Mas, como a natureza tem o víço lá dela e sempre vence a parada, algum tempo depois as rosas tinham florido de novo e o quadro que elas pintavam, ali no seio de casas tão velhas, regressou em pleno. Eu passava de carro, sorria cá para dentro dos meus acessórios (botões, fechos de correr, presilhas e fivela), muito satisfeita.
Mas, após alguns dias, ou semanas, de esplendor rosado, eis que, de novo, o tapete de pétalas estendido no pavimento e, encabeçando o muro, só a linha de cotos despidos. Ai valha-me deus! Como é isto possível! A minha cabeça, neste ponto, mudou logo as ideias para outra mais cabeluda e miserável: alguém odeia os donos desta casa pobre, ainda que rica em roseiras, e está a vingar-se de alguma coisa! Ah, se a polícia passasse no momento do golpe e autuasse o diabrete que faz isto! Não há direito, umas flores tão bonitas! E por aí fora.
Todavia, conforme já estamos à espera, as rosas regressaram na potência toda que eu, humilde observadora das suas vicissitudes, lhes conhecia. Tão lindas outra vez! Ou mesmo mais viçosas ainda! Rejubilei ali bastante para o para-brisas, o volante, o retrovisor. Toma e vai buscar, ó ser demoníaco que estragas as flores!
Só que, tal como nas novelas da televisão, a história repete-se e, passado mais um tempo, de novo as flores desfeitas na estrada.
Ei! Espera aí! Isto merece uma análise mais aprofundada. Tu não me digas (o tu sou eu para os meus botões, colchetes, rebites e alças), que a destruição é propositada! Tu não me digas que é a dona, ou dono, (perdão, tutora ou tutor!) das rosas que lhes faz isto para lhes atiçar o vigor! Tu não me digas que é por seres uma ignorante destas ações sábias, que as tuas próprias roseiras são uma mistura esquisita de flores mortas e botões promissores mas mirrados!
Pois bem, meus pacientes amigos que chegaram até aqui: há dias passei lá e apanhei a cena em flagrante! Era a própria dona da casa e das rosas (quero dizer, tutora) que estava, com um jeito especial de mãos, meticulosamenre, a destruir as suas próprias rosas! Com ar de quem sabe muito bem o que está a fazer!
De modo que aprendeste a lição (digo para com os meus botões, bainhas, coses e atacadores), a não julgar logo à primeira.
Nem à segunda, nem à terceira.
Mas a poda das roseiras é um assunto muito sério Susana:) Pode resultar na vida das mesmas ou numa morte antecipada, poderão nunca mais dar rosas...ou essa senhora sabe ou teve muita sorte.
ResponderEliminarQuerida CC, eu tenho tanto a aprender nesta nova vida de pseudocampónia que agora levo... Vou já tomar nota disso! As minhas roseiras têm andado benzinho, mas aposto que é sorte de principiante!
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