- Outra vez às escuras?!
Não são poucas as vezes que oiço esta pergunta. E nestas não
poucas vezes, encontro-me na copa de uma árvore, sentada, a baloiçar os pés e a
pensar que sou um pássaro fugido de um quadro do Cruzeiro Seixas.
- Não estou às escuras, se estivesse não me tinhas visto
aqui – respondo.
É que isto irrita-me. O facto de haver um interruptor de luz
na parede não obriga o visitante a accioná-lo, isto deve estar escrito num lado
qualquer, de certeza que está, e se não estiver está agora aqui, que também é
válido.
A copa onde estou não é a da árvore, isso foi bug a meter-se connosco, e Cruzeiro Seixas
apareceu porque é arte que não aprecio, tal como esta perguntazinha. Refiro-me,
isso sim, à copa que dá para o refeitório onde costumo almoçar e que tem a máquina
de café que uso duas ou três vezes por dia, depende de circunstâncias. Esta
copa recebe luz natural que entra pelas enormes janelas da parede oposta do refeitório e recebeu logo na origem, aplicada no tecto, uma luminária de mau gosto e luz branca duvidosa do tipo câmara dos
horrores que, uma vez acesa, confere um tom esverdeado aos rostos de quem ali
está, não há maquiagem que nos valha, e distribui sombras fantasmagóricas por todo o lado.
Eu acho
que na pausa do trabalho as pessoas têm direito a um momento de repouso mental, um recolhimento à penumbra mais um menos sinuosa do
pensamento, o que interessa isso, uma visita a memórias quentes, um refrescar de cansaços antigos, numa
palavra, acolhedor.
E isto enquanto a chávena acolhe o café que corre
borbulhante, libertando o seu aroma insuperável de bom que é. Qualquer pessoa entende isto, mesmo as que não bebem café reconhecem-lhe a superioridade do aroma.
Dependendo do meu interlocutor, se é muito ou pouco de
iniciativas, muito ou pouco observador ou muito ou pouco aberto a diferentes
abordagens dos gestos habituais, posso ter de repente a luz acesa a queimar-me
o cérebro como se estivesse há oito horas na sala de espera de um centro de saúde
com cheiro a clorofórmio e muita ansiedade.
Portanto neste escorvar de semana, caso a qualidade da descrição acima não esteja ao nível do aroma do café, o que pode perfeitamente acontecer - arquitectos, por falar nisso, cadê vocês? - cá está mais uma
fotografia. Imagem colhida este sábado num bar que de acolhedor tem tudo, se situa algures nos Países Baixos e que trago aqui hoje para desejar a todos não um bom natal, lá iremos, mas uma boa, e porque não acolhedora, semana. Voilá.
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