14/08/2024

Misericórdia?

O céu acalmou. A manhã avança docemente numa luz cristalina e ténue vencendo, a espaços, as nuvens quietas que a tempestade de ontem não desfez.
Acordei cedo. Hoje é o meu último dia de trabalho antes de férias, ocasião que me dispõe lindamente.
A olhar o jardim através da grande janela, muito encantada com a luz, o complexo de nuvens e tons, cenário que justifica perfeitamente o conhecido ardor do pincel dos pintores flamengos, pus-me a pensar.
Qual terá sido o livro sobre um lar de velhos que a mulher do senhor Pereira trazia na mala*? Livro esse que entediou uma leitora exigente e experiente, como a querida MP?
Misericórdia, de Lídia Jorge?
A máquina de fazer espanhóis, do Valter Hugo Mãe? 
Os esquecidos de domingo, da francesa Valérie Perrin? 
Estes três vieram-me à cabeça com o prado verde ali mesmo à frente, tão belo, todo ele agosto, mesmo intenso.
Mas vou mais no primeiro. O do Valter Hugo Mãe já é antigo, o da francesa não levará MP a mergulhar nele, talvez. Ou é um qualquer outro cuja existência desconheço. Enfim. A verdade é que estou aqui diluída no verde, na manhã, nas nuvens, e nos livros sobre lares de velhos, antes de me pôr ao trabalho.
Mas Misericórdia não me atrai, precisamente porque desconfio que me iria entediar. 

(certo será que Em nome da terra entrou para a lista, aliás, já lá estava, mas subiu uns lugares na prioridade, subiu, subiu)


*13.8.2024

14 comentários:

  1. Talvez o "A Última Solidão
    de Carmen Garcia"? (tambem fiquei intrigada com qual seria o livro)

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    1. Olá ASAM, bem-vinda!
      Realmente, ficamos aqui numa curiosidade sem saber qual era o livro a passear-se na carteira da mulher do senhor Pereira.... não se aguenta, pfff.... 😊
      "A última solidão" não conheço! ... Será que era esse?

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    2. Sabes, Susana, parece-me muito que ASAM terá acertado. Esse livro foi muito divulgado/publicitado e a Mãe preocupada tem o cuidado de não pôr em causa as boas intenções de quem escreveu o livro, mas fala da tendência da maioria para aderir ao que está mais "na berra", afinal trata-se da "esposa" do senhor Pereira, casal que "cumpre à risca tudo como manda o figurino", não importa a que duras penas, mas que ali está também teimosamente rijo e depois fala apenas do seu gosto pessoal no que toca a tipos de escrita ou de formas de contar a escrever. (é, Mãe Preocupada, é? Bem que poderia vir aqui dizer, bem que poderia...)
      Agora, escritas à parte, Susana, tenho cá para mim que serias amiga de Carmen Garcia. Carmen Garcia é enfermeira e uma daquelas pessoas que ainda bem que está numa determinada profissão, uma daquelas pessoas que é uma sorte que nos calhe em momentos de fragilidade maior e que sabe mesmo do que fala dentro da área dela e que se preocupa mesmo e luta para deixar as coisas melhores. Penso que sim, penso que serias amiga dela.
      E uma semana o melhor possível!

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    3. Ah, esqueci-me de dizer que não li o livro e portanto não tenho qualquer opinião sobre ele. No meu caso, tem que ver com o tema, mesmo tratando-se de formas de escrever de deixar queixos caídos, ando cobarde para certas e determinadas realidades também na escrita...

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    4. Minha querida Cláudia, essa ideia de eu poder ser amiga de Carmen Garcia é muito bonita. Não conheço a autora, mas agora tenho mesmo de a conhecer. E o livro indicado pela ASAM pode ser o primeiro, se o encontrar. Engraçado, gosto imenso do nome Carmen.
      Quanto ao mistério em que a nossa Mãe Preocupada nos deixou, acho que temos de Bouvet com ele. Talvez o melhor mesmo seja lermos os livros aqui ventilados, e talvez outros sobre o tema, para concluirmos por nós próprias, se conseguirmos, claro!
      Só te digo, Cláudia, que por alguma magia boa, os blogs parece que têm tido um reanimar, ainda que tímido. E isso, caramba, é bom.

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    5. Não sei onde a inteligência do meu telefone foi buscar a palavra "Bouvet" , mas era "viver". Claro. Aliás, palavras parecidíssimas.

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  2. Só sei que gosto muito de Lídia Jorge.

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    1. Querido Diogo, e não és o único.
      Mas diz cá, leste o Misericórdia?
      E ainda: não queres dar o teu ilustre palpite quanto ao livro do post da MP que aqui nos trouxe, tu, poeta, que conheces tanta coisa?

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    2. Não li o Misericórdia; não sei qual livro saca a mulher do senhor Pereira da mala, como uma pistola. Mas, hey, tem tudo para eu gostar do Misericórdia - cheira-me é que é algo mais "in" do que Lídia Jorge. :)

      Boa noite, Susana.

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    3. O Misericórdia é um livro que Lídia Jorge escreveu a pedido da mãe quando esta estava num lar, onde pouco depois morreu de covid no início da pandemia, segundo me recordo. Creio que deve ser um livro diferente do habitual da LJ.

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  3. Gosto em geral da Lídia Jorge, embora com uma ou outra flutuação, ou seja, nem todos são brilhantes mas raramente são maus. Eu acho que é mesmo o Misericórdia, comprei-o para a minha filha e ela não o acabou ainda mas não estava a desgostar. Quanto ao tédio talvez venha sim como livro mas talvez seja inerente à vida no lar, esse vazio que se quer afastar.

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    1. Ah! Agora fico curiosa para saber se a sua filha termina o livro.
      De facto, um lar de idosos, em Portugal, é um lugar muito triste e monótono, onde a atividade principal é a televisão ligada... Digo em Portugal, pq os lares na Holanda são lugares muito mais bonitos, animados. Têm jogos, música, histórias, bolos.
      Mas enfim, a verdade é que não Visito um lar de idosos em PT há decadas e portanto só me estou a reger pelo que ouço nas notícias. Talvez não seja assim tão mau. Talvez eu deva ler o Misericórdia.

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  4. Querida Susana, fiquei exactamente no mesmo patamar de curiosidade quanto ao livro que se passeia na carteira da mulher do Sr. Pereira. O meu primeiro pensamento também foi para o "Misericórdia", mas desejei muito que não fosse; o livro é belíssimo: fresco e profundo ao mesmo tempo, de uma(s) sabedoria(s) rara(s). Acredito que vá ao gosto da querida MP. Foi ao meu. Foi muito ao meu gosto e recomendo. Foi uma leitura maravilhosa. Aventure-se e depois diga coisas! Abraço. Carla

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    1. Olá Carla! Há quanto tempo! Mas que bom receber o seu comentário!
      E que bom também saber que gostou tanto do Misericórdia. Já me deu incentivo para o ler também, eu que não estava muito para aí virada.
      Espero que tudo vá bem consigo, querida Carla. E retribuo o abraço, com amizade.

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