Então vou a descer a serra, contorno as curvas com muita cautela, pescoço esticado. Sei de conversas anteriores que esta condutora tem tido algumas batidas nestas curvas, sempre, segundo a própria, culpa desaforada de outros. Mas tive sorte, nada de vizinha inglesa serra abaixo (eu), serra acima (ela).
Fui apanhar nos serviços competentes o novo cartão de cidadão da minha filha Saminhas, logo depois de estacionar o carro mesmo em frente à porta e - já agora que estou a ser assim esquisitinha - de graça. Ao entrar na secção dos serviços, sou reconhecida e tenho direito a bons dias personalizados. Não deu para aquecer a cadeira em que me sentei, logo fui despachada com prontidão e simpatia. Assim, sem menos.
No regresso a casa faço a subida que há pouco desci ainda pensando na vizinha inglesa e no seu botox. Juntei ao pensamento a colherada de azedume que ela serviu há dias ao senhor Valério. Ele tinha vindo prestar-nos um serviço de jardinagem para o qual precisou de encostar a carrinha de caixa aberta à lateral da nossa cerca. Quando a vizinha inglesa chegou de qualquer outra situação lá dela, estacionou o seu carro que já sabemos ter o volante no lado errado de forma a tapar a passagem à carrinha do senhor Valério. Acrescentei ao meu pensamento (ainda não acabei de subir a serra, hã?) o pedido deste senhor à vizinha, que eu ouvi de dentro de casa como soando cortês, para ela por favor tirar o carro dali, era só um bocadinho, etc. Ela respondeu-lhe que isto é tudo dela e se ele quisesse que passasse por cima.