Por um lado, vê-se perfeitamente que este blogue atingiu a
saturação, absorveu o seu público e estagnou, começou a escorrer pelas paredes
na forma de substância viscosa, um cansaço que dava para uma poesia negra que
eu não sei qual é, mas sei que falar do blogue é giro, liga as pessoas. Porém,
antes de lhe fazer um shifting ou um lifting, ainda não decidi, vou fazer o
meu jantar e mantenho vivo o bloguezinho.
Por outro lado, tem estado uma dourada embrulhada num saco
de plástico em cima da bancada da cozinha nas últimas horas a perder o frio que
trazia, completamente morta. Isto interesse ter não tem, mas que sabe bem
escrever, ai sabe.
Talvez não seja mal pensado acrescentar que ontem à noite fui a
Cascais e quando saí do carro deixei de ver onde punha os pés porque o meu
cabelo que não é lá muito curto, se meteu todo em frente da cara, dos olhos, enrolou-se
no pescoço que eu senti, o vento soprava muito forte e mudava de ideias em
termos de direção a tomar em cada segundo, portanto eu tive de segurar os meus
cabelos com as duas mãos para atravessar a estrada em segurança e ainda bem. Porque
consegui ver pelo canto superior do olho direito um caixote de papelão aberto
num dos lados, tipo pronto-a-usar-em-estando-quieto, a voar como se fosse um
caça acrobático em queda picada na minha direção, ao que baixei a cabeça num
instante para não ficar encaixotada em Cascais, o caixote arrastou-se depois,
perdedor, pelo alcatrão fora a mando do ventão que estava, eu com as mãos na
cabeça – aproveitei que já lá estavam a segurar o cabelo e disse valha-me deus
mantendo-as ali por ser bastante apropriado - e logo a seguir o caixote tentou
fazer-se a um carro que travou a fundo à boca do malandro, posso dizer quase
entrou dentro dele, havia de ser um carro encaixotado em Cascais e falta só dizer que não era
propriamente um carro enorme.