Vou a conduzir pela auto-estrada de janelas fechadas ao sol neste domingo de
páscoa quando de repente percebo, com tremores no pescoço, que me sinto um
iogurte.
- Sinto-me um iogurte.
Dos de beber e de morango. O vento frio, embalado
em vácuo talvez não, mas rico em bactérias provenientes de todo um espectro, lufadas
potentes de ar muito fresco, condicionado, é-me hostil.
(escrevi este post ontem mas não o consegui fazer passar no crivo)
(escrevi este post ontem mas não o consegui fazer passar no crivo)
Mesmo que fosse uma garrafa de vinho
branco por abrir, pedindo gambas cozidas à mesa, não melhorava imenso a situação refrigerada em que me encontro.
Perguntei-me porquê um iogurte.
- Porquê um iogurte?
(portanto regressei para dar uns safanões ao post, depois dar-lhe colo)
“Quem não tem dentro de si alguma tristeza e solidão não é gente. É
personagem de anúncio de televisão.” (in Ana de Amsterdam, Ana Cássia Rebelo, Quetzal, pág. 128)
Depois suspirei, desejei arrumar depressa isto, é medo. Medo de caber num anúncio de televisão. Perder espessura ou abandonar a existência, coisa assim muito feia. Desliguei o ar condicionado.
Retomei o meu calor devagar, ao sol deste domingo de páscoa, e voltei a sentir a solidão. E com ela, embrulhado no brilho da tarde, um pedacito de tristeza. Ufa.
(o post passou, apesar do enjarramento ali de cima, passou; agora vai ser feliz para sempre)
Retomei o meu calor devagar, ao sol deste domingo de páscoa, e voltei a sentir a solidão. E com ela, embrulhado no brilho da tarde, um pedacito de tristeza. Ufa.
(o post passou, apesar do enjarramento ali de cima, passou; agora vai ser feliz para sempre)
Eu nunca serei personagem de anúncio de televisão. Mas não me sinto mal por ser assim.
ResponderEliminarAcho que até te deves sentir muito bem por não seres personagem de anúncio de televisão. :-)
Eliminar(embora quem o seja também talvez se sinta bem assim, numa vida de plástico com sorrisos fictícios)
Não resisto a deixar-lhe aqui o poema do Namora.
ResponderEliminar«Aqui ao meu lado o bom cidadão
escolheu Sagres
que é tudo tudo cerveja
a pausa que refresca
a longa pausa de um longo cigarro King Size.
atenção ao marketing.
Eu não gosto de cerveja
mas tenho que gostar que os outros gostem de cerveja
sobretudo da Sagres
para não contrariar os fabricantes de cerveja.
atenção ao marketing.
Ninguém contraria os fabricantes de cerveja
ninguém contraria os fabricantes da Opel e da Super Silver
nem os fabricantes de alcatifas para panaceias
nem as panaceias nem os códigos e os edredons macios
nem as mensagens de Natal dos estadistas
nem os negociantes de armas da Suiça
nem o homem de capa negra que virou as costas ao Palmolive
Está tudo perfeito e deito-me no conforto de um Lusospuma
a ver as procissões passar mesmo sem anjos mesmo sem anjos
que são agora selvagens e voam numa Harley.»
Querida G., não é todos os dias que se recebe um poema e eu, olha, nem sou muito merecedora de poesia, porque tenho cabeça dura para ela (a poesia), ando em treinos, isso ando.
EliminarMas, claro, deste poema doido gostei muito. Fez-me sorrir o tempo todo e ter vontade de me deitar no Lusospuma em vez de ir para a aula de dança. :-)
Muito obrigada.
Porquê um iogurte? Toda a gente sabe que os iogurtes são as novas lâmpadas de Aladino. Têm gênios lá dentro
ResponderEliminarClaro Cuca, isso mesmo. E os génios saem e concedem-nos desejos. O meu foi cumprido: não ser personagem de anúncio de televisão.
EliminarHá dias assim, de iogurte. Líquidos e frescos. Também há outros dias. Dias doces, de chocolate quente. São dias de gente absolutamente normal, que varia de bebida conforme lhe apetece. :)
ResponderEliminarE se não fosse haver dias para todas as bebidas, provavelmente vivíamos a preto e branco e tu não podias mostrar quão lindas são as flores que fotografas. As flores e tudo. :-)
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