a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

28/11/2020

De primeira

O homem caminha apressado com a sua bagagem de mão por ali fora até se cruzar com a hospedeira de terra. Pelo menos acho que é esse o caso, uma hospedeira de terra. Ela está a organizar as entradas no avião da Portugália, tendo começado pelos passageiros da classe executiva (e bebés). Nunca são muitos estes passageiros e sendo esta uma aeronave mais pequena, claro que menos serão eles estatisticamente. Vai então o homem a todo o gás a cruzar a hospedeira que, tendo já testemunhado o embarque de um ou dois desses passageiros mais raros que pagam muito muito muito mais pelo bilhete de ingresso, se inclina para este e pede confirmação por detrás da máscara, executive class? Eu agora por acaso estou na dúvida se era executive ou se era first class, mas deixemos lá isso, tanto faz. O homem abranda ligeiramente o seu passo veloz e confirma que sim, ele é um executivo (ou de primeira). Ela OK, siga meu senhor toda profissional e isso e o gajo, passou a gajo, pára, volta-se para ela inchado de indignação e diz uma data de coisas zangadas como ferido no orgulho por alguém ter imaginado que ele poderia numa eventualidade super improvável pertencer a outra classe que não a primeira.
Ora agora, que voltámos todos para a mesma gate onde isto se passou três horas antes, porque o sistema lá de voo da aeronave informou à beira da pista que não havia condições para descolar, agora estou toda curiosa a ver se no segundo embarque o gajo também se vai inchar para ali imenso se quem fizer o serviço desta vez não adivinhar à cabeça que aquele passageiro sim senhor, não há dúvidas, aquele passageiro pagou o seu bilhete muito muito muito mais caro e portanto é de primeira. Coitado.

24/11/2020

o que um cochilo curto na nomenclatura da eletrónica pode fazer

Com um cochilo curto pude arrumar o cérebro por dentro. Vinha desengonçado, a apitar um bocadinho, da manhã prematura arrancada à noite (outra vez, outra vez, outra vez). Ali a criar um rasgão nela, apanhada a dormir deste lado do mundo. Mas foi um esforço louvável, coitadinho. Não nos esqueçamos que já não vai para novo. Adoro este meu cérebro, ele é um amor (além de que preciso mesmo dele). Mas esticá-lo desta maneira é que vai lá vai, como dizia a Carla. Lembro-me imenso da Carla por causa dos seus dizeres adoráveis. Só que nunca mais a vi.

A tarde já está posta por ordem. Ali toda de fora da janela, brilhante de um sol tangente mas vivinho da silva, embora por estes lados não haja muitos, é mais um jan van boos, um karl koeiebomen, um martin zijnidee. Por mim, e é isto ao que viemos, afinal, o valter hugo mãe ganhava mas é o Nobel já para o ano que vem para não perdermos mais tempo.