O pavimento está molhado, choveu de noite. Há mais carros nas ruas da cidade, o trânsito inferniza-se, emite buzinadelas. Não sei se é o Natal com os efeitos perniciosos de nos instar às pressas na direção das promoções, agora que finalmente nos livrámos da sexta-feira preta, uma estranha e longuíssima sexta-feira.
Ou se é de mim que estou mais olhuda. Acabada de sair de dois livros que li sofregamente, um a seguir ao outro, e até a roubar tempo ao estudo, estou em penas. Queria ficar numa história onde se cabe tão bem.
Com a vista desfocada numa poça de água sobre o asfalto lá fora, ocorre-me outra vez que a vida é mas é brutal. Existir, ser aqui, mesmo chocalhada pelos arrancos do autocarro em hora de ponta metido entre um condutor nervoso e outro chateado.
Para baixar um pouco a intensidade disto, evitar sorrir parvamente do meu assento para o ar húmido que embacia os vidros, enuncio mentalmente três coisas que não me ajeito a fazer, nem passado tanto tempo.
Compor flores numa jarra.
Escolher os cortinados certos, muito lindos.
Fazer belíssimas resenhas de livros.