Vou a conduzir o meu carro pela avenida fora, até podemos
dizer que é a avenida da república porque assim toda a gente a visualiza, é
uma avenida onde já se podem encontrar uns dois ou três prédios bonitos,
bo-ni-tos, coisa tão rara no restante da cidade, mas não era isto, era que vou
a conduzir, já dissemos, pela avenida da república fora. Levo no carro
o rádio ligado, o som a viajar dentro do habitáculo à velocidade lá dele (isto
faz-me lembrar alguém) e nós vamos a menos de cinquenta, evidentemente, que eu
tenho filhas para criar, quer dizer, acabar de criar, que começadas vê-se logo
que já estão as minhas filhas, e está o locutor a anunciar situações em que
estará patente ao público, em futuro próximo, música feita por jovens; são os
nossos jovens músicos. Esta é a parte em que vejo à boca do túnel onde vou a entrar com
o carro a cinquenta à hora, ou menos, e a música a muito mais, e agora somamos ou subtraímos as velocidades?, e vislumbro um cartaz gi-gan-te, tipo
a toda a largura do túnel, ou seja, a valer aí uns dois carros lado a lado mais
o intervalo, todo ele, o cartaz, de um vermelho em fundo e letras para aí pretas ou
brancas, isso já não sei, dizendo mal de qualquer coisa que o governo fez, não
retive devido à velocidade resultante que aqui vai ou então à ausência de
respeito que levo por cartazes destes, do tipo oposição política a mal dizer o
poder atual, como aliás é costume sejam quem forem uns e outro, a
importantíssima absoluta e imprescindível prioridade política é dizer mal
sempre e sem parar.
E nós também não paramos, que vamos dentro do carro, o carro já dentro
do túnel, o cartaz lá para trás, os jovens músicos lá para a frente.
(Portanto: enquanto uns chapinham em maledicência e deitam dinheiro
fora a fazer cartazes inúteis, o chamado desperdício visual, poluição também - aquilo
é para quê?, outros compõem música e vão imprimindo beleza a este
mesmo nosso pobre mundo. Bem hajam.)
Valham-nos as coisas boas e bonitas para não ficarmos tristes com essas tretas.
ResponderEliminarOlá Olívia, bem vinda. :-)
EliminarPrecisamente. E é apenas uma questão de sabermos ver as coisas bonitas e, se possível, fazermos nós duas ou três coisas também bonitas.
O nosso pobre mundo é assim mesmo. Temos que nos concentrar na parte boa que ele tem e seguir, como tu, em frente.
ResponderEliminarE fazermos a nossa parte de aumento da parte boa, a ver se fica o pobre mundo menos pobre e mais rico.
Eliminar:-)
É um facto, Susana. Há uma mania insistente das ciências da comunicação que é fazer o filtro entre trigo e o joio e publicar/publicitar o joio.
ResponderEliminarPois há, Impontual. Por alguma razão mórbida parece que o público gosta mais do joio (o trigo não sei se não dará mais trabalho e não sei quê, não sei...).
EliminarTambém já reparei no contrário, Susana, cartazes do Governo a dizer coisas como "na defesa da escola pública" ou "mais médicos de família" e outros parecidos que não fixei, que estava demasiado ocupada a pensar por que raio se gasta dinheiro nestas coisas...
ResponderEliminarDe facto não consigo ver utilidade nenhuma nesse tipo de cartazes. às vezes parece-me birra de crianças a dizer que "o meu pai tem um carro maior que o teu" e disparates do tipo. Se em vez desses desperdícios de tempo e dinheiro, trabalhassem no governo deste pobre país é que era giro.
EliminarMas há coisas que não se põem em causa, continuam a fazer-se porque sempre se fizeram ou por motivos ainda mais perversos. Bah.
São essas coisas, penso eu Susana, que fazem com que a política caia no ridículo e contribuem para que as pessoas se afastem dela, é essa coisa de ver a política como se os partidos fossem clubes de futebol e funcionar com o mesmo tipo de cegueira e parcialidade que a paixão futebolística provoca, o que eu adorava assistir à maturidade democrática que seria um governo dizer que a medida x e Y do governo anterior tinham sido muitíssimo boas e por sua vez ter a oposição a reconhecer mérito às medidas h e z do governo em exercício, agora essa coisa que me parece ser "obrigatoriedade de discordar" acho francamente patética, é que concordar com todas as medidas parece-me tão inverosímil como discordar de todas. Já deixei um comentário no Pipoco que gostei tanto de escrever e agora o que me soube bem este desabafo, estou no lucro. :-)
ResponderEliminarDe facto a cegueira e a parcialidade na política (ou em qualquer outra área, se bem que no futebol se aceita melhor, acho eu) descredibiliza-a. Eu também gostaria muito de ver gente honesta a fazer análises honestas mas sobretudo a concentrarem-se mais em trabalhar e menos em emitir opiniões e apontar o dedo uns aos outros. É conversa fiada que só faz ruído e enche o saco.
EliminarNão há pachorra. Ou melhor (suspiro) há muito pouca.
se nã se fizerem cartazes, de que vivem as pessoas que fazem cartazes?
ResponderEliminarOra... Que vão vender nuvens!!
EliminarE se não venderem nuvens, deixa cá pensar... olha, podiam integrar-se em equipas de recuperação de edifícios que estão a cair aos bocados. Ou seja, em vez de desfearem a cidade, embelezavam-na. E depois, Manel, até podiam rematar com um poemazinho no rodapé do edifício recuperado, para que os passantes se enchessem de poesia e ficassem satisfeitos logo pela manhã, em vez de serem bombardeados com lixo visual.
Eliminar:-) respondi?
E que haja música, poesia, coisas belas para olhar, ver, contemplar se haja tempo ou mesmo sem ele, que ao belo não se regateia. Mas cartazes caros e impeditivos da visão...tenham dó.
ResponderEliminarOlha... eu a acabar de sugerir poesia ali ao Manel e depois a ver aqui a sua sugestão, bea. :-)
EliminarMúsica. Isso.
Uma coisa que eu adoro e que, enfim, só não me meto nisso a sério porque de facto o tempo de elástico não tem nada, é os flashmobs. Um pedaço de música e dança, inesperadamente, por aí, para dar. Faz mais por nós TODOS do que essa porcaria dos cartazes.
Olaaa, só para dizer que continuo a seguir o teu blog. Beijinho grande.
ResponderEliminarMeu querido Zé Luís, este blogue é um blogue todo sortudo. Tem leitores (e seguidores) de alto gabarito! :-)
EliminarBeijinho grande também para aí, a todos.
Olaa! Adorei o texto :)
ResponderEliminarPeço desculpa pela invasão
maocheiadeletras.blogspot.com
Invasão nada, ora essa, Mariana. Bem vinda. :-)
EliminarE obrigada.