22/01/2014

A plenos pulmões

Anda muita gente a falar na zona de conforto, isto e aquilo, é em todo o lado, é sair, há que sair e não sei quê, já me anda a enervar.

Só não vi ainda ninguém a indicar o caminho para fora. É para onde? Para o aeroporto, se faz favor, isto disse eu ao taxista no outro dia, mas agora não é por aqui que vamos.

Vamos é dar um saltinho ao verão, que hoje choveu que se fartou, é para o dia em que eu saí da minha zona de conforto, se faz favor. Aviso já que não apreciei nem um bocadinho o resultado.

Era um domingo de Julho, um domingo de Julho de dois mil e treze e um domingo de Julho tórrido.

Saí de casa lançando-me nos mais de quarenta graus que o ar oferecia e tive a certeza que agora sim, isto é que vai ser, estamos em rota de cruzeiro para fora da zona de conforto. Aventurei-me rumo à praia, foi à Ericeira que apontei.

E tenho a dizer que consegui lá chegar. À Ericeira e à tal zona de fora do conforto, a foto não me deixa mentir.

A saber em detalhe: a) nenhum dos três chapéus de sol que se vêem na foto é meu, b) o meu estava fechado devido a uma crise gritante de espaço, c) estendi a minha toalha dobrada em quatro, com licença, d) enquanto tirei a foto pus o pé inadvertidamente dentro do balde da menina que brincava na toalha contígua à minha, e) e depois foi dificílimo retirá-lo sem cair em cima de cinco pessoas.


Estou, por conseguinte, inclinada a ir contra todas as recomendações oficiais e dizer ao mundo, deixem-se ficar na zona de conforto, não vão em cantigas.

No entanto, como tenho uma certa inclinação para a experimentação científica, cá vai outra tentativa, a confirmar.

Trata-se de, em vez de largar a escrever o que me anda à solta na cabeça, aos encontrões do lado de dentro do meu crânio fervente, aventurar-me a listar alguns conselhos de beleza e sucesso junto do sexo oposto dirigidos às mulheres. É um esforço que faço, coisa que, se a população de irmãs com que a vida me presenteou me lesse o blogue (não lêem) haviam, as irmãs, de arregalar os olhos incrédulas. Ora cá vai:

um. Após um dia inteiro com mini-meias de mousse calçadas, ou de vidro, tanto faz, não aparecer junto do vosso homem nas duas horas seguintes ao retirar das meias que, mesmo que as enrolem devagar para baixo e depois as façam girar em círculos à cowboy por cima das vossas cabeças, a marca do elástico continua lá;

dois. Ao deitar, não envergar a t-shirt do clube de futebol onde fizeram ginástica há uns quinze anos, cuja cor outrora branca assumiu um tom indefinido devido às lavagens e, ainda não acabei, em cujas mangas se pode ler em letras grandes, que era para se ver das bancadas do estádio, de um lado, "Grupor transitários" e, do outro, "Rações Sicasal Acral";

três. Deixar, ainda que vos custe, bem dobrada dentro da gaveta a roupa interior que herdaram de uma avó querida. Não é preciso deitar a roupa fora, basta mantê-la na gaveta de forma permanente.

Já estou suficientemente desconfortável e três conselhos que me custaram uma hora a escrever devem chegar.

Caso todos os meus onze leitores desapareçam deste blogue após este post, não considerarei recomendável a ninguém abandonar a zona de conforto. Direi, a plenos pulmões, como disse Camões (as rimas gostam de aparecer a esta hora), e tão bem que o disse: "Fazei o que mais souberdes."

(Seria uma pena perder os meus queridos leitores, o blogue dá-me tantas alegrias! Será que ter conta no facebook também é assim?)

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