01/12/2014

Quietinho no prato

Os rapazes da Coreia do Norte, não sei, talvez lendo “Dentro do Segredo” do José Luís Peixoto, mas os da Coreia do Sul, se recebem alguém que vem, por exemplo, da Europa, é mostrar o que valem em comidinha fresca. Peixe.

Sabendo já nós de sobejo que os japoneses nem sempre chegam lume ao pescado, preferindo enrolá-lo em pequenas obras de arte coloridas e de meter na boca mas só depois do equilibrismo nos pauzinhos e é para quem pode, e o comem, ao pescado, mesmo cru, estaremos certamente preparados para a eventualidade de os rapazes da Coreia do Sul enveredarem por caminho não muito díspar. 

Erik e dois colegas, enviados dos Países Baixos a uma conferência ali organizada, constituíram alvo da espontaneidade risonha dos orientais deste país do sul e viram-se acomodados em restaurante bem afamado, peixe cru é o petisco que está para vir, muito fresco muito fresco, tão fresco tão fresco que na verdade, vendo bem as coisas, ainda não morreu. E se não morreu - esta é fácil - está vivo.

Ora, quando o apetite não é desmesurado e os bichinhos esperneiam alegremente no prato, num prato sem gradeamento nenhum, era ou não era de lhes segredar discretamente: fujam, fujam!?

- Então como fizeste? Comeste?!?

Erik não comeu, um dos colegas ficou ligeiramente esverdeado na dificuldade: desiludir a generosidade dos sul coreanos que riam e acenavam muito em incentivos à degustação, contra a impossibilidade prática de meter um bocado de polvo vivo na boca, os polvos vêm cheios de pernas, ou serão braços?, e trazem ventosas de origem, aquilo é capaz de se querer meter no nariz se der uma chicotada no ar pelo caminho, nunca se sabe, e depois para descolar?


Eu cá penso que se torna bastante conveniente, ao almoço, ter tudo quietinho no prato.

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