19/05/2022

Cajus branquinhos

Achando que ia comprar um saco de lentilhas de uma cor diferente das amarelas, que essas já temos, fui à loja indiana do bairro munida de uma das várias receitas que o senhor de lá me deu há dias. Ele a dar-me receitas e receitas, vegetarianíssimo confessado até na camisola polo que vestia, todas aquelas sem carne ou peixe. Estava meio que a tentar converter-me ali mesmo, tendo rematado o insucesso, após grande conversa sobre comer animais ou lentilhas de todas as cores, a declarar para si próprio que não se pode julgar os outros enquanto encolhia os ombros por eu não ser assim tão fácil de convencer. Já que em princípio continuarei a comer animais, embora não muitos. 

Pois voltei lá hoje com boas intenções e a tal receita na mão, dobrada em quatro. Mas antes fui abastecer-me dos ingredientes que consigo identificar na lista dos próprios: cebolas, cenouras, couve-flor, batata, pimento verde, alhos. Quando por fim entrei na loja indiana ia carregada. Pousei os sacos de pano e compras no chão e desdobrei o papel da receita. Não estava o senhor vegetariano que não me podia julgar, mas sim uma jovem mulher provavelmente da mesma família. Estendi-lhe então a receita pedindo para me fornecer os ingredientes um tanto ilegíveis, este e este, se faz favor, o resto já tenho, disse eu apontando para o desdobrado papel. Ela foi buscar os dois elementos. É só isto que tem de levar, disse, pousando-os no balcão. E realmente enganei-me: não era lentilhas que a receita mandava nos seus estranhos dizeres. Tratava-se apenas de um saco transparente* e avantajado com cajus branquinhos a prometer delícias tremendas e uma caixa com um pó masala não sei quê, que eu nunca tinha visto.

*de plástico, ah pois, sim, sim – mas eu também não vou julgar, ok.

3 comentários:

  1. Eu: É um bocado chato não contarmos nada à Susana, não achas, post?
    Ele: É capaz de ser é...
    Eu: O problema é o tanto que há a pensar e a dizer sobre este belíssimo mote transformado em ti não estar a conseguir organizar-se para a forma escrita...
    Ele: Se não estás a conseguir melhor, creio que, pelo menos, a Susana ficará contente por saber que desassossegou pensamento alheio, que estiveste aqui numa conversa pegada comigo. Afinal, tal como disse a grande Lili, "Estar vivo é o contrário de estar morto", e, provocar sinais de vida nada nefastos, é de grande valor...
    Eu: Ah, "ganda" post! É isso é! Vamos, pelo menos, contar-lhe esta parte do nosso diálogo...

    (também lamento o desamor dos gatos perto de alguém que gosta de cultivar a harmonia. Suas excelências, os felinos, aristocráticos e com natural vocação para a liberdade e independência, são muito assim. Bem, esse desamor já serviu para ser transformado em prosa toda poesia, mesmo ali em baixo, menos mal)

    Um "ganda" :-) (com abraço incluído) para ti, Susana!

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    1. Esqueci-me de pôr o nome, Susana. Sou a Cláudia :-)

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    2. Ó Cláudia, mas eu quando li o teu comentário anónimo reconheci-te!
      Tu presenteias-nos com estes pedaços de boa disposição urdida em linhas cheias da tua traça! O post ficou aqui todo vaidoso imenso tempo a entupir a entrada! Tu ainda estragas este blogue com mimos, vê lá o que é que arranjas... tss...
      Boa semana, Cláudia! 😊

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