Por causa da novidade que este ano foi, primeiro, cobrar iva
aos meus clientes e depois aprender a entregá-lo a quem de direito, o estado,
quer dizer, Estado - sendo composto por tanta gente o melhor é não lhe negar a
maiúscula – arranjei uma contabilista. Por acaso até arranjei duas, que da
primeira não gostei. Dispensei-a logo mais ou menos à cabeça, ela ficou um
bocado zangada comigo (mas não tanto como eu com ela), e de maneira que procurei
a segunda. Encontrei-a num escritório mesmo ao lado de uma fieira de prédios,
um deles tem um café.
Entrei, empurrando a porta diretamente da rua. Dentro o
espaço é amplo. Tem pilhas de papéis em todas as secretárias à exceção de uma e
dentre elas vejo surgir a minha nova contabilista, que traz um sorriso cordial.
Cumprimentamo-nos, é a primeira vez que nos vemos. Ela encaminha-me para uma sala
de reuniões e tratamos dos meus assuntos. O que a mim parecia um molho de brócolos num leque de incertezas, a ela apresenta-se como uma situação do tipo velha amiga e, com muita
calma, segurança, tranquilidade e sempre formal, desatou a minha
contabilista ali os nós para mim. Saí toda aliviada, afinal a autoridade tributária
talvez não me odeie nem me queira castigar por exemplo por eu ter nascido, ou
seja, aquilo não é por mal. Entretanto vamos na terceira reunião e a
formalidade continua mas eu já sei ao que vou. Uma paz assente em pilhas de
papel, as secretárias, o espaço amplo, a tranquilidade, a possibilidade de
acreditar, quando de lá saio, que sou uma contribuinte feliz, digamos com futuro sorridente. A
minha relação com a autoridade tributária, grande nome, que até há pouco tempo se
pautou por abundante estabilidade pode dizer-se a roçar a monotonia, tem agora
altos e baixos e nos baixos eu vou lá a correr à minha contabilista. Ela sorri ligeiramente mantendo-se tranquila, formal já disse, portanto não se assustando com nada. Sentamo-nos
e depois guia-me no preenchimento dos campozinhos no sítio lá do portal, vai falando
baixo, está sempre serena (adoro ver e com sua licença também tomo notas). Voltei lá na
semana passada. Como cheguei uns minutos antes da hora marcada apesar das voltas
para estacionar o carro decentemente, fui ao café da fieira de prédios tomar um.
Dali são meia dúzia de passos até alcançar a porta, que empurrei, lá vem ela do
fundo dos papéis, o sorriso cordial, boa tarde, como está? Cumprimentamo-nos, já
se sabe que é beijinho beijinho mesmo na formalidade, eu parece que com receio de a incomodar na sua
paz.
- Esteve a tomar café.
- Estive…
- Nota-se, cheira.
- Ah, desculpe…
- Desculpe nada, que eu adoro esse cheiro, adoro! Uma pessoa
até fica com outra disposição!
E depois, sim, claro que desatou os nós que eu levava, a
carta da AT que agora não escrevo por extenso e que vinha bastante amachucada
de eu tanto a estudar, pois então preenchemos os campozinhos, escrevemos uma
situação, ela explicou-me por que motivo recebi aquilo, é normal, nada a temer,
saio daqui sempre mais leve. Mas desta vez teve Ricardo Araújo Pereira, mixórdia
de temáticas, Facebook, Facebook!, férias e afins, idades dos filhos respetivos
e características inerentes, uma ou outra cena familiar, enfim, estive vai não vai
para lhe dizer que adoro óculos de massa vermelha, ela tem uns, mas isso fica
para a próxima.
Que não sei quando é. Só sei que a seguir a um café.
(Este post tem um erro, mas é difícil de descobrir - não tendo sido propositado, não o corrijo, a ver se alguém o quer encontrar)
Olá Susana, sabes lá tu o que eu me pelo por desafios ortográficos! (diz-me só que não se trata de um "erro" relacionado com a salsada resultante da suposta aplicação do alegado AO, pois nesse caso não me darei ao trabalho. Caso contrário, dar-me-ei ao prazer!)
ResponderEliminar(iva?)
ResponderEliminarClaro que iva merecia ser IVA, mas não é esse o erro. Nem é erro ortográfico ou de sintaxe (o que não significa que não haja algum destes), ou da salsada - lindo - resultante do AO ao qual eu tento aderir respirando fundo, mas refiro-me a um erro do tipo incongruência.
EliminarTalvez até seja um preciosismo meu, não sei. A ver se alguém o apanha, caso não, eu revelo. :-)
Ah bom, assim já ali vou respirar um bocado e volto mais tarde... de incongruências também gosto, confesso, mas dão mais luta, as manhosas. ;) Até já.
Eliminar(mau, já li o texto "algumas" vezes e não estou a encontrar o erro! Querer eu quero, porra, mas não consigo, é por estas e por outras que não vou naquelas conversas dos optimistas desenfreados que querem fazer-nos acreditar que blábláblá tu podes tu consegues!, ainda por cima as minhas veias obsessivo-compulsivas, mais as paranóicas e as psicóticas, estão a começar a ferver, alguém venha pôr termo a isto, acudam-me, se faz favor!)
ResponderEliminar("saio daqui"?)
ResponderEliminar(merecias que te confidenciasse teres sido responsável pelo meu primeiro cigarro do dia, prematuro, que não costuma ser tão cedo. Fui apanhada em flagrante na varanda, "Tu, aí?"... )
O erro vou dizer qual é (para evitar mais cigarros extra) - eu digo no post que empurro a porta diretamente da rua. E empurro, só que ela não abre. Só abre quando a puxo.
EliminarEu estava (e acho que ainda estou, mas não consegui confirmar) em crer que certos edifícios devem abrir as portas no sentido da evacuação (segurança contra incêndios), ou seja, para fora, para a rua, mas pus-me a pensar bem e conheço imensos edifícios de espaços comerciais que abrem a porta exterior para dentro.
Até fui consultar a legislação, mas não fiquei totalmente esclarecida quanto a isto, há muitas nuances. Portanto, olha, acho que te devo um pedido de desculpas. Desculpas?
(mas ainda vou averiguar melhor, que agora fumava eu um ou dois cigarros, se fumasse) :-)
Um café, no entanto, já vai.
ahahahahahahahahahahah
Eliminaracho que nunca mais lá chegava, que eu até sou daquelas que empurra quando diz "puxe" e vice-versa...
(café são só dois, logo de manhã, um a seguir ao outro)
Isso não vale! Só tu própria poderias descobrir o erro...
EliminarEstes desafios de verão estão cada vez mais complexos.
Isso é porque o erro afinal não é bem erro erro. Caso contrário, havia de ser muito mais giro!
EliminarMas que há desafios de verão muito mais incríveis por aí, ai há!
Eu estava mais inclinada para esta parte: "a possibilidade de acreditar, quando de lá saio, que sou uma contribuinte feliz."
ResponderEliminarOra, será isto possível????
:)
E seria uma excelente inclinação.
EliminarMas sabes, eu acho que sim, que é possível. Tenho sempre esperança. Aliás preciso de a ter, é mais isso.
:-)