a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

16/11/2025

Ó pá, sim.

Então o que temos hoje?
Temos o Astérix na Lusitânia sob investigação. 
Adquiri o meu exemplar no coração de Coimbra e li-o quase todo dentro da loja ainda sem o pagar. Havia lá uns sofás jeitosos onde leitores e acompanhantes podem descansar os ossos e dar alimento à cabeça.

E foi ali mesmo que decidi iniciar uma investigação baseada numa curiosidadezinha: como raio será que nas outras línguas traduzem o nosso muito querido e abundante "Ó pá"?

Os resultados da investigação já estão disponíveis para dois casos:
_#ocasoespanhol: "Ó pá" não traduzido, simplesmente ignorado,
_#ocasoholandês: idem, idem.

Estamos lindos. 
(mas em princípio continua) 

12/11/2025

Manuel Cargaleiro, chama-se ele

A velha mala azul-sujo apareceu no tapete de entrega do aeroporto de destino carregadinha do Cláudia.
Ou da Cláudia, se esta foi categorizada em tempestade e não na turma dos furacões ou tufões. 
A Cláudia choveu para ali toda na pobre mala à porta do avião e à beira da partida. Dentro dela já não ia o computador, que a tempo retirei. O felizardo viajou no aconchego do meu lugar à janela. 
O problema foi o livro. Como o deixei ficar dentro da velha mala azul-sujo, apanhou a senhora molha da Cláudia, que trespassou em grande para os meus pertences. Coitadinho, vinha ensopado. Um livro que custou caro, está devidamente marcado e sublinhado, anda a estudar comigo há vinte meses e prepara-se para outro tanto e não mais, pois aqui a viajante incauta pretende passar nos exames todos à primeira. 
É o que dá o querido aeroporto de Lisboa abençoar as malinhas que à porta do avião são desviadas para a barriga do mesmo e ficam ao relento sabe-se lá quanto tempo à espera dos handlings, pá. 
Poças.

(Manuel Cargaleiro é o nome do avião, um A320 neo, para o caso de interessar) 

22/10/2025

Diamantes

Tinha rebuçados na lista de compras. O boião de vidro transparente, pousado na mesinha da sala, estava deles nas últimas.
Então, no dia seguinte, o Continente da Lousã apresentou-se capaz de uma oferta bestial e variada para se poder optar imenso. No processo, pronta e já de cabeça inclinada às prateleiras, batem-me os olhos num belíssimo saco de diamantes. Que são, sabemos, os rebuçados melhores do mundo a seguir aos caramelos. Pois agarrei-me a ele com as duas mãos porque uma só não podia: o saco deitava bom corpinho e ainda reluzia sobre as grandes iluminações do espaço, estava atraente. 
Em casa, deitei-lhe o conteúdo no boião, mas guardei alguns diamantes para trazer comigo. Na mala, no autocarro, no escritório, no comboio.

Resultado: a sala ficou mais rica, por um lado e, por outro, fiz quatro colegas felizes na reunião da tarde com a degustação e bastante barulho no comboio da noite durante a desembrulhação.

Não sei se estão a ver. 

21/10/2025

Esta manhã

Fiquei com remorsos de ter insultado a gare do Oriente no que respeita ao seu aroma dominante.
Portanto, esta manhã é hora de repor uma verdadezinha. Esta manhã, ali num ponto completamente específico mas ao ar livre (e à chuva), a gare do Oriente cheira a um grande e bem servido prato de papa Cerelac.

(e uma pessoa, mesmo que má-língua como eu, fica logo ali toda cheia de infância) 

14/10/2025

o mesmo post outra vez

Aquilo da carruagem que ontem muito marota se tresmalhou do resto da família quando todas agarradinhas umas às outras iam a caminho de Faro, pôs alguns passageiros de hoje - na composição de material circulante que, ao deixar Lisboa, logo travou imenso a fundo atirando um senhor magrinho que falava português e francês com os óculos na cabeça para cima de mim - um bocado nervosos.
Depois - o comboio cheio de alarmes uma data de tempo ali parado até os homens da cp virem com um ar sábio e apressado munidos de chaves enfiá-las em furos cegos e assim acabando com a chinfrineira - lá rodámos nos carris em marcha atrás devagarinho reentrando na estação para apanhar passageiros que haviam ficado aos gritos a correr na plataforma segundo o senhor magrinho que falava português e francês, caiu para cima de mim na travagem, e esteve muito atento a toda a problemática.