22/10/2019

Ata Luna. Spânia.

Há dias, precisei de comprar, com certa urgência, uma caixa para transportar animais. Gatos, por exemplo. E como não dispunha de vontade de procurar em lojas da especialidade, longe de mim, fui à loja dos chineses que não só estava perto de mim, como já sabemos que tem lá tudo (mas tudo, um enigma).
A chinesa dona da loja, que conheço há anos de a ver ali atrás do balcão, mas acho que ela nunca se lembra de mim, indicou-me o corredor especializado em oitocentas coisas incluindo caixas de transporte de animais.
Lá fui eu por ali fora, o corredor não é dos curtos, e escolhi uma caixa azulinha com corpanzil para levar dois gatos de uma vez, pareceu-me, e ainda aproveitei para registar na memória os restantes artigos afins. Nunca se sabe.
Quando me pus a caminho de regresso à caixa de pagamento com a caixa de transporte na mão, uma mesma palavra pode dar para tanto, ela estava ao telefone a falar o que para mim era completamente chinês. Abrandei então o passo e fingi interessar-me pelos chinelos de quarto ali pendurados suficientemente perto para me permitir ouvir a conversa. Os estalidos e as exclamações, evidentemente, aquilo encanta-me. De resto, é, como já disse, chinês. Quando decidi que já chegava de ouvir chinês, aproximei-me do balcão e a dona da loja terminou a conversação e olhou para mim. 
- Qué chineu? Qual qué numbo?
Até aqui ainda se traduz bem.
- Não, obrigada, estava só a ver.
E depois confessei.
- Gosto muito de ouvir falar chinês.
Sem se impressionar com o que eu disse (afinal se calhar lembra-se de mim) ela esclareceu-me, então, sobre o teor da conversa, deduzindo, bem, que esse eu não tinha podido interpretar.
- É Ata Luna.
- Como?
- Ata Luna. Spânia.
- Como, desculpe?
- Ata Luna, Ata Luna. Spânia.
- Espanha? Tem familiares em Espanha? - experimentei.
- Si, Ata Luna.
E então mostra-me, no seu telemóvel, as imagens dos protestos que decorrem na Catalunha.

Quando dou formação sobre temas nada a ver, costumo ainda assim mencionar que a comunicação é fundamental. Continuo, porém, a sentir que não se lhe dá a devida importância. Continuo, também, a sentir que, se a comunicação tivesse palavras e tivesse ouvidos em proporção equilibrada, talvez muitos protestos, destes e doutros, pudessem ser evitados. E como fiquei dias a pensar neste episódio da loja dos chineses, tinha de vir aqui contá-lo ainda antes de pegar ao trabalho. Bom dia!

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Bom dia de novo, Gina :-)

      (gosto sempre de ler nos blogues estes votos de bom dia, etc - é tão simpático)

      Eliminar