a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

15/08/2020

Qual a média de maçãs por cabeça, já que precisamos da estatística?

Apanhei três maçãs verdes do chão, com cuidado para não incomodar alguma possível abelha oculta pela curvatura do fruto, não fosse ela virar-se a mim. Mas não. Levei as três peças para a cozinha e lá as parti em pedaços. O dono das vacas disse o mês passado que podemos dar-lhes maçãs, ainda que estas, verdes, intragáveis, desde que partidas em metades, para ajudar a mastigação. Eu parti em mais que metades, ou seja, menos que metades, coitadinhas das vacas. Sabe-se lá. Meti os pedaços  maneiros numa taça e cruzei o jardim com ela até me acercar da cerca. Do outro lado, uma vaca só, afinal. Demorei muito a preparar as maçãs. As outras já tinham ido comer a erva fresca mais para sul. Esta que ficou perto olha para mim e parece que adivinha. Tem a cara cheia de moscas, dá pena. Atirei-lhe então o primeiro pedaço com cuidado para não acertar na cabeça do animal. A minha pontaria não costuma ser excelente. Deu certo. A vaca comeu o pedaço do chão e enquanto o mastigou alguma saliva pendia da sua grande boca. Compreendo, porque a maçã tem um nível de ácido tão forte que faz salivar. Só de pensar já faz.
Atirei outro pedaço à vaca, tive cuidado, e outro e outro, até ficar a taça vazia. Todos os pedaços caíram no chão e todos foram apanhados. A mesma vaca comeu três maçãs inteiras em pedaços, o que parecendo uma contradição, não é. Com isto ficaram outras cinco cabeças de gado para amanhã ou depois não acertar com pedaços de verdes intragáveis maçãs.

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