a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

18/07/2017

A seguir a um café

Por causa da novidade que este ano foi, primeiro, cobrar iva aos meus clientes e depois aprender a entregá-lo a quem de direito, o estado, quer dizer, Estado - sendo composto por tanta gente o melhor é não lhe negar a maiúscula – arranjei uma contabilista. Por acaso até arranjei duas, que da primeira não gostei. Dispensei-a logo mais ou menos à cabeça, ela ficou um bocado zangada comigo (mas não tanto como eu com ela), e de maneira que procurei a segunda. Encontrei-a num escritório mesmo ao lado de uma fieira de prédios, um deles tem um café.
Entrei, empurrando a porta diretamente da rua. Dentro o espaço é amplo. Tem pilhas de papéis em todas as secretárias à exceção de uma e dentre elas vejo surgir a minha nova contabilista, que traz um sorriso cordial. Cumprimentamo-nos, é a primeira vez que nos vemos. Ela encaminha-me para uma sala de reuniões e tratamos dos meus assuntos. O que a mim parecia um molho de brócolos num leque de incertezas, a ela apresenta-se como uma situação do tipo velha amiga e, com muita calma, segurança, tranquilidade e sempre formal, desatou a minha contabilista ali os nós para mim. Saí toda aliviada, afinal a autoridade tributária talvez não me odeie nem me queira castigar por exemplo por eu ter nascido, ou seja, aquilo não é por mal. Entretanto vamos na terceira reunião e a formalidade continua mas eu já sei ao que vou. Uma paz assente em pilhas de papel, as secretárias, o espaço amplo, a tranquilidade, a possibilidade de acreditar, quando de lá saio, que sou uma contribuinte feliz, digamos com futuro sorridente. A minha relação com a autoridade tributária, grande nome, que até há pouco tempo se pautou por abundante estabilidade pode dizer-se a roçar a monotonia, tem agora altos e baixos e nos baixos eu vou lá a correr à minha contabilista. Ela sorri ligeiramente mantendo-se tranquila, formal já disse, portanto não se assustando com nada. Sentamo-nos e depois guia-me no preenchimento dos campozinhos no sítio lá do portal, vai falando baixo, está sempre serena (adoro ver e com sua licença também tomo notas). Voltei lá na semana passada. Como cheguei uns minutos antes da hora marcada apesar das voltas para estacionar o carro decentemente, fui ao café da fieira de prédios tomar um. Dali são meia dúzia de passos até alcançar a porta, que empurrei, lá vem ela do fundo dos papéis, o sorriso cordial, boa tarde, como está? Cumprimentamo-nos, já se sabe que é beijinho beijinho mesmo na formalidade, eu parece que com receio de a incomodar na sua paz.
- Esteve a tomar café.  
- Estive…
- Nota-se, cheira.
- Ah, desculpe…
- Desculpe nada, que eu adoro esse cheiro, adoro! Uma pessoa até fica com outra disposição!
E depois, sim, claro que desatou os nós que eu levava, a carta da AT que agora não escrevo por extenso e que vinha bastante amachucada de eu tanto a estudar, pois então preenchemos os campozinhos, escrevemos uma situação, ela explicou-me por que motivo recebi aquilo, é normal, nada a temer, saio daqui sempre mais leve. Mas desta vez teve Ricardo Araújo Pereira, mixórdia de temáticas, Facebook, Facebook!, férias e afins, idades dos filhos respetivos e características inerentes, uma ou outra cena familiar, enfim, estive vai não vai para lhe dizer que adoro óculos de massa vermelha, ela tem uns, mas isso fica para a próxima.

Que não sei quando é. Só sei que a seguir a um café.

(Este post tem um erro, mas é difícil de descobrir - não tendo sido propositado, não o corrijo, a ver se alguém o quer encontrar)

12 comentários:

  1. Olá Susana, sabes lá tu o que eu me pelo por desafios ortográficos! (diz-me só que não se trata de um "erro" relacionado com a salsada resultante da suposta aplicação do alegado AO, pois nesse caso não me darei ao trabalho. Caso contrário, dar-me-ei ao prazer!)

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    1. Claro que iva merecia ser IVA, mas não é esse o erro. Nem é erro ortográfico ou de sintaxe (o que não significa que não haja algum destes), ou da salsada - lindo - resultante do AO ao qual eu tento aderir respirando fundo, mas refiro-me a um erro do tipo incongruência.
      Talvez até seja um preciosismo meu, não sei. A ver se alguém o apanha, caso não, eu revelo. :-)

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    2. Ah bom, assim já ali vou respirar um bocado e volto mais tarde... de incongruências também gosto, confesso, mas dão mais luta, as manhosas. ;) Até já.

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  3. (mau, já li o texto "algumas" vezes e não estou a encontrar o erro! Querer eu quero, porra, mas não consigo, é por estas e por outras que não vou naquelas conversas dos optimistas desenfreados que querem fazer-nos acreditar que blábláblá tu podes tu consegues!, ainda por cima as minhas veias obsessivo-compulsivas, mais as paranóicas e as psicóticas, estão a começar a ferver, alguém venha pôr termo a isto, acudam-me, se faz favor!)

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  4. ("saio daqui"?)

    (merecias que te confidenciasse teres sido responsável pelo meu primeiro cigarro do dia, prematuro, que não costuma ser tão cedo. Fui apanhada em flagrante na varanda, "Tu, aí?"... )

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    1. O erro vou dizer qual é (para evitar mais cigarros extra) - eu digo no post que empurro a porta diretamente da rua. E empurro, só que ela não abre. Só abre quando a puxo.
      Eu estava (e acho que ainda estou, mas não consegui confirmar) em crer que certos edifícios devem abrir as portas no sentido da evacuação (segurança contra incêndios), ou seja, para fora, para a rua, mas pus-me a pensar bem e conheço imensos edifícios de espaços comerciais que abrem a porta exterior para dentro.
      Até fui consultar a legislação, mas não fiquei totalmente esclarecida quanto a isto, há muitas nuances. Portanto, olha, acho que te devo um pedido de desculpas. Desculpas?
      (mas ainda vou averiguar melhor, que agora fumava eu um ou dois cigarros, se fumasse) :-)
      Um café, no entanto, já vai.

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    2. ahahahahahahahahahahah

      acho que nunca mais lá chegava, que eu até sou daquelas que empurra quando diz "puxe" e vice-versa...

      (café são só dois, logo de manhã, um a seguir ao outro)

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    3. Isso não vale! Só tu própria poderias descobrir o erro...
      Estes desafios de verão estão cada vez mais complexos.

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    4. Isso é porque o erro afinal não é bem erro erro. Caso contrário, havia de ser muito mais giro!
      Mas que há desafios de verão muito mais incríveis por aí, ai há!

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  5. Eu estava mais inclinada para esta parte: "a possibilidade de acreditar, quando de lá saio, que sou uma contribuinte feliz."

    Ora, será isto possível????
    :)

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    1. E seria uma excelente inclinação.
      Mas sabes, eu acho que sim, que é possível. Tenho sempre esperança. Aliás preciso de a ter, é mais isso.
      :-)

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