27/12/2014

Chá verde

Acordei andava a madrugada pelas quatro horas e a lua não sei, da cama não a vejo, mas por acaso gostava de saber, que bem haviam de ficar aqui duas ou três palavras sobre o luar, paciência.

Mantenho os olhos cerrados numa precaução aprendida em noites assim, não poucas, mas o sono conseguiu fugir. Sem luar e sem sono, agarro-me ao vento. A janela aberta sobre a serra deixa entrar o som harmonioso desta serenata às folhas das árvores que se agitam trémulas de alegria, poesia assim ilumina qualquer um, mesmo sem lua. Ao longe oiço uma coruja mas o que eu gostava era de dormir. E de voltar a encontrar o veado. Quase o atropelava o mês passado, mês nada bom para atropelar veados, este surgiu a seguir a uma curva na estrada, surpreendido pelo carro teve uma ideia o belo macho, pôs-se a fazer corridas, mas que bicho tão grande, eram duas da manhã e ele também sem sono. Ganhou, meteu-se entre duas árvores onde a trabalhada estrutura que lhe ornamentava a cabeça conseguiu caber e desapareceu. As maçãs tinham assado bem, meti-lhes canela e vinho do porto e as sobras do natal estão quase consumidas, está tudo arrumado e limpo. Senti o sabor da chanfana do jantar, admira-me ter gostado tanto daquilo. Daqui a trinta e nove anos farei apenas o que me apetecer, ouviste? Teremos asas nas costas e levar-te-ei ao núcleo da Terra para te mostrar de que cor é este amor que plantaste na minha existência e me está a queimar os olhos.

Abro-os. O sol já vai alto, o céu vestiu-se de azul vibrante, a janela ainda aberta e o estômago a dar horas. Dez e meia e o padeiro passa daqui a nada. Está tudo por fazer. Queres um café ou tomamos chá verde?

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