Agora ia um algarvezinho. Uma praiazinha pela manhã, quase ninguém,
as gaivotas, o sol a chapinhar na água e a maré magrinha, um cardume de
peixinhos não completamente opacos, para lá e para cá o cardumezinho, ai p'ra onde vamos, p'ra onde vamos, aprendizes
de tão novinhos serem, aquele espelho no areal interrompido por uma concha ou
outra concha e tipo, eu. E as ondazinhas a atirarem-se-me aos pés, faltava este verso ao
poema, o mar aos pés meu deus.
Ao invés, estamos, o aspirador e eu, em modo trabalho. Vacuum cleaner não podia ser mais
apropriado, lembrei-me. Mesmo que a gente se esqueça do que diz este termo
composto, quer dizer, não sei se é composto, mas é um termo duplo, o vacuum está ali para nos ajudar, uu
consecutivos com v aspiram mesmo, ó: vuuuu! (e agora ia dizer uma coisa e
lembrei-me doutra), c’est l’aspirateur!
A coisa de que me lembrei foi isto, eu com uns vinte anos e
tal, no dia de saída do apartamento de uma semana de ski (esqui?) numas
montanhas dos Alpes do lado francês, eu precisava de um vacuum cleaner mas francês, que era para deixar o apartamento todo
limpinho, regras, portanto desci à receção, como é que se diz aspirador em
francês? não deve ser aspirateur…, pensava eu, e então pus-me nisto assim tipo bonjour,
j’ai besoin d’une chose pour nettoyer l’apartement, s’il vous plait (e ao
mesmo tempo fazia o gesto de quem aspira ali a receção), une machine pour nettoyer… (e chão, como
é que se diz chão?…)
- L’aspirateur?! – a senhora da receção, voilá, toda francesa.
Vertendo-nos de novo em dois mil e dezasseis, três de um
agosto lisboeta, encontrei esta manhã o aspirador onde o deixei ontem depois de
uma tournée incompleta pela casa,
aguardando pegar ao trabalho para o terminar, mas isto banhado no sol que do
rio já se levantou e depois nele se deitou. Nele, no aspirador. Quase lhe achei
os plásticos bonitos, não, achei-lhe mesmo
os plásticos bonitos, brilhando, o tubo flexível, com uma graça toda ali, tanto que
estaquei mesmo à beira dele, bom dia, a
meio do corredor, observando este pedaço de agosto refletido assim, no
aspirador, e pensei epá vou escrever isto
toda eu já numa poesia (contudo, com tudo de plástico, com tubo de plástico... pronto, pronto). Mas depois foi giro porque, em começando a desfiar, vou parar àquilo
dos Alpes para onde te levei também.
Gostaste?
Adorei.
ResponderEliminarNão é fácil cruzar Agosto sem ser esmagados pelos seus dias.
Abraço, Susana.
E este até está um agosto ameno, todo jeitosinho, acho eu, que ainda não saí propriamente para o apanhar em cheio.
EliminarAbraço, caro Impontual :-)
Gostei muito. Tanto que fui levada por ti Alpes franceses, que é sítio que nunca vi com neve, mas vi sem neve, e é de fazer o coração galopar.
ResponderEliminarUi, o meu coração também galopou de cada vez que caiu na neve, a rebolar por ali abaixo, um ski para cada lado... se bem que ia envelopado pelo esterno, é certo, mas ainda assim galopou que foi uma beleza.
Eliminar(desculpa, Gina, é que tu tens essa habilidade de puxar por mim)
:-)
(uma vez, há muuito, muuito tempo, era eu petite, pedi trés glaces, em vez de trois. riu-se o vendedor, eu vermelha que nem tomate. pior do que isso só a minha infeliz ideia de dizer à madrinha no eléctrico: je suis constipé...)
ResponderEliminare pronto, menina Susana, volto ao aspirador do teclado :(
como diriam as alunas da minha irmã (que ela aprendeu a imitar): oh, c'amooor!!
Eliminar(eu admiro as pessoas que não têm medo nem vergonha de tentar comunicar numa língua que não dominam, só demonstra coragem e inteligência - aliás outra coisa não seria de esperar de ti, querida flor)
...bem, vamos lá ver... não que eu não domine (cof, cof), na altura é que era ainda uma criança... convenhamos...
Eliminar(eu?! eu até russo falo! e mandarim! e persa! muito melhor do que os nativos, até, visto que eles nunca me entendem... :)
mon chou, eu percebi que tu eras petite, daí o "oh c'amooor!!" :-) se já em petite eras assim, pois agora não me admiro nada com isso tudo, ai não senhora.
Eliminare no meu outro comentário, onde se lê "pessoas" era para se ler "pessoas de todas as idades" :-)
opá, deixa lá os nativos, o que interessa vraiment é que tu entendas tudo o que disseres :-)
isso, sim senhora! incentiva-me a falar sozinha! (mas que bela irmã mais velha, a menina me saiu! pfffff!)
Eliminar:)
gros bisous!
que bom, mais uma mana! :-)
Eliminar(gostei, viu?)
Gostei mas quero distância de aspiradores, aliás, acho que até sou alérgica, seja lá em que língua for. :))
ResponderEliminarBeijinhos, Susana.
Querida Ava, mas eu preferia mil vezes ser alérgica a aspiradores, frigoríficos, máquinas de lavar e ferros de engomar, não estou a brincar (e irrita-me que isto esteja a rimar), do que ser alérgica ao que sou... e que talvez até já te tenha dito: gatos.
EliminarNão é justo.
Beijinhos, Ava :-)
Fizeste-me rir, Susana, este teu post deu à luz de Agosto um riso todo bem-disposto, e eu aqui toda convencida digo-te que fiquei mais bonita que os plásticos do aspirador mesmo quando ele, o aspirador, vira l’aspirateur, como sabes, o riso, tal como o sol, põe, não plásticos, mas pessoas a brilhar. Saio pois daqui numa grande vaidosice mas, antes de sair, dou-te um abraço.
ResponderEliminarQuerida Cláudia, abraço a tua vaidosice com a minha, que também a terei em algum lado, e com muita força, de certeza a rir, debaixo deste sol de agosto que nos faz brilhar.
Eliminar:-)
Esse aspirador, pardon, aspirateur, deve ter uma tal potência que me aspirou o comentário que fiz perto da hora do almoço, altura em que , também eu, coincidentemente me encontrava na companhia de uma maquineta semelhante. Agora, fica aqui um agradecimento mais pequenino- já que me estiquei no anterior- por um registo tão, como direi, tão bom. :))
ResponderEliminarBeijinhos, Susana.
Mia, minha querida Mia, o aspirador é dispositivo especialista em rodapés... get it? foi isso.
EliminarMas ainda bem que vieste cá deixar este comentário, que já está dobradinho na prateleira, ao lado do buda que tenho ali, por baixo dos livros. Parece-te bem? :-)
Obrigada, querida Mia, beijinhos de volta.
que rico lugar havias de lhe ter arranjado. guardadinho ao lado do buda. parece-me bem.venho só desejar bom fim de semana (sem hífen), e lembrar cautela com os avisos amarelos e laranjas.
Eliminarbeijinhos, Susana. é um gosto vir aqui.
E é um gosto receber a tua visita, Mia. :-)
EliminarBeijinho.
O que ia bem era um Algarvezinho à moda do outono. Com frio e tudo.
ResponderEliminarTambém ia, eu do outono gosto em qualquer lugar, foste logo buscar a minha estação preferida, sua pirata.
Eliminar:-)
desconfio que só os portugueses se prestam à gentiliza de tentar falar a língua local, ainda ontem tive que dar informações em inglês a 2 italianos que compreendia perfeitamente quando falavam comigo ou entre si mas, não se esforçavam por me compreender a mim
ResponderEliminarA maioria de nós esforça-se, é verdade, e acho que só temos a ganhar com isso. Mas a nossa língua é muito rica em sons vogais (vocais?) e isso dá-nos um bom leque de hipóteses para reconhecermos os sons dos outros (italianos, espanhóis), eles, ao invés, como só têm um som de "a" e um de "o", ou coisa que o valha, não conseguem detetar os outros sons que nós inventámos. Somos tão giros. :-)
Eliminarhoje é dia de coraçãozinho fresquinho.
ResponderEliminardeixo-te um quilo.
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grelhados com sal, são um pitéu :b
e hoje é dia de te agradecer estes coraçõezinhos fresquinhos e muito bem vindos, minha querida flor.
Eliminarobrigada, estavam uma delícia. :-)
A praiazinha pela manhã, se for bem cedinho, é assim mesmo. Com quase ninguém. Até em agosto. Mas tem que ser cedo mesmo, na hora do aspirador, pouco depois dos donos da praia passarem as máquinas para alisar a areia e retirar alguns despojos da maré de gente do dia anterior. :)
ResponderEliminarah, luisa, as saudades que tenho de praia, uma praia assim!
Eliminarmas nas tuas fotos sempre vou lavando a vista, ai vou.
:-)