a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

15/10/2021

Não sei quê no aeroporto (como era o título daquele filme?)

Estou em filas de pé há mais de duas horas ininterruptas, eu e milhares de outras pessoas, se não mesmo centenas, no terminal dois do querido aeroporto que está de novo nos termos anteriores mas pior. Então como é lá isso, nos termos anteriores mas pior, perguntam vocês. É que dantes eu já sabia que estar num aeroporto era um desafio à alegria intrínseca de qualquer um, até minha, por isso mentalizava a cabeça e a coisa lá ia, devagar mas ia. Agora não. Agora ainda venho com o espírito habituado ao confinado-covid, pouca gente a viajar e assim, portanto a amargura apodera-se e ataca, especialmente quando ainda temos um atraso para acomodar nos bolsos. E isto sem ir voar naquela companhia aérea vergonhosa com bilhetes a nove euros e noventa e nove como já devo ter dito aqui. Péssimo serviço com ou sem aeroporto à pinha. Mas dá nervos isto. 

12/10/2021

Atualizações

Ao cair do dia de ontem, na sala de espera da oficina onde levo o carro para alterações de estado (de não atualizado para atualizado), vi na televisão local, situada mesmo ao lado da máquina do café, e vi sem querer, a Júlia Pinheiro a fazer um programa de chorar. Décadas me separam dos tempos em que via numa outra televisão, uma que deitava mais corpo em espessura, e via de propósito, a Júlia Pinheiro a fazer um programa de rir. Um que tinha também a Rita Blanco, o Miguel Esteves Cardoso e o Rui Zink. Era um programa de rir para mim. A Noite da Má Língua, assim se chamava, era de coisas sérias, nada de cómico, atenção, mas tinha ali uma alegria dessas coisas sérias e eu ria de gostar do programa. Enquanto ontem aguardava na sala de espera que o carro voltasse, todo atualizadinho, a meus braços (e pernas e mãos e cabeça, etc), olhei a Júlia Pinheiro a despedir-se para a câmara. Tinha a expressão facial torcida de compaixão pela família levada ali por infortúnio de fazer chorar, e eu pensei se estes programas trazem consolo a alguém. Ou se, pelo contrário, distraem uns dos seus próprios males entretendo-os com os males de outros ficando todos na mesma, ou pior. Não percebo nada destas lógicas da televisão. Felizmente o carro chegou com os pneus a chiar, a chamar, todo a brilhar, e eu fui.