04/12/2025

Como se diz agora, pedimos compreensão pelos incómodos causados

Sento-me viajando de costas. Vou carregada como nos tempos do liceu: livros, folhas, pastas de plástico de cores fortes a somar ao computador, claro. E aos transportes públicos. 
O pavimento está molhado, choveu de noite. Há mais carros nas ruas da cidade, o trânsito inferniza-se a espaços, emite buzinadelas. Não sei se é o Natal com os efeitos perniciosos de nos instar às pressas na direção das promoções, agora que finalmente nos livrámos da sexta-feira preta, uma estranha e longuíssima sexta-feira. 
Ou se é de mim que estou mais olhuda. Acabada de sair de dois livros que li sofregamente, um a seguir ao outro, e até a roubar tempo ao estudo, ai jesus, estou em penas. Queria ficar numa história onde se cabe tão bem. 
Com os olhos desfocados numa poça de água sobre o asfalto lá fora, ocorre-me outra vez que a vida é mas é brutal. Existir, ser aqui, chocalhada pelos arrancos do autocarro em hora de ponta, metido entre um condutor nervoso e outro chateado. 
Para diminuir um pouco a intensidade disto, evitar sorrir parvamente do meu assento para o ar húmido que embacia os vidros, enuncio mentalmente três coisas que não me ajeito a fazer, nem passado tanto tempo. 

Compor flores numa jarra. 

Escolher os cortinados certos, muito lindos. 

Fazer belíssimas resenhas de livros.

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