Enquanto aguardo que o portão da garagem percorra, lentamente e com um nhéééééc muito conhecido, o
curso vertical que fez sabe-se lá quantas vezes (ninguém sabe), deixo o olhar assentar numa gota de água que desliza do lado de fora do vidro do carro. Não
choveu: a gota resta do esguicho que ali impus para o para-brisas ir limpinho arrumar-se no lugar dele. O portão toma o seu tempo e eu largo a gota quando
ela se espraia na horizontal da borracha limpadora que ali repousa e viro-me para o ouro
lado – lá vêm o pai cego com
a filha adolescente passeando o cão branco de braço dado, conversam. No céu azul um avião segue subindo. O rádio
do carro, que vem ligado desde o centro da cidade, emite a canção que veio
ajustar-se a este quadro e que se pode encontrar abaixo. O momento está no ponto e a cereja do seu topo dentro da mala: levo, quietinha ali, encostada à carteira, à caixa dos óculos e ao pacote de lenços, “A Sibila” de Agustina
Bessa-Luís. Ando deste modo antecipando o prazer que lhe adivinho há dias, porque ainda não demos início ao enlace da leitura eu e ela. Mas, na primeira página esquerda que não foi deixada em branco, posso avançar,
leem-se as palavras “Fixação do Texto”. Não lhes conhecendo o significado exato, ensaio imaginá-lo e é certo que acabarei a pesquisá-lo. Por agora: foram Manuel
Vieira da Cruz e Luís Abel Ferreira os autores dessa outra arte, que o portão
já alcançou o fim do seu curso e o carro deixo-o deslizar rampa abaixo, ele vai muito bem.
(esta canção também me lembra um filme de quinze minutos que vi no verão de 1992, em Sevilha, no intervalo de um calor abrasador que fazia no recinto da chamada Expo, dentro do pavilhão dos Estados Unidos da América - chorei quase convulsivamente, palavra que foi, eu, e acho que toda a gente - gostava tanto de encontrar esse filme)
de que tratava o filme?
ResponderEliminaro filme mostrava cenas da vida, pessoas. pessoas a nascer, a casar, a envelhecer, o ciclo da vida. o filme poderia ter este título "That's Life", mas eu não me lembro que título tinha, só me lembro que foi o filme que inesperadamente mais me emocionou desde sempre. e era um filme tão incrivelmente simples.
Eliminarjá o procurei na net várias vezes, mas não o encontro.
vou procurar também :)
EliminarA nossa bela Miss Smile já o encontrou. Só falta conseguir visualizá-lo. :-)
EliminarSusana, é este o filme que procuras, não é?
ResponderEliminarhttp://www.imdb.com/title/tt0236876/plotsummary?ref_=tt_ov_pl
[Também o vi na altura e, tal como tu, emocionei-me.]
Um abraço :)
Sim, sim, tudo indica que é esse mesmo! Caramba, Miss Smile, obrigada.
EliminarSó falta conseguir visualizá-lo. :-)
Outro abraço todo agradecido.
Que bom, Miss Smile já ter encontrado o tal filme.
ResponderEliminarE depois de "A Sibila", quem sabe, até poderá acontecer aqui a tal tertúlia, assim espontaneamente :-)
Boa noite, querida Susana.
Andamos sempre a rondar a tertúlia, um dia caímos mesmo dentro dela. :-)
EliminarA Sibila, Cláudia, é uma correria de leitura, a gente entranha-se e depois sair de lá 'tá quieto. Já leste?
Uma boa noite também para ti :-)
Não Susana, de Agustina, só li, ainda, A Brusca e O manto, mas adoraria ler-vos a "tertuliar" :-) sobre A Sibila, creio que, por aqui, várias pessoas terão lido, A Sibila está para Agustina como o Memorial do Convento está para Saramago.
Eliminar(este comentário é totalmente fora do contexto, mas só porque invejo-vos de terem ido a sevilha em 92!)
ResponderEliminareu não fui à expo 92.
eu era o irmão mais novo e isso era aventura demais para o catraio (diziam eles)
passei o verão com uma neura do tamanho da minha infância!
na lembrança fiquei com a toalha de praia oficial com o curro em ponto grande e um relógio de parede com ventosas tipo polvo que não me deixava dormir com o seu tic tac estridente...
valeu-me a toalha que hoje só me faz sorrir!
( https://i2.wp.com/museodelaexpo92.files.wordpress.com/2017/05/toalla-1.jpg?w=384&h=581&crop&ssl=1 )
É uma bela toalha, não admira que faça sorrir. :-)
EliminarBom, a Expo 98 em Lisboa foi, a meu ver, ainda melhor. E sempre havia menos calor.