a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

21/08/2022

O exemplar

Atracámos o barco num dos pequenos ancoradouros sem plataforma. Lancei o cabo de maneira a apanhar os picoletes do cubo de material capaz de propriedades mecânicas que dão muito jeito, ali firmado para isso, mas só à terceira consegui. Entretanto havia-se levantado um vento fraco do lado onde pastavam uma série de vacas. Quando a embarcação por fim se imobilizou e o ruído do motor deu lugar ao grasnar do bando de gansos cruzando o azul do céu, olhei para o relógio. Ainda faltavam três horas para o jantar no único café da vila. As ideias expressas no TripAdvisor colocavam-se no topo da escala, de modo que a espera prometia. Os homens começaram a pescar e eu anunciei às minhas irmãs que ia reconhecer o lugar e com elas de preferência. A do meio saltou, a rir, por cima da pequena balaustrada para o relvado que ali nos acolhia o meio da tarde e a mais nova, de máquina fotográfica por equipamento principal, tomou mais cuidado ao desembarcar enquanto nos ameaçava com um trilião de palavras por minuto, palavras que, já nós sabemos, ficarão bordadas numa dança em dó maior como se constata no exemplar que mais tarde lhe roubei.