a voz à solta
02/12/2023
Valeu a espera
Bombas de água
13/11/2023
E tu, que encontras assim de tão giro no teu caminho?
25/10/2023
Então bom dia
12/10/2023
Mas bom dia
27/09/2023
Sempre o mesmo post
A esta hora da manhã, com o despertar dos elementos, devia estar a fazer a caminhada. O céu tinge-se devagarinho de azul claro e os últimos veados recolhem-se para os escuros mais escondidos da floresta de eucaliptos e alguns carvalhos, castanheiros e por vezes pinheiros. Quando, após rodar a chave na porta muito devagar para que o estalido do mecanismo não espantasse a caça, saí para o terraço, ainda vislumbrei três ou quatro a dissiparem-se na frescura com as suas pernas finas, muito elegantes, a correr. A caça mas apenas com os olhos e o espanto que sempre me sobe à cabeça de cada vez que vejo um animal daqueles. Os javalis também têm dado à costa em grandes quantidades, deixando o terreno aqui ao lado completamente revolvido. Ontem à noite, e anteontem, era toda uma família mesmo junto à casa. Punham-se em aflição quando nos aproximávamos e corriam doidos, ali muito, a fugir para vários lados ao mesmo tempo. Os javalis são um bocado desorganizados. Adoro isto imenso, mas por outro lado, a coragem para ir caminhar no escorvar do dia e da luz no meio da bicharada vai-me faltando. Portanto fico em casa a engordar mais um bocado.
Tenho então o projeto de comprar uma
passadeira para ir passando o inverno (passo o termo) a fazer caminhadas sem
sair do mesmo sítio e sem me rodear de barulhos no meio da vegetação,
acompanhados de roncs completamente sugestivos mesmo ao pé de mim.
Mas ainda não percebi se gosto do livro que ando a ler muito depressa. É de uma autora islandesa cujo nome começa com Yrsa e o resto é uma espécie de Dvttoril£oredi§tºr. No entanto, foi exatamente por ser islandesa que me deu para isto, tenho curiosidade. Acho que a Islândia é um lugar onde nunca quererei ir, está cheio de mistérios cavernosos, tristeza, escuridão, frio e morte (talvez não devesse ter lido o Desumanização do querido Valter). O livro é supostamente do meu estilo despreferido: thriller. Por isso não sei se gosto ou se no fim chorarei os vinte e tal euros gastos na obra, comprada na Bertrand do Vasco da Gama, numa tarde de fraqueza.
E agora vou teletrabalhar, que o dia já nasceu todo.
13/08/2023
Caputh
12/08/2023
Estação de serviço
10/08/2023
Bisando
15/07/2023
Café e leitura
08/07/2023
Dois pedaços bicudos da sua própria tablete
No fim, para a sobremesa, disse ao empregado que queria algo de chocolate mas maneirinho, nada enorme como é costume naquele restaurante de estrada para camionistas de veículos muito pesados passando velozes com inscrições do género “o seu parceiro na zzzzzzzzz” a última parte, aquela em que iríamos saber em que ramo da tecnologia o veículo de grande porte é nosso parceiro, não se consegue ler, porque o camiãozão entretanto já desapareceu da nossa vista cansada, mas dizia eu que revelei os meus apetites por algo de chocolate mas de tamanho adequado à minha envergadura, ao que o empregado fez que sim com a cabeça e afastou-se com ar de quem sabe perfeitamente qual a sobremesa ideal para mim. Surgiu com dois pedaços bicudos de chocolate amargo com caramelo e pepitas de sal tirados da sua própria tablete (e não incluídos na conta). As coisas que acontecem em Penela, dois.
Nem sempre valem pela comidinha
Um casal de meia idade com ar de não-penelenses, ela de cabelo louro pintado e ele de cabelo branco farto, muito penteado, ambos bronzeados e bem apessoados, sentou-se na mesa atrás de nós. Encomendaram de véspera o famoso bacalhau à Pastor segundo informação veiculada pelo empregado, prato que consiste numa posta do tamanho de um tabuleiro de xadrez mas com o triplo da espessura do mesmo, o bacalhau soterrado por uma camada de maionese da ordem dos centímetros. O empregado informou-nos ainda, enquanto pagávamos a conta, que o casal é italiano. Vieram recentemente viver para cá e trouxeram os seus, atenção, estais sentados? Sim? Então vamos lá: os seus dezassete (17) cães e oito (8) gatos de Itália. Diz ainda o nosso informador que alugaram um táxi italiano daqueles assim (e faz uns gestos com os braços que parecem indicar um táxi muito comprido) para trazer a canzarrada toda e presumo que a gataria também - os gatos devem ter adorado a viagem – até aqui. As coisas que acontecem em Penela.
19/06/2023
Bibió
05/06/2023
Um garfo!
Quando
saí do cliente já passava um bocadinho das seis horas. Abri a
porta do carro ao sol de junho, que aqueceu ali todo o ambiente por fora e por
dentro, especialmente por dentro. O casaco foi despejado sobre o banco de trás
o mais depressa possível, as mangas arregaçadas e as mãos metidas ao volante,
claro, mas só depois de espetar o dedo no botão com o AC inscrito. Senti um
alívio suave e estaladiço com pepitas de chocalhos de alegria pelo caminho de
regresso. Não tanto pelo refrescar da envolvente como pelo sossegar de uma
breve missão cumprida e alguns feriados no horizonte. Assaltou-me, ali ao
quilómetro vinte e dois, uma vontade aguda de beber uma cerveja deliciosa agarrada a um livro acabadinho de comprar na feira. Mas musiquei o habitáculo com
qualquer coisa nova respeitante a portas giratórias, uma oferta da Antena 1.
À noite virei-me para a televisão numa de já-que-aqui-chegámos e para encher com chouriços a paz habitual. Foi o suficiente para bater os olhos num anúncio de comida para gatos exibindo um prato com pedaços suculentos, cozinhados lentamente (disseram), em molho, e um garfo disposto ao lado do referido prato. Com certeza isto é capaz de serem se calhar ideias completamente espetaculares da inteligência artificial.
03/06/2023
Mais um topo de telhado (atirado ao rio)
Foi uma noite abençoada. Dormida até às 9h50 de acordo com a eletrónica de que me faço munir durante a noite. Nove e cinquenta, para o caso de os algarismos impressos não conseguirem fazer solos com o efeito pretendido. É que ontem escarafunchei os pés dentro de um par de elegantes sapatos de doze andares e por isso terrivelmente difíceis de domar, seja na calçada portuguesa seja lá para onde eles me levem. E isto mesmo com o uber a deixar-me ali a roçar os degraus da entrada do lugar doido que começa numas escadas estafadíssimas pelo tempo mas dispostas a levar-nos até ao – adivinhar em coro – sim: topo de telhado!! Portanto havia que dormir imenso para que os pezinhos, (não na areia, porém) aborrecidíssimos com o efeito dos sapatos verticalmente caprichosos dançando Tina Turner (you really were simply the best) à vez na noite muito a cair para cima do Tejo, pudessem recuperar praticamente toda a sua forma já que hoje terão de dar o seu melhorzinho na belísisma festa da minha também abençoada irmã.
13/05/2023
Ou a ideia é transformar quem leia qualquer coisinha futura em atrasadinhos totais?
A cada notícia a urgência intensifica-se. Há que comprar o maior número possível de livros o quanto antes. Livros que ainda trazem os adjetivos inteiros, as possíveis ofensas, as cenas maradas, livros completos, autênticos. Não submetidos aos atuais critérios de censura, frutos de uma surpreendente ausência de cérebros capazes de pensar. Poucas coisas me entristecem tanto como a amputação dos livros que parece querer anunciar-se no horizonte.
Um bocadinho mais de inteligência, por favor. A sério, vá lá.
06/05/2023
Verde pistachio
Amena corçaqueira
Como queria pegar ao trabalho o mais cedo possível, fui caminhar ainda o relógio andava pelas seis e tal, quase sete. Já fora da aldeia, onde a manhã se encheria de quietude não fosse a primaveril sinfonia dos pássaros, num tímido ramal de terra e muita erva fresca a estender-se a partir do caminho principal na direção do vale, está uma corça macho de porte bastante jeitoso e galhardas hastes, ali toda a olhar para mim como se eu fosse um bicho. Parei a apreciar-lhe a beleza natural quase sem respirar, mas o bicho, ele sim, achou melhor dar meia volta e correr para dentro do bosque de eucaliptos o mais depressa possível, não fosse eu trazer algumas ideias maléficas. Talvez tenha ido chamar reforços, porque muitos minutos depois, quando eu já venho no regresso, estão três exemplares estacionados no meio do tal caminho principal, utilizado pelo carro do padeiro inclusive, ali como se em amena corçaqueira, que é a cavaqueira das corças. De novo parei para observar o espetáculo que me estava sendo dado pela segunda vez na mesma manhã e agora em triplicado, mas os atores optaram por abandonar o teatro das operações e correram outra vez o mais depressa possível para dentro do bosque de eucaliptos onde um ou outro carvalho ainda marca presença no meio da paisagem.
(benditos aqueles que, após os cervídeos terem sido extintos pelos caçadores no final do século passado, introduziram uma centena destes animais na serra da Lousã e agora são aos milhares e encantam-me muito - não sei a quem devo agradecer, mas gostava muito)
27/04/2023
O verso (sem meta por favor)
25/04/2023
Feira popular
Acabei finalmente “Os irmãos Karamázov” de Dostoiévski, primeira parte. Falta a segunda, que é maiorzinha. Mas vai ficar para depois. “Os irmãos Karamázov” é uma obra muito muito à Dostoiévski, maravilhosa e densíssima. Algumas passagens de filosofia sobre a religião aborreceram-me imenso, mas não saltei nada. O problema é meu, uma vez que também tenho a minha dose de feira popular e anúncios de televisão. Peguei, entretanto, em mais um da Clara Pinto Correia, não sei quê dos caminhos. Os livros dela têm títulos ocos que nem eu memorizo com facilidade e capas muito feias, mas são tão bons.
22/04/2023
Pão sem manteiga
Quando, pouco passava das seis horas, o dispositivo retangular a que chamo telemóvel (senhores, arranjar nova designação) me caiu na cara dando-me o flanco lateral, nem a capinha transparente, flexível e algo amortecedora, comprada no chinês de Penela, me aliviou a dor no osso facial. Normalmente este género de quedas próprias das leituras matinais na caminha são muito menos acutilantes.
Mas acabei de ler
o artigo do Expresso, li outros dois do Página Um (hoje o Tiago Franco
desiludiu-me um bocado ali no remate final), e levantei-me. Pela janela via-se que
a noite já tinha saído, mas o dia ainda estava a tentar emergir das nuvens. Vesti
o grosso robe de chambre cor de fumo e fiz-me à escada. Na cozinha preparei um
café de filtro e meio pãozinho de ontem. Torrei-o ligeiramente e meti-lhe dentro
uma elegante fatia de queijo light. Manteiga nem pensar, evidentemente. Lá fora
sei que está frio. Abro o trinco devagar, prolongando o estalido para não
espantar algum veado que pudesse andar por ali a alimentar-se de erva fresca e
saio para o terraço. O ar está carregado de humidade e as cadeiras ainda estão
molhadas. Veados não se vê nenhum, devia ter vindo mais cedo. Passo os olhos
pelo vale envolto em neblina onde os pássaros chilreiam à falta de primavera. A
minha rica ideia de tomar ali o café da manhã desvaneceu-se para dentro. Torno a
fechar a porta devagar. Ao subir a escada, noto que, agarrado ao vidro da
janela alta, do lado de fora, está um grande caracol de antenas no ar seguindo direitinho
na vertical, muito lentamente.
04/04/2023
01/04/2023
Notas a mil
20/03/2023
Red Band
19/03/2023
O animado cãozinho
Esta noite foi a pior desde que há registo pela equipa de monitorização relógio & telefone, ambos espertos. Mas estou de acordo. Estive para adormecer até às três e meia, hora em que olhei para os números luminosos pela última vez antes de ser finalmente capaz de abandonar o estado de vigília. Por isso, de manhã, o arranque foi por partes. Por exemplo, pus-me a andar ou, por outras palavras, fui caminhar. E, como ainda não havia introduzido as planeadas alterações no percurso habitual para fugir às manifestações de intenção de ataque do cão velho, preto, grande e rabugento, avancei por ali fora, continuei em frente! Sim, passei o local onde ultimamente, ao avistar a fera, volto para trás obediente à vontade do bicho e entretanto também à minha porque não me apetece imenso ter a pele rasgada por dentes caninos, nem sequer as calças. Mas como dizia, hoje segui em frente. Não por ter tido um ataque de grande valentia, mas porque o animado cãozinho não estava lá.
16/03/2023
Uitschudden*
14/03/2023
Quatro galinhas
13/03/2023
Alterações de percurso
12/03/2023
Olá Chat(inho)
Desconfio que a enormidade de visitas que este blogue tem tido ultimamente já não são mero lixo convencional de cliques atirados para ali ao acaso por motores potentes mas sem rumo nenhum de jeito, mas sim – atenção! - o famosíssimo ChatGPT (um qualquer da família serve) que anda a vir aqui frequentemente petiscar assuntos vários para construir as suas rápidas e artificialmente inteligentes respostas. Caso contrário, como explicar tanta visita maluca por dia num singelo e meio-abandonado blogue?
06/03/2023
No comboio
05/03/2023
Não cortas as unhas aos gatos?
07/02/2023
Dia de folga
Era domingo e tinha chovido toda a tarde. Quando peguei no carro estacionado debaixo da buganvília sem flores nem folhas, já a noite havia caído. Fiz-me à estrada serra abaixo e Portugal abaixo com destino a Lisboa, onde iria trabalhar presencialmente no dia seguinte. Parei – como tantas vezes – na estação de serviço de Santarém, que é mais ou menos a meio caminho. Ao entrar nas instalações sanitárias, fui recebida por uma quantidade não habitual de sujidade, com falta de papel higiénico e cheiro duvidoso a pairar. Mas ia concentrada em entrar no cubículo que escolhi para o assunto que ali me levou sem tocar nos bordos da sanita com o meu belo e novo casaco compridinho. Em princípio consegui (ainda não estou assim tão gorda, embora quase) e só depois me caiu a ficha, ou seja, me dei conta da situação ali toda esquisita. Não é costume, realmente. O costume é estar o chão limpo, o ar cheirando a detergente de lima-limão ou frescura da montanha e haver papel higiénico. Mas então penso um pouco mais a fundo e batendo com a mão na testa recordo a mim mesma: é dia 1 de janeiro! As pessoas da limpeza (ia escrever senhoras da limpeza) também têm direito a ter este dia de folga!
Saí dali mais contente. As pessoas que limpam as sanitas, o chão e outras porcarias, pelo menos não o fazem no dia 1 de janeiro. E nós, as que não o fazem é nunca, temos oportunidade de sentir a falta do seu trabalho que é tão importante. Essencial. Devia ser um trabalho muito bem pago.
06/02/2023
O puma das neves
Hoje dei boleia à Clara depois do trabalho. A distância que percorremos é tão curta que, se ela caminhasse, chegaria mais depressa à estação. Àquela hora, o rosa crepuscular já no tom da noite, deslizamos devagar na fila compacta, de semáforo em semáforo. Mas como dá para alguns minutos de conversa, eu ofereço a boleia e ela aceita-a. Hoje ia especialmente contente para apanhar o comboio. Mal se sentasse, pegaria no livro que começara a ler de manhã. Perguntou-me se eu o conhecia. É sobre o puma das neves, um felino que vive em terras geladas, muito altas, num lugar que me pareceu inexistente, na China. Houve ainda tempo para ela me mostrar no ecrã do seu telefone como é o puma das neves. Eu estava a imaginá-lo todo preto, mas não. O puma das neves é malhado sobre um fundo de pelo esbranquiçado. Fiquei com vontade de ler o livro.
(realmente estou no trabalho certo)
Errata: onde se lê puma deve ler-se pantera.