eu toda até aos pés. Engoliu-me, isso sim, na silhueta arquitetónica do
edifício já deitada no chão. Levantei-me da cidade. No
caminho para casa, comprei um ramo de rosas púrpuras, que ao contar dá oito. Ofereci-as à sala, e que lindas.
serve para o que servem os livros, para navegar.
ResponderEliminarhum... póssere, querida flor. :-)
EliminarMas os livros são lugares tão bons. (às vezes, que há-os feios porcos sujos e maus)
Vinha contar-te, mas era para o post anterior, agora, vai ficar aqui. Caramba, Susana, nem de propósito, já vais ler...
ResponderEliminarLi-te nas tuas considerações suculentas com "os espertos" de Tchékhov, fiquei cheia de pena, é que, se também tivesse lido, aconteceria tertúlia. Sabes, fiquei a desejar muito que alguém aparecesse para fazer aquilo que eu não podia, depois, ficaria a ler, toda deliciada. Entretanto, a minha curiosidade, fez uma busca, então, encontrei, num blogue Brasileiro, uns contos de Tchékhov, li logo o que escolhi primeiro, "A línguaruda", e, está visto, irei ler os outros que lá estão.
Não sei para que vos servem os blogues, mas sei por que razão senti necessidade de procurar-vos, depois de alguns anos a dizer mais ou menos isto: "Hei-de arranjar tempo para ler blogues, tenho mesmo esta ideia de que irá valer a pena". Digo-te, encontrei muito mais do que o que procurava, para além de, também eu, ter desatado a brincar com as letras, com prazer (vês, não é uma questão de generosidade...).
O que procurava, faz parte de tudo aquilo que é muito mais do que vivermos como se fossemos O Bode da D. Isilda e do Senhor Carlos.
Como vês, não sei para que te serve o blogue, mas sei exactamente por que razão venho lê-lo.
Sobre o Tchékhov, há muita gente a ler-lhe os contos, tenho a certeza (mas não vêm talvez aqui com vontade de comentar, fazer tertúlia ou não vêm aqui de todo - who knows) :-)
EliminarEu no Tchékhov - ainda isto - adoro a soltura dos personagens, a falta de contenção, de filtros, as mímicas, as maluquices, as bebedeiras. Não sei, adoro. :-)
É muito bom tu leres este blogue, Cláudia (para mim).
Nem todos os blogues servem para a mesma coisa assim como quem os lê não o faz com o mesmo propósito. Quanto a mim gosto sempre de voltar aos que têm gente dentro :)
ResponderEliminarQuerida GM, muito obrigada. :-)
Eliminar(espero que melhores depressa)
E o que responderam as rosas? Uma vez li sobre uma rosa que falava, e o jardineiro era um príncipe. Vale sempre a pena lá voltar.
ResponderEliminarUm abracinho horroroso :)
As rosas (vaidosonas) estão para ali que não dizem nada, não devem ter conhecido nenhum príncipe... (sim, vale sempre a pena lá voltar)
EliminarOutro ainda piorzinho, Teresa :-)