13/11/2021

Intercidades circula sem matemática

Acabo o telefonema a tempo de ver, muito atenta, o comboio entrar na estação. No meu bilhete eletrónico, recebido por mensagem no telemóvel, está indicada a carruagem 81. Muito atenta porque sei perfeitamente que o intercidades não tem 81 carruagens nem pouco mais ou menos. O sistema de numeração das referidas é um mistério que há anos não desvendo e ainda por cima desta vez vou inaugurar a primeira classe. A carruagem que lidera a composição passa ainda veloz por mim, exibindo um grande 1 de primeira, é nitidamente a 11. Começa bem. Colada a ela vem outra vestida de igual, também é de primeira, mas com o número a querer desaparecer, gasto que está das intempéries nacionais, não percebo. Depois seguem-se carruagens com um grande 2 a indicar, não segunda classe, mas classe turística, que sempre parece mais bonito a quem lê. O comboio pára. Da carruagem colada à 11, a tal de número exaurido, saem três homens vestidos. Envergam o uniforme dos comboios de Portugal e eu chamei-lhes um figo. Escolho um e abordo-o na plataforma de um entendimento de que preciso, o senhor desculpe, mas esta carruagem será a 81?
- Bom dia, minha senhora.
Realmente, eu nem os bons dias dei. 
- Bom dia, sim, esta carruagem é a 81, por favor?
- É a 81, é.
Confirma - se. A composição entra na estação com a carruagem 11 seguida da 81. Entrei nesta e dirigi-me ao lugar indicado no bilhete. A poltrona de primeira classe dá gosto de se ver, acolhe-me em toda a minha largura, casaco e pequena bagagem incluídos, faz-me até esquecer o mistério da numeração das carruagens. Instalo - me muito bem ali toda, tiro o casaco. Os primeiros metros do caminho acompanham-me o almoço que trago embrulhado em papel pardo. Uma carcaça com ovo mexido e alface, outra com queijo e compota de tomate, a minha preferida compota. Depois de comer, verifico a ausência de migalhas em redor, arrumo os resíduos e abro o computador.
É então que aparece, proveniente da carruagem 11, uma mulher jovem vestida. De cor de rosa, puxando uma malinha com rodas no mesmo tom e procurando, com sotaque brasileiro, um lugar tresmalhado onde deveria sentar - se, de acordo com o seu bilhete. Carruagem 24, diz ela, confusa.
Minha senhora, explica - lhe um homem que vai para a Golegã, essa carruagem é para aquele lado, e aponta na direção da classe turística.
Continuando a puxar a malinha com rodas e olhando para todos os lados, ela foi. Nitidamente confusa, repetimos, e não seria para menos. O número 24 costuma vir entre o 11 e o 81, mas não no intercidades, composição de material circulante sem matemática. Tão fofos.

6 comentários:

  1. Confuso realmente. Gostei da estória :)
    -
    Silêncio tão denso...
    -
    Beijo, e um excelente fim de semana.

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    1. Ainda bem, Cidália.
      Obrigada pelo seu comentário e um bom domingo!

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  2. E a numeração dos lugares, já reparou? É ainda mais misteriosa do que a das carruagens...(igualmente sem matemática mas com uma lógica a descobrir).
    ~CC~

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    1. Por acaso no Interciddes não reparei na numeração dos lugares, mas no Alfa Pendular - que nem é mau na numeração das carruagens - já reparei. Os lugares saltam de 6 em 6 ou coisa parecida. Mistérios, mesmo.
      Olá, CC :-)

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  3. É um dos meus receios quando uso o Alfa ou o Intercidades é não conseguir apanhar o compoio por não descobrir a carruagem . ULtimamente opto ppor perguntar ao funcionário na estação onde, mais ou menos, será a carrauagem X e normalmente eles acertam.

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  4. Adoro andar de comboio, todos os anos, eu mais a malta cá de casa, fazemos uma pequena viagem para não perder a "magia" dos carris!
    Gostei muito da história!

    Cenas de um Nerd

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