- Não quer salada?
- Hoje não, obrigada. Já
levo este pudim com cheirinho para me colorir a tarde; o que é? Brandy? Bagaço?
– e quedo-me sem pegar no tabuleiro, estou a atravancar a linha de montagem dos
pratos de quem almoça na mesma cantina que eu, de facto a fazer muito bem um pescoço de
garrafa.
Diz-me então a dona
Esmeralda neste preciso momento e através dos óculos que parecem um nadinha
tortos todos os dias para o mesmo lado, ainda com a colher das batatas suspensa,
diz-me ela, de repente, eu já a pegar lentamente no tabuleiro enquanto aguardo esclarecimento acerca do líquido suspeito
que faz poça em cima do pudim castanho que preenche a taça de metal e que promete
ser de chocolate portanto eu cheia de esperanças, impossível reduzir o
comprimento desta oração, era desculpar, mas chocolate é chocolate, diz-me ela então
que me acha graça no bom sentido.
Portanto eu, logo a
seguir, para não empatar mais a linha de gente com tabuleiros de madeira e com
certeza uma fraqueza em cada estômago, era para lhe perguntar de que se trata
achar graça num sentido que não seja bom, pode saber-se, mas ela eis que opta
pela via rápida, corta a direito e vai assim,
- É açúcar derretido – enquanto
abana a cabeça como quem comenta para a colher das batatas, onde já se viu,
numa cantina destas, bagaço…
Portanto saio do corredor
onde se serviu hoje o borrego cozido e os dias de borrego são bons por causa da
musicalidade da palavra agarrada à imagem do animal, uma graça em todos os
sentidos, esse sim. Para mim são os singelos filetes de pescada, muito fáceis de
cortar e pobres em toxinas escaganifobéticas que me alimentam enquanto se
desfiam os temas do Benfica, mesmo ali em redor do meu pudim com topping de açúcar derretido, uma riqueza.
- Dona Esmeralda, eu
também lhe acho graça a si.
Um dia destes, entre uma
garfada e outra, a menos que Jorge Jesus surja no ecrã da parede do fundo, hoje
aconteceu, havia novidade, e eu a esse também acho graça no bom sentido por
causa do cabelo, um dia destes ainda lhe conto de isto, de ela vir parar aqui
ao blogue nos dias em que há borrego.
(este não é o post sobre palavras, sobre que é não
sabemos ao certo, daí o título)
Ah, mas é um post DE palavras, por certo, e das boas.
ResponderEliminarBeijos, Susana, e uma boa noite. :)
Maria, tu és rápida no gatilho e tens sempre uma mão cheia de palavras dessas, das boas, para oferecer, muito obrigada. :-)
ResponderEliminarBeijinhos e boa noite para ti também.
Não é um post sobre palavras, mas com muitas palavras salteadas, que trazem agarradas a si a imagem das coisas que nomeiam :)
ResponderEliminarA grande essência das palavras, Miss Smile, essa mesma, quem sabe, sabe! :-)
EliminarÉ sobre a esperança de beber um bagaço disfarçado ao almoço. :D
ResponderEliminarBingo! E a esperança, essa, já sabemos. Nunca morre. :-)
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