a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

16/08/2020

Tormenta

Anton já não cozinha para ninguém, nem para ele próprio. Também já não passa as suas camisas a ferro. Nem pode conduzir um carro, como o próprio observou esta tarde, mesmo antes de as nuvens pretas desabarem num pranto elétrico, a água furiosa contra os vidros e ele, observando o exterior revolto, a sete meses de completar cem anos de vida, sorri com a tormenta e acrescenta que está a ficar velho.

2 comentários:

  1. Este post comoveu-me, sabes. Lembro-me deste senhor. Lembro-me de como simpatizei com ele. Tanto. Ou melhor, lembro-me de um post, um post a apresentar-nos este senhor (se não estou a fazer uma grande confusão). A pista, para a memória, foi a passagem a ferro das camisas.
    Para atenuar, agarrei-me mesmo à parte da tormenta em que o senhor sorri, e, diz, quase a completar cem anos de vida, que está a ficar velho.

    Boa noite, Susana :-)

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    1. Não fizeste confusão nenhuma, Cláudia.
      É o mesmo senhor.
      Ele de vez em quando diz que está a ficar velho, é muito engraçado.
      E também é impossível não simpatizar com ele.
      Boa noite, Cláudia :-)

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