a voz à solta
31/12/2020
Para a Maria
O gato
30/12/2020
Policultura (ao contrário dos eucaliptos)
19/12/2020
Mondkapje
07/12/2020
Uma miséria de passos: estava a chover
28/11/2020
De primeira
24/11/2020
o que um cochilo curto na nomenclatura da eletrónica pode fazer
Com um cochilo curto pude arrumar o cérebro por dentro. Vinha desengonçado, a apitar um bocadinho, da manhã prematura arrancada à noite (outra vez, outra vez, outra vez). Ali a criar um rasgão nela, apanhada a dormir deste lado do mundo. Mas foi um esforço louvável, coitadinho. Não nos esqueçamos que já não vai para novo. Adoro este meu cérebro, ele é um amor (além de que preciso mesmo dele). Mas esticá-lo desta maneira é que vai lá vai, como dizia a Carla. Lembro-me imenso da Carla por causa dos seus dizeres adoráveis. Só que nunca mais a vi.
A tarde já está posta por ordem. Ali toda de fora da janela, brilhante de um sol
tangente mas vivinho da silva, embora por estes lados não haja muitos, é mais
um jan van boos, um karl koeiebomen, um martin zijnidee. Por mim, e é isto ao que viemos, afinal, o
valter hugo mãe ganhava mas é o Nobel já para o ano que vem para não perdermos
mais tempo.
24/10/2020
Aspirador(a)
Ainda por causa desse mistério enervante que é a poesia: já sei! É ao ser depositada, desenrolada ou assentada em torno de um objeto funcional, completamente desprovido de alma, liso como um decreto-lei, cinzentinho qual declaração para as finanças, ainda que absolutamente indispensável, é nessa altura, dizia-se, largura ou comprimento que a poesia mais descansa, respira e rejubila. Porque aí ela pode, então, deixar o seu papel de exceder tudo, todos, o espaço, o tempo, a soberba canseira, aí pode a poesia descansar, repetimos, respirar e rejubilar, também. Se, por outro lado, a obrigarmos a ladear uma doce beira-mar, a pôr-se com o sol, cintilar com a lua ou ainda dançar ao vento primaveril, ou, coitada, a fazer parcerias de fusão com o amor, que amor, ela terá de duramente lutar para não se ofuscar. Nem mesmo quando é servida em rimas tipo isto assim.
Quarenta e nove horas
15/10/2020
O prato, ainda
13/10/2020
Dá até medo a poesia
12/10/2020
Parvo outono triste
Caminho pela sombra do prédio que me fica bem à direita de quem vai a descer. Levo o cuidado único de guardar largura de passeio do outro meu lado para quem quiser ir à vontade; não direi que vou cosida à parede mas é por poucos centímetros. Subitamente sinto um cheiro forte a roupa lavada. Um cheiro tão lindo a sábado de manhã como se a caminho de tomar um café e ler o jornal na esplanada ao sol a gente fosse. Um cheiro metidinho que me desacelerou o passo, que é de uma segunda feira, e me levantou a cabeça cheia deste parvo outono triste. Por cima de mim, nas cordas para o efeito, está uma velhota à janela estendendo roupa lavada de confirmação. Um lençol está sendo ajeitado, dependurando já bastante, as mãos que saem das mangas de um robe de chambre cor-de-rosa vigorosas na tarefa. Não ameaçada de levar com uma dobra de lençol molhado na cara, que para alguma coisa há de servir não ser altíssima, devolvo o olhar ao chão mesmo a tempo de bater os olhos numa fronha da mesma família deste lençol, muito caída, em baixo, bem aninhada no canto do prédio como se quisesse esconder-se por não saber trepar a parede de volta à janela de origem. Paro, então. Olho de novo para cima e digo à velhota que deixou cair uma fronha. Ela sorri-me toda experiente daquilo e confirma, deixei, eu sei. Não fosse a imposição vigente neste outono que já disse triste, e parvo, e eu seria pessoa de se oferecer para lhe levar a fronha caída a casa. Portanto, queridos, apetece-me dizer queridos, retomei o caminho sem nunca saber se a velhota descia à rua de robe de chambre cor-de-rosa vestido ou quê.
26/09/2020
O processo de apalpação
24/09/2020
Um açaime, digo eu
Então liguei à GNR local e passei a mensagem. Expliquei, por exemplo, que em toda a minha vida é a primeira vez que tenho medo de um cão. Ele é altíssimo, descoordenado nos movimentos, penso que até perturbado na sua mente canina e – comprovado agora – morde as pessoas. Anda solto pela aldeia da serra, hoje em dia muito mais habitada, a horas em que a sua dona decide serem boas: os moradores estarão instalados no sofá a ver novelas muito cedo. Tanto que ela se engana. No dia em que corri para compor melhor a distância entre mim e o cão, os seus dentes cravados na minha memória quente, caí num monte de areia e enchi os sapatos dela. Por isso liguei eu agora à GNR local, uma vez que de todos os moradores da aldeia serei praticamente a única nativa e portanto dominando melhorzinho o português. Incluí, até, na minha súplica, a pergunta relativa a querermos nós (o agente da GNR meu interlocutor e eu) que o cão primeiro magoe, por exemplo, uma criança pequena a sério – visto que por enquanto só mordeu - ou vamos fazer já alguma coisa para evitar? Isto resultou. Os agentes visitaram no mesmo dia a dona do cão. Se a visita surtiu efeito não se falará mais deste cão aqui. Caso contrário é provável.
05/09/2020
Uma viagem à feira do livro
04/09/2020
A patine é certa como os impostos e não só (deve ser da idade)
O passadiço que corre quieto sobre o pouco de rio e que na primavera sofreu de uma falha nas tábuas transversais do piso conferindo um perigo ao local, já exibe o remendo que levou este verão em completo acabamento. Por diligência, alguém foi e, a tábua toda novinha era julho, a instalou bem ali, inserida entre as outras, calminhas, sabidas de embeber vapores ao caldo fluvial. Mas ela passou metade do verão espetando-se para sul, uma prancha toda para nada, exagerando num comprimento estimado por excesso. E eis que, já o sol nos dá setembro, o novo inserto de tábua (não pode uma pessoa ausentar-se três semanas) não só está cortada enfim na medida exata, como também revela o início do seu percurso de aproximação às vizinhas em cor e patine! Não fotografei o processo. Doem-me os olhos de muito os enfiar no pequeno ecrã. Olhei antes lá em baixo, toda a vez, os pequenos caranguejos aflitos, sobre leito de lodo morno, sempre laterais na abordagem, eu gostando assim muito deles e sem saber lá porquê.
28/08/2020
Leeuwarden
25/08/2020
Oldeboorn
20/08/2020
Uma amiga de peso
Assim que me viu aproximar da cerca, veio pedir mais maçãs.
(com coisas destas ganha uma pessoa o dia)
16/08/2020
Tormenta
15/08/2020
Qual a média de maçãs por cabeça, já que precisamos da estatística?
06/08/2020
Finalmente o papagaio e outras não histórias
Há um saco de ervilhas geladas a aguardar o naco de frango
ingénuo que se estende nas mesmas condições ambientais destinado a uma sexta
feira ou algum instante imprevisto.
Na descida em direção ao rio noto que o dedo do pé recentemente
acometido daquela última dor sem querer está aconchegado e aí confirmo pelo
canto do olho esquerdo o stock de vasinhos de pimentos coloridos en el kiosk.
Mas este quiosque é esse mesmo! Na volta, já quase a esbarrar
com a procura das chaves de casa, desenfio os auriculares dos ouvidos para comunicar
na manhã ainda fresca. Se faz favor aquele vasinho dos pimentos laranja e logo depois,
enquanto se processa a troca, dedico-me ao papagaio!
(o naquito de maçã que esta ave comunicadora de ideias fixas segura na pata esquerda fui eu que lhe estendi, hã?)
04/08/2020
Uma espécie de não presente
03/08/2020
Desergonómico espetante ou espetador (mas mesmo)
01/08/2020
O brinco estava certo
30/07/2020
Cuidados
29/07/2020
Um (una)
27/07/2020
Dois (apartado)
Acordei três noites seguidas a meio do sono assustada com o provedor de serviços de comunicações. Então escrevi mentalmente, com requintes de ácido, fulminantes, acabamentos em negrito da Hewlett Packard, a carta lagarta demolidora. Feita em três, culminou na fila dos correios. Bom dia.
26/07/2020
Três
25/07/2020
Quatro
avidez
23/07/2020
Saudades do calor humano, é?
21/07/2020
Café da manhã
14/07/2020
Nenhuns baites por segundo
12/07/2020
Incertezas
08/07/2020
Slot aborrecido (ai o itálico!)
30/06/2020
Geometrias
23/05/2020
Rentrée (acho que não dá para itálicos nos títulos)
13/05/2020
Dois metros (continuando numa espécie de matemática)
12/05/2020
Seis horas
06/05/2020
Espécie de matemática
******************************************
Passo os dias ao computador... Já não o suporto e acredito que nem ele a mim. Hoje, depois de uma agarração de quatro aulas, achei de devíamos "dar um tempo". Deixei-o na sala e vim cá para fora apanhar uns raios de sol.
05/05/2020
Desconfinado (com cafeína)
02/05/2020
Um post por dia até ao fim do Corona - 48
01/05/2020
Post do dia 47, um pôr fim ao Corona (até)
30/04/2020
Um dia até ao fim do post por Corona - 46
29/04/2020
Um 45 por dia até ao fim do post - Corona
(alguém aí com filhos na faixa etária da Natacha pode esclarecer? é caso para duvidarmos da existência de laranjas na Rússia ou é caso para quê?)
28/04/2020
Um dia por Corona até ao post do fim - 44
27/04/2020
Um fim por dia até ao post do Corona - 43
26/04/2020
Um dia por fim até ao post do Corona - 42
(a fotografia até me fez doer os olhos quando os pobres bateram nela...)
***********************************
25/04/2020
Um dia por post até ao Corona do fim - 41
24/04/2020
Um post por fim até ao Corona do dia - 40
Catarina Rodrigues
23/04/2020
22/04/2020
Um dia por Corona até ao fim do post - 38
Hoje à tarde saí para ir pôr o lixo na rua. Ela ficou à porta a ver-me fechá-la com a cabeça inclinada e aquele olhar verde. Quando regressei, a minha filha contou que ela correu à janela e ficou a olhar para a rua dizendo brau brau. Não é bem miau. É brau brau. Uma variação muito linda, não sei como cheguei até aqui sem desconfiar o quão encantador é ter um gato. Muito melhor do que não ter um gato. Tanto que me atrevo a recomendar. Vivamente.
21/04/2020
Um post por fim até ao dia do Corona - 37
20/04/2020
Um post até ao fim do dia por Corona - 36
19/04/2020
Um post por dia até ao fim do Corona - 35
18/04/2020
Um post por dia até ao fim do Corona - 34
17/04/2020
Um post por dia até ao fim do Corona - (diga) 33
Já tenho trocado as quartas com as quintas, não falarei sobre o meu peso, sobra-me o que fazer, não vamos todos ficar bem embora muitos de nós sim, só leio até ao fim o que tem de ser ou me agrada, mas isso como sempre, não sei bem o que é um herói, tenho estantes de livros como plano bê para a reforma (mas ainda falta), tenho uma varanda, o que não tenho é unhas para tocar saxofone para a vizinhança.
Também tenho sido razoavelmente feliz por estes tempos. E sortuda, como já é normal.
(entretanto, caso eu falhe nas respostas aos eventuais e simpáticos comentários vindouros, é mesmo por valores mais altos se alevantarem)
16/04/2020
Um post por dia até ao fim do Corona - 32
15/04/2020
31 - Mu tsop rop aid éta oa mif od Anoroc
tudo bem
de certeza mesmo
correr
tudo bem,
ninguém diria,
ninguém, mesmo
vai correr
tudo bem
14/04/2020
Um post por dia até ao fim do Corona - 30
13/04/2020
Um post por dia até ao fim do Corona - 29
12/04/2020
Um post por dia até ao fim do Corona - 28
Félix, meu gatinho lindo, já percebi que és um gato mauzão e super valentão que come ratos e caça tudo o que lhe aparece à frente, mesmo que não esteja confecionado. Agora podemos voltar à versão gato fofinho que se deita de barriga para cima a pedir festas? Obrigada!
(Todos juntos a fazer figas, por favor!)
11/04/2020
Um post por dia até ao fim do Corona - 27
Nada sugeria a possibilidade de aborrecimento em Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf, e, por tê-lo trazido da Feira do ano passado, fresquinho, decidi abri-lo e entrar pela porta da frente, sem derrapar, tranquila e confiante.
Logo de início faltou-me vibração, um saborzinho que fosse. Ou então profundidade, qualquer destes dava. Mas respirando fundo segui em frente. Alcancei o meio caminho com notória dificuldade, o percurso feito aos arrancos. Londres, a luz, os ruídos, as flores, uma festa em mente, outra vez as flores e depois os interiores. Uma personagem por dentro, a seguir duas e depois três. Várias personagens por dentro. Dispersei: toda aquela diluição. Fez-me lembrar o patético que era, na infância, misturar todas as plasticinas coloridas, cada uma linda, própria, vibrante e promissora, querendo obter algo superior, o máximo das partes num expoente ainda mais lindo e apurado, e terminar com uma massa nojenta de um castanho tremendo. (pensei, até, em ir fazer um bolo)
Decidi, então, abandonar o livro. Não posso mais com esta narrativa sabendo-me a mastigado igual.
Provavelmente devo um pedido de desculpas ao resto do mundo. É a terceira ou quarta obra-prima das grandes que não me traz nada, me entedia e depois deixo a meio.
(vou mesmo fazer um bolo)