24/01/2017

Vamos lá para a frente

Vou a conduzir o meu carro pela avenida fora, até podemos dizer que é a avenida da república porque assim toda a gente a visualiza, é uma avenida onde já se podem encontrar uns dois ou três prédios bonitos, bo-ni-tos, coisa tão rara no restante da cidade, mas não era isto, era que vou a conduzir, já dissemos, pela avenida da república fora. Levo no carro o rádio ligado, o som a viajar dentro do habitáculo à velocidade lá dele (isto faz-me lembrar alguém) e nós vamos a menos de cinquenta, evidentemente, que eu tenho filhas para criar, quer dizer, acabar de criar, que começadas vê-se logo que já estão as minhas filhas, e está o locutor a anunciar situações em que estará patente ao público, em futuro próximo, música feita por jovens; são os nossos jovens músicos. Esta é a parte em que vejo à boca do túnel onde vou a entrar com o carro a cinquenta à hora, ou menos, e a música a muito mais, e agora somamos ou subtraímos as velocidades?, e vislumbro um cartaz gi-gan-te, tipo a toda a largura do túnel, ou seja, a valer aí uns dois carros lado a lado mais o intervalo, todo ele, o cartaz, de um vermelho em fundo e letras para aí pretas ou brancas, isso já não sei, dizendo mal de qualquer coisa que o governo fez, não retive devido à velocidade resultante que aqui vai ou então à ausência de respeito que levo por cartazes destes, do tipo oposição política a mal dizer o poder atual, como aliás é costume sejam quem forem uns e outro, a importantíssima absoluta e imprescindível prioridade política é dizer mal sempre e sem parar.

E nós também não paramos, que vamos dentro do carro, o carro já dentro do túnel, o cartaz lá para trás, os jovens músicos lá para a frente.


(Portanto: enquanto uns chapinham em maledicência e deitam dinheiro fora a fazer cartazes inúteis, o chamado desperdício visual, poluição também - aquilo é para quê?, outros compõem música e vão imprimindo beleza a este mesmo nosso pobre mundo. Bem hajam.)

19 comentários:

  1. Valham-nos as coisas boas e bonitas para não ficarmos tristes com essas tretas.

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    1. Olá Olívia, bem vinda. :-)

      Precisamente. E é apenas uma questão de sabermos ver as coisas bonitas e, se possível, fazermos nós duas ou três coisas também bonitas.

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  2. O nosso pobre mundo é assim mesmo. Temos que nos concentrar na parte boa que ele tem e seguir, como tu, em frente.

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    1. E fazermos a nossa parte de aumento da parte boa, a ver se fica o pobre mundo menos pobre e mais rico.
      :-)

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  3. É um facto, Susana. Há uma mania insistente das ciências da comunicação que é fazer o filtro entre trigo e o joio e publicar/publicitar o joio.

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    1. Pois há, Impontual. Por alguma razão mórbida parece que o público gosta mais do joio (o trigo não sei se não dará mais trabalho e não sei quê, não sei...).

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  4. Também já reparei no contrário, Susana, cartazes do Governo a dizer coisas como "na defesa da escola pública" ou "mais médicos de família" e outros parecidos que não fixei, que estava demasiado ocupada a pensar por que raio se gasta dinheiro nestas coisas...

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    1. De facto não consigo ver utilidade nenhuma nesse tipo de cartazes. às vezes parece-me birra de crianças a dizer que "o meu pai tem um carro maior que o teu" e disparates do tipo. Se em vez desses desperdícios de tempo e dinheiro, trabalhassem no governo deste pobre país é que era giro.
      Mas há coisas que não se põem em causa, continuam a fazer-se porque sempre se fizeram ou por motivos ainda mais perversos. Bah.

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  5. São essas coisas, penso eu Susana, que fazem com que a política caia no ridículo e contribuem para que as pessoas se afastem dela, é essa coisa de ver a política como se os partidos fossem clubes de futebol e funcionar com o mesmo tipo de cegueira e parcialidade que a paixão futebolística provoca, o que eu adorava assistir à maturidade democrática que seria um governo dizer que a medida x e Y do governo anterior tinham sido muitíssimo boas e por sua vez ter a oposição a reconhecer mérito às medidas h e z do governo em exercício, agora essa coisa que me parece ser "obrigatoriedade de discordar" acho francamente patética, é que concordar com todas as medidas parece-me tão inverosímil como discordar de todas. Já deixei um comentário no Pipoco que gostei tanto de escrever e agora o que me soube bem este desabafo, estou no lucro. :-)

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    1. De facto a cegueira e a parcialidade na política (ou em qualquer outra área, se bem que no futebol se aceita melhor, acho eu) descredibiliza-a. Eu também gostaria muito de ver gente honesta a fazer análises honestas mas sobretudo a concentrarem-se mais em trabalhar e menos em emitir opiniões e apontar o dedo uns aos outros. É conversa fiada que só faz ruído e enche o saco.
      Não há pachorra. Ou melhor (suspiro) há muito pouca.

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  6. se nã se fizerem cartazes, de que vivem as pessoas que fazem cartazes?

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    1. E se não venderem nuvens, deixa cá pensar... olha, podiam integrar-se em equipas de recuperação de edifícios que estão a cair aos bocados. Ou seja, em vez de desfearem a cidade, embelezavam-na. E depois, Manel, até podiam rematar com um poemazinho no rodapé do edifício recuperado, para que os passantes se enchessem de poesia e ficassem satisfeitos logo pela manhã, em vez de serem bombardeados com lixo visual.
      :-) respondi?

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  7. E que haja música, poesia, coisas belas para olhar, ver, contemplar se haja tempo ou mesmo sem ele, que ao belo não se regateia. Mas cartazes caros e impeditivos da visão...tenham dó.

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    1. Olha... eu a acabar de sugerir poesia ali ao Manel e depois a ver aqui a sua sugestão, bea. :-)
      Música. Isso.
      Uma coisa que eu adoro e que, enfim, só não me meto nisso a sério porque de facto o tempo de elástico não tem nada, é os flashmobs. Um pedaço de música e dança, inesperadamente, por aí, para dar. Faz mais por nós TODOS do que essa porcaria dos cartazes.

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  8. Olaaa, só para dizer que continuo a seguir o teu blog. Beijinho grande.

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    1. Meu querido Zé Luís, este blogue é um blogue todo sortudo. Tem leitores (e seguidores) de alto gabarito! :-)

      Beijinho grande também para aí, a todos.

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  9. Olaa! Adorei o texto :)
    Peço desculpa pela invasão
    maocheiadeletras.blogspot.com

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