16/04/2022
Quatro chás ou cinco
07/04/2022
Há verdades que parecer não parecem
Ando meio que descasada dos livros, por estranho. Entrei firme em dois mil e vinte e dois com um José Saramago na mesa de cabeceira encimando os outros, lidos ou não. Ele vive comigo há valentes anos, mas por carregar um título sugestivo de viagem - logo eu que não sou desses – ou dessas, não sei bem, foi como que ficando na estante ao lado sabe-se lá de quê. Lembro-me que foi nos últimos suspiros de dois mil e vinte e um que o resgatei ao pó com um paninho de microfibra bastante colorido. Porém, a leitura não fluiu. O inverno ameaçando demitir-se e eu ainda não havia chegado às beiras, vindo bem lá do norte, igreja após igreja, como é o caso na obra que trata da saramaguiana Viagem a Portugal. Conversámos sobre isso e deixei-o de lado a descansar as páginas. Não é tanto o ser de viagem, que se perdoa pelo supremo das linhas, é mais o ser de incursões repetidas em igrejas mortas - fico cheia de frio. Aqui chegados, enquanto o livro goza as férias forçadas atiro-me a outro nobelizado sem querer: William Faulkner. É edição da Visão, apanhada também há muitas voltas ao sol numa bancada lisboeta, poeirenta, sob o incentivo de um desconto agradável: “A Luz em Agosto”. Começo pois em grande esperança de trama urdida, envolta na vontade de me afastar das igrejas lá cobertas do musgo mais antigo e até que a coisa primeiro pegou. Mas a páginas tantas o atrito dos meus olhos nada novos começou a ganhar vantagem aos poucos. Fui intercalando para não enfastiar. Passar a ferro, aspirar o chão e fazer compras no supermercado. Esta "Luz em Agosto" do Faulkner é aborrecida, complicadíssima, já a ficar escusada. Entretanto estamos em plena primavera como se pode confirmar pela data e a relação não vê melhoras, muito pelo contrário. Estou a uns conquistados três quartos do livro, com o final mais do que almejado no horizonte, mas decido abandonar o barco. Deito o livro fechado sobre o lençol fabricado em Portugal quase todo em algodão e suspiro pela encomenda da Wook anunciada para mais logo. A querida vem salvar-me logo a seguir ao almoço e eu rebento-lhe os atilhos. Disponho imediatamente em frente dos olhos muito ávidos os três volumes recém saídos da caixa, como candidatos. Pego primeiro naquele que mais esperança me dá não sei porquê: Leila Slimani, "O país dos outros". Abro-o, assino-lhe a segunda folha no habitual arrebatamento de posse e continuo. Vem uma página de citações, traz duas. A primeira parece uma poesia, passo. A segunda, mais crescidinha, formando um quadrado certinho, anuncia a sua origem: William Faulkner, “A Luz em Agosto”.
Pá.